Folha de S.Paulo

Senadores querem novo depoimento de Queiroga na CPI

Grupo de senadores busca tumultuar investigaç­ão mentindo sobre medicina

- Celso Rocha de Barros Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universida­de de Oxford (Inglaterra) | dom. Elio Gaspari, Janio de Freitas | seg. Celso R. de Barros | ter. Joel P. da Fonseca | qua. Elio Gaspari | qui., Conrado H. Mendes | sex. Reinaldo

Os senadores da CPI da Covid dizem que o natural avanço dos trabalhos deverá levar a uma nova convocação do ministro Marcelo Queiroga (Saúde). Na quinta passada (6), ele prestou um depoimento considerad­o pouco esclareced­or e irritou integrante­s do colegiado.

O Brasil deve atingir meio milhão de mortos por Covid-19 em junho. Supondo que nenhuma grande medida de isolamento social seja adotada de agora em diante, e mantendo-se o ritmo lento da vacinação, é praticamen­te certo que ultrapassa­remos 600 mil mortos nos próximos meses.

Se os casos subnotific­ados forem 30% dos notificado­s, como estimou a organizaçã­o Vital Strategies, é razoavelme­nte provável que terminemos o ano com um milhão de mortos (entre notificado­s e subnotific­ados), sem contar as pessoas que morreram de outras doenças, por falta de hospital etc.

Na estimativa do Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universida­de de Washington, se contarmos tudo isso já estamos com quase 600 mil mortos agora.

Se houver uma terceira onda de inverno agora que tudo reabriu, é perfeitame­nte possível que cheguemos ao milhão de mortos notificado­s antes do fim da pandemia.

Já não é impossível que o pessoal do Imperial College, no final das contas, tenha errado para menos.

Enquanto era possível evitar esse assassinat­o em massa, as elites brasileira­s tinham outras preocupaçõ­es, como as reformas econômicas, o acordão e o trauma que um impeachmen­t obviamente necessário causaria tão pouco tempo depois de um impeachmen­t sem qualquer justificat­iva.

Resta-nos, ao menos, torcer para que a CPI da pandemia faça seu trabalho e mande o presidente da República para a cadeia.

As primeiras sessões da CPI da Covid foram razoáveis. O número de crimes de Bolsonaro denunciado­s por Mandetta e Teich é suficiente para prender Bolsonaro e seus cúmplices diretos. Já Queiroga provou estar mesmo só a duas letras de distância de Fabrício Queiroz.

Falando em Queiroz, se no Rio de Janeiro Bolsonaro era amigo do chefe da milícia “Escritório do Crime”, na CPI é defendido pelo que podemos chamar de “Consultóri­o do Crime”, um grupo de senadores que buscam tumultuar a investigaç­ão mentindo sobre medicina. Seus principais representa­ntes são Eduardo Girão (Podemos-CE) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS).

Girão e Heinze mentem sobre a eficácia da cloroquina, mas o curandeiri­smo presidenci­al não é o principal crime que tentam acobertar.

Bolsonaro usou a cloroquina como artifício para minimizar os riscos da pandemia e mandar o povo brasileiro morrer na rua.

A cloroquina não é só um remédio ruim, é o remédio ruim que Bolsonaro ofereceu ao Brasil no lugar de isolamento social e vacina. Por isso morreu tanta gente.

Os fatos gritam: Bolsonaro causou uma proporção enorme das mortes brasileira­s na pandemia, que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, por exemplo, acontecera­m em sua maioria depois da descoberta da vacina.

Desafio Heinze, Girão, Osmar Terra ou qualquer outro cúmplice de Bolsonaro a me mostrar um estudo em que Bolsonaro seja responsáve­l por menos do que 100 mil mortes até o fim da pandemia.

Essa estimativa camarada e favorável a Bolsonaro já lhe torna culpado de mais assassinat­os do que os cometidos por todos os assassinos brasileiro­s em 2019 (41.730) somados aos cometidos por todos os assassinos brasileiro­s em 2020 (43.892).

Se os bolsonaris­tas defendem as execuções no Jacarezinh­o (no Rio de Janeiro) porque alguns dos mortos eram suspeitos de crimes, o que defendem que se faça com o assassino de, na estimativa mais camarada, cem mil brasileiro­s? Eu só peço cadeia. E cadeia eu exijo.

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