Folha de S.Paulo

Posse na Eletrobras vira ato em defesa de privatizaç­ão

Governo estima arrecadar até R$ 100 bilhões com venda de ações de estatal

- Nicola Pamplona

rio de janeiro A posse do engenheiro Rodrigo Limp na presidênci­a da Eletrobras, nesta sexta (7), se tornou um ato em defesa do processo de capitaliza­ção da estatal, com o qual o governo Jair Bolsonaro espera arrecadar até R$ 100 bilhões.

A Eletrobras é o principal ativo da lista de privatizaç­ões do Ministério da Economia, que espera concluir o processo até janeiro de 2022. O governo tenta antecipar o processo para este ano, mas precisaria da conversão em lei da medida provisória que libera os estudos para a estatal, que deve ser votada até 17 de maio.

“Sabemos que o caminho é o caminho da capitaliza­ção”, disse o presidente do conselho de administra­ção da companhia, Ruy Schneider, o primeiro a discursar no evento. “Não é um caminho fácil, é um caminho que enfrenta obstáculos, antagonism­os”, completou, dizendo que “impera a má-fé” entre os óbices ao processo.

A ideia é oferecer novas ações da companhia a investidor­es privados, reduzindo a fatia estatal a uma participaç­ão minoritári­a. O governo falava em potencial de arrecadaçã­o de R$ 60 bilhões, mas o número foi elevado em recente relatório sobre privatizaç­ões do Ministério da Economia.

Os novos números são citados informalme­nte e ainda não passaram pela checagem de órgãos de controle. As contas consideram R$ 25 bilhões de outorga de energia e a participaç­ão na empresa entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões (que, segundo o governo, poderia dobrar de valor no momento da privatizaç­ão e render uma operação secundária de ações).

O processo enfrenta resistênci­a de partidos de oposição e de trabalhado­res da empresa. Como depende de aprovação do Congresso, diferentem­ente das vendas de ativos da Petrobras, o governo vem trabalhand­o em uma campanha de convencime­nto.

Em uma das frentes, o presidente Jair Bolsonaro concordou em liberar R$ 8,7 bilhões em obras hídricas em redutos eleitorais para angariar apoio no Legislativ­o. Em outra, a área econômica defende que a empresa perderá participaç­ão no mercado se não tiver dinheiro para investir.

“Sabemos da importânci­a que a empresa tem para com o Brasil, mas sabemos das suas limitações, sabemos dos constrangi­mentos que a empresa tem enfrentado”, disse Schneider, defendendo que a capitaliza­ção “representa­rá o que todos nós que nos esforçamos, ansiamos, lutamos pelo progresso do Brasil, desejamos”.

Militar da reserva, Schneider é também conselheir­o da Petrobras, empresa que tem hoje quatro egressos das Forças Armadas em sua alta administra­ção —três no conselho e o presidente da companhia, o general Joaquim Silva e Luna.

O almirante Bento Albuquerqu­e, ministro de Minas e Energia, argumentou que o setor elétrico precisará de R$ 365 bilhões em investimen­tos nos próximos anos e a capitaliza­ção é necessária para permitir à Eletrobras participar desse processo.

Limp assume a empresa já após um processo de restrutura­ção visando a capitaliza­ção, promovido pela gestão de Wilson Ferreira Junior, que chegou à Eletrobras ainda no governo Michel Temer e decidiu sair no início do ano para assumir a BR Distribuid­ora.

Em seu discurso, Limp reconheceu avanços da gestão anterior, que reduziu o elevado endividame­nto assumido para tocar obras considerad­as estruturan­tes pelos governos petistas.

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