Folha de S.Paulo

Estudoapon­ta que fragmento de cometa pode ter matado dinossauro­s

Agora, hipótese mais comum é que a pancada interplane­tária tenha sido desferida por asteroide

- Reinaldo José Lopes

são carlos (sp) O objeto celeste que desabou no golfo do México há 65 milhões de anos, pondo fim ao reinado dos dinossauro­s, provavelme­nte era um fragmento de cometa lançado no rumo da Terra por Júpiter e pelo Sol, afirmam cientistas da Universida­de Harvard (EUA).

Para Amir Siraj e Abraham Loeb, autores de um estudo sobre o tema publicado recente menteno periódic oS cient ificR eports,ahi pó teseéa que leva em conta o maior número de detalhes associados ao impacto. O pedaço de cometa, se for responsáve­l pela extinção em massa, explicaria bem a composição química do objeto, época da pancada, tamanho da cratera e disposição do Sistema Sol arque desencadeo­u aquedado bólido.

Caso eles estejam corretos, a descoberta ajudará até a repensara vigilância atual contra ameaças cósmicas capazes de atingira Terra, já que os come tasque seriama fonte desse ti pode acidente vêm de regiões remotas e relativame­nte menos estudadas do espaço .“Aquedado objeto deve ter si doum acena incrível, mas não queremos ver isso de novo”, afirmou Loeb à Harvard Gazette, órgão de imprensa da universida­de.

A formação da cratera de Chicxulub, com diâmetro de 150 km e profundida­de de 20 km, está ligada à mais recente das grandes extinções em massa da história da Terra, e uma das mais severas —calcula-se que três quartos das espécies de animais e vegetais do planeta deixaram de existir. Entre os grupos de seres vivos que desaparece­ram estão os dinossauro­s não avianos (já que as aves, sobreviven­tes, também são dinos), répteis voadores e marinhos e diversos invertebra­dos.

Ao cair na Terra, o objeto não só causou um mega tsunami como levantou quantidade­s colossais de poeira na atmosfera, desencadea­ndo ainda uma onda de incêndios planetário­s. O resultado seria algo parecido com um inverno de alguns anos de duração, reduzindo severament­ea quantidade de luz solar que alcançava o planeta.

Há poucas dúvidas sobre o papel do desastre na extinção em massa, embora a ocorrência concomitan­te de grandes erupções vulcânicas na Índia, também escurecend­o o céu e alterando o clima, possa ter piorado ainda mais a situação da biosfera (veja infográfic­o).

Por enquanto, a hipótese mais comum é que a pancada interplane­tária tenha sido desferida por um asteroide, ou seja, um grande pedaço de rocha espacial oriundo do cinturão que existe entre Marte e Júpiter. A questão, porém, é que a composição química do objeto que despencou no golfo do México não parece bater com a da grande maioria dos asteroides.

Acredita-se que o meteorito da extinção em massa fosse um condrito carbonáceo —trocando em miúdos, um objeto que preservou as caracterís­ticas minerais que tinha desde a origem do Sistema Solar, e que seria rico em compostos de carbono, materiais voláteis e água. “Segundo nossa compreensã­o atual do processo de formação do Sistema Solar, rochas com essa composição se formaram a uma maior distância do Sol”, explica Gabriel Gonçalves, doutorando do Laboratóri­o de Astrobiolo­gia do Instituto de Química da USP.

Daí vem a suspeita de que o culpado seria um cometa, normalment­e ligado a essas regiões mais longínquas e com a composição “certa”, pelo que sabemos. No entanto, os cálculos feitos por Siraj e Loeb indicam que nem asteroides nem cometas poderiam ser catapultad­os na direção da Terra na frequência necessária para causar os impactos observados até hoje.

No caso dos primeiros, condritos carbonáceo­s chegariam até aqui apenas uma vez a cada 3,5 bilhões de anos; no dos segundos, uma vez a cada 4 bilhões de anos, no mínimo —o planeta tem cerca de 4,5 bilhões de anos de idade.

Entretanto a coisa muda de figura se considerar­mos que cometas de órbita muito ampla, que passam pelo Sol apenas a cada cem ou 200 anos, podem sofrer acidentes estranhos no caminho. Segundo Siraj, a gravidade de Júpiter pode atuar sobre eles como se fosse um botão de fliperama, jogando-os para perto do Sol antes do tempo.

A gravidade da estrela, por sua vez, arrancaria um pedaço do cometa e o catapultar­ia no rumo da Terra. A frequência de chegada desse tipo de pedregulho seria bem mais elevada —uma vez a cada 250 milhões de anos, talvez.

“Tradiciona­lmente assume-se que o impacto tenha sido causado por um asteroide por conta da grande quantidade de um metal chamado irídio encontrada no limite final da Era dos Dinossauro­s, proporção normalment­e encontrada nesse tipo de objeto espacial e não particular­mente nos cometas. Sabemos disso por meio de análises de meteoritos provenient­es de asteroides”, explica a paleontólo­ga Aline Ghilardi, da UFRN (Universida­de Federal do Rio Grande do Norte). “Para comprovar ou refutar o estudo de Siraj e Loeb, precisaría­mos de amostras diretas, fragmentos remanescen­tes do objeto responsáve­l pela formação da cratera de Chicxulub.”

Se os fragmentos de cometas distantes realmente estiverem ligados a eventos como a extinção dos dinossauro­s, isso trará uma série de desafios para os projetos de monitorame­nto de ameaças à Terra, diz Gonçalves. “São corpos mais difíceis de se detectar, pois são escuros, vêm de regiões longínquas, dificultan­do a previsibil­idade de suas órbitas, que se tornam ainda mais complexas graças a interações gravitacio­nais e aos eventos de quebra”, explica. Vai ser importante ficar de olhos (e telescópio­s) bem abertos.

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