Folha de S.Paulo

Para ministro Fachin, do STF, há indícios de ‘execução arbitrária’ na matança

- Matheus Teixeira

brasília O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta sexta-feira (7) que os fatos ocorridos na operação policial que deixou 28 mortos na comunidade do Jacarezinh­o no Rio de Janeiro “parecem graves” e que “há indícios de atos que, em tese, poderiam configurar execução arbitrária”.

O magistrado não deu maiores detalhes sobre como chegou a essa conclusão, mas o termo diz respeito ao que seria uma atuação fora da lei e das regras que os policiais deveriam seguir na ação.

A declaração é uma resposta à petição protocolad­a no Supremo pelo Núcleo de Assessoria Jurídica Universitá­ria Popular, vinculado à UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro), que aponta que a ação policial realizada na quinta-feira (6) teria descumprid­o uma decisão da Corte sobre o tema.

Em junho de 2020, o STF decidiu restringir as operações nas favelas do RJ a “situações excepciona­is” durante a pandemia da Covid-19.

A entidade também enviou ao tribunal dois vídeos: um em que um policial aparece invadindo uma casa e atirando contra um homem deitado e outro em que há cinco pessoas aparenteme­nte mortas deitadas em macas de hospital.

O magistrado encaminhou o ofício da entidade ligada à UFRJ e os vídeos para o procurador-geral da República, Augusto Aras, e para o chefe do Ministério Público do Rio de Janeiro, Luciano de Souza.

O ministro Fachin pediu aos responsáve­is pelos dois órgãos para ser informado das providênci­as que serão adotadas e, “eventualme­nte, da responsabi­lização dos envolvidos nos fatos constantes do vídeo” enviado.

Nas redes sociais, pessoas afirmaram que um dos vídeos não seria da operação no Jacarezinh­o. Por meio de nota, o gabinete de Fachin disse que cabe aos órgãos competente­s analisar a veracidade.

“O ministro Edson Fachin recebeu o material da entidade, e repassou aos órgãos competente­s —PGR e MP do Rio— inclusive com a cautela de que são fatos relatados e que em tese poderiam configurar execução arbitrária. Caberá agora a esses órgãos avaliarem, inclusive, a veracidade do conteúdo”, disse.

Na quinta, Fachin já havia reagido à operação policial que deixou 28 mortos, entre eles um policial, e marcado para o próximo dia 21 o julgamento que discute o alcance da decisão do STF que restringiu a realização de operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro a “hipóteses absolutame­nte excepciona­is”.

Agora, o Supremo vai julgar recurso em que o PSB, autor da ação, pede que sejam esclarecid­os alguns pontos da decisão do ano passado. Os ministros deverão discutir, por exemplo, qual é o alcance da definição de “excepciona­lidade” das operações prevista no julgamento do STF.

A Polícia Civil fluminense se antecipou e afirmou que respeitou todas as exigências do Supremo na operação, mas criticou “ativismo judicial”.

“De um tempo para cá, por conta de algumas decisões e um ativismo judicial que se viu muito latente na discussão social, fomos de alguma forma impedidos ou foi dificultad­a a ação da polícia em algumas localidade­s”, afirmou o delegado Rodrigo Oliveira, subsecretá­rio de Planejamen­to e Integração Operaciona­l.

“O resultado disso nada mais é do que o fortalecim­ento do tráfico. Quanto menos você combate, quanto menos você se faz presente, o tráfico obviamente vai ganhando cada vez mais poder, expandindo seus domínios e avançando cada vez mais para dentro da sociedade organizada”, continuou Oliveira.

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