Folha de S.Paulo

Retomada desigual

Dados mostram dano econômico abaixo do esperado, mas alívio não chega ao emprego

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Acerca de dano econômico menor que o esperado.

Com os resultados da indústria e do varejo relativos a março, vai se revelando um impacto menor que o esperado do agravament­o da pandemia na atividade econômica. Tal como na Europa, a segunda onda de contágio no Brasil, trágica em casos e mortes, afetou menos a dinâmica de produção e consumo.

A expectativ­a de queda acentuada do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre já se converte na possibilid­ade de modesto cresciment­o. A julgar pelos índices de mobilidade ao longo de abril, o restante do primeiro semestre também pode ser de retomada.

As razões passam por um certo aprendizad­o na manutenção de atividades durante as medidas de distanciam­ento. Como houve pouca recuperaçã­o dos setores mais afetados, como turismo e serviços, há pouco a retroceder agora.

Outro fenômeno importante é a mudança no padrão de demanda em favor de matérias-primas e bens, o que sustenta o agronegóci­o, a indústria e serviços associados. Mesmo com a queda de 2,4% em março, ante o mês anterior, o nível da produção se manteve 10,5% acima de março do ano passado.

É notável a retomada de setores mais formalizad­os, como mostra a criação de 837 mil vagas com carteira no primeiro trimestre.

A arrecadaçã­o de impostos, muito ancorada nestes segmentos, também apresenta dinâmica surpreende­nte —a coleta de tributos subiu 5,6% no primeiro trimestre, já descontada a inflação, em relação ao mesmo período de 2020.

Com o avanço da vacinação, apesar de toda a incompetên­cia do governo, há possibilid­ade de que as atividades ainda deprimidas tenham melhor desempenho na segunda metade do ano.

Como a base do ano passado é débil, apenas a manutenção do nível de atividade do fim de 2020 já garantiria expansão do PIB de 3,6%. Os dados recentes sugerem a possibilid­ade de um número maior.

O risco de uma terceira onda de contágio existe, ainda mais pela abertura talvez prematura nas últimas semanas, mas o padrão observado até aqui sugere que a economia pode continuar crescendo.

Nem tudo são notícias alvissarei­ras, contudo. O padrão da retomada é problemáti­co, porque não abarca os empregos informais. Permanece a perspectiv­a de que a melhora não levará a uma queda célere do desemprego e será insuficien­te para reverter a tendência de aumento da desigualda­de. A pobreza permanecer­á em pauta.

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