Daniel Brühl estreia como diretor na Berlinale
Ator de ‘Capitão América’ e ‘Adeus, Lênin’ comanda e protagoniza o filme ‘Next Door’, que reflete a sua prória carreira
Daniel, personagem do longa “Next Door”, é um ator de origem alemã, que além de filmes pequenos locais também tem uma carreira internacional em Hollywood —e quer um papel numa nova produção de super-heróis.
Daniel Brühl, diretor e protagonista do longa, também vem da Alemanha, onde acumula obras aclamadas que o ajudaram a chegar à indústria dos blockbusters, vivendo, por exemplo, um dos vilões da franquia “Capitão América”.
Qualquer semelhança não é mera coincidência. É o que diz Brühl, por videoconferência, numa entrevista que acontece na esteira da edição pandêmica do Festival de Berlim, nesta semana. Já consagrado como ator, ele se senta na cadeira de direção pela primeira vez com “Next Door” —ainda sem perspectiva de chegar ao Brasil— para construir uma história com a qual ele queria ter uma conexão pessoal.
Na trama, o protagonista vive numa verdadeira bolha, imerso em seu mundo de fama e luxo. Certa manhã, antes de um teste de elenco, ele decide tomar um café e se depara com um homem que o encara descaradamente. O estranhamento evolui para uma discussão. O outro, vizinho que Daniel nem reconhece, começa a vomitar segredos íntimos da vida do ator, fazendo desmoronar seu palácio de perfeição e assepsia.
“Eu tinha o desejo de dirigir algo há muito tempo e eu sabia, depois de tudo o que ouvi dos diretores com quem trabalhei, que você precisa conhecer o assunto sobre o qual vai falar, especialmente no seu primeiro filme”, diz Brühl.
“‘Next Door’ lida com coisas que eu vivi, mas nunca foi a minha intenção fazer um filme autoindulgente, autobiográfico. A proximidade com o personagem foi apenas para me ajudar a contar essa história. Ele poderia muito bem ser um arquiteto ou um músico.”
Quando a tensão no bar onde está a dupla de personagens aumenta, Daniel, num momento de raiva, agarra os cabelos de seu vizinho e arremessa seu rosto apático num prato à frente, deixando um fio de sangue escorrer pela testa do sujeito. O ator-diretor brinca que não, essa não é uma das situações inspiradas em acontecimentos reais.
Mas reflete a intenção seminal do projeto, a de mostrar, de forma hiperbólica, os sentimentos que se acumulam e enfim explodem quando duas realidades tão distintas se encontram num ambiente intimista. Em “Next Door”, um se vê invadido, mesmo escolhendo a vida pública e aproveitando os privilégios que a acompanham. O outro, pisado pelo estrelismo e por um estilo de vida que vai na contramão daquilo em que acredita.
A carreira de Brühl já passou por vários países e pelas mãos de diretores importantes. Ele esteve em “Bastardos Inglórios”, de Tarantino, e em “Rush: No Limite da Emoção”, de Ron Howard. Sob a batuta do brasileiro José Padilha, estrelou o algo decepcionante “7 Dias em Entebbe”. Mas foi o alemão “Adeus, Lênin!” que o catapultou à fama, em 2003. Em duas semanas, ele estará na nova série da Marvel “Falcão e o Soldado Invernal”.
“Eu sempre tive interesse em explorar o máximo de áreas da minha profissão e é curioso pensar o que diriam os fãs da Marvel se eles vissem ‘Next Door’”, reflete. “Eu venho do que chamam cinema de arte, foi como eu comecei e foi o que sempre me atraiu. Mas, independentemente disso, quando se fala em dirigir seu primeiro filme, não podemos voar tão alto. Então recorri a algo mais pessoal.”