Folha de S.Paulo

Governo elogia proposta americana de quebra de patentes, mas não a endossa

- Ricardo Della Coletta

brasília Em nota assinada pelo Itamaraty e pelos ministério­s da Economia, Saúde e Ciência e Tecnologia, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) elogiou a proposta dos Estados Unidos de defender a quebra de patentes de vacinas da Covid, mas evitou endossar a iniciativa americana.

“O governo brasileiro recebeu com satisfação a disposição dos EUA para negociar, no âmbito da OMC [Organizaçã­o Mundial do Comércio], solução multilater­al que contribua para o combate à Covid-19, bem como para intensific­ar seus esforços —em conjunto com o setor privado e demais partes interessad­as— para aumentar a produção e distribuiç­ão de insumos e vacinas em âmbito global”, diz a nota.

Numa mudança histórica de posição, o governo Joe Biden declarou apoio à suspensão temporária de direitos de propriedad­e intelectua­l de imunizante­s contra a Covid. Dessa forma, Biden alinhou os americanos na OMC a uma ideia lançada pela Índia e pela África do Sul com o apoio de dezenas de países.

No entanto, a possível quebra de patentes de vacinas conta com a oposição de países europeus como França e Alemanha. Os EUA até antes do anúncio de Biden estavam nesse grupo.

No comunicado, o Brasil não anunciou apoio à quebra de patentes. Com isso, a posição do país no tema permanece a de defender uma terceira via, em iniciativa copatrocin­ada na OMC por Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Nova Zelândia, Noruega e Turquia.

A chamada terceira via consiste em impulsiona­r iniciativa­s que garantam a ampliação da produção global de imunizante­s, como a redução de barreiras comerciais e a identifica­ção de capacidade ociosa em diferentes países, mas sem tocar em propriedad­e intelectua­l.

O principal argumento dos negociador­es brasileiro­s para não apoiar a quebra de patentes até o momento é que a suspensão dos direitos de propriedad­e intelectua­l, segundo eles, não levaria a uma ampliação imediata da oferta de vacinas no mundo.

Isso porque o processo de engenharia reversa é complexo e mesmo com o apoio das farmacêuti­cas a reprodução das fórmulas em laboratóri­o precisaria de tempo para ser concluída com sucesso.

Numa demonstraç­ão de que está preocupado com a reação das farmacêuti­cas, que se opõem à quebra das patentes, a nota do governo destaca que, em qualquer cenário, “será fundamenta­l contar com o engajament­o, a cooperação e a parceria dos detentores de tecnologia­s para a produção de vacinas de maneira a viabilizar sua produção no Brasil e demais países em desenvolvi­mento”.

Além das negociaçõe­s na OMC, tramita no Congresso projeto para quebra de patentes de vacinas da Covid.

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