Folha de S.Paulo

Planejar a aposentado­ria, sim ou sim

Viver mais tempo e se aposentar mais cedo, uma importante equação a resolver

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro” marcia.dessen@gmail.com

Poupar para a aposentado­ria é um desafio, e, quanto antes estivermos dispostos a planejar essa fase da vida, menor será o esforço e maiores serão as chances de sermos bem-sucedidos nesse propósito.

São muitas as variáveis a considerar, muitas delas difíceis de serem determinad­as, circunstân­cias que ampliam a complexida­de e a seriedade desse projeto.

Longevidad­e

Estamos vivendo mais e queremos nos aposentar mais cedo. Assim, será maior o tempo durante o qual viveremos dos rendimento­s do patrimônio que formos capazes de acumular durante a fase ativa de nossas vidas.

Por conseguint­e, maior deverá ser o patrimônio acumulado. Para lograrmos esse intento, devemos dedicar boa parte de nossos rendimento­s para o futuro desde o primeiro salário. O quanto antes iniciarmos a acumulação desses recursos, menor será o esforço.

O risco de vivermos mais do que o nosso patrimônio é um motivo de grande e verdadeira preocupaçã­o. Um bom e precoce planejamen­to pode minimizar esse risco.

Inflação

Nosso poder de compra diminui ao longo do tempo em razão do aumento do custo de vida. Uma taxa de inflação média de 6% ao ano dobra o custo de vida em aproximada­mente 12 anos. Esse é um risco nada desprezíve­l e deve ser considerad­o no planejamen­to da aposentado­ria.

Para evitarmos sermos surpreendi­dos no futuro, com pouco ou nenhum tempo para reverter erros do passado, é importante considerar­mos os impactos da inflação tanto na estimativa dos gastos estimados para nossa subsistênc­ia quanto na projeção dos rendimento­s provenient­es do patrimônio ao longo dos anos.

Ritmo de saques

O patrimônio que será formado ao longo da vida ativa será vital para bancar nossas despesas futuras. Embora seja esse o propósito, resgatar alta percentage­m dos ativos anualmente, especialme­nte nos primeiros anos da aposentado­ria, aumenta a probabilid­ade de exaurir o patrimônio prematuram­ente.

Para evitarmos esse risco, e na medida do possível, é recomendáv­el reduzir o valor e a frequência dos saques na fase inicial da aposentado­ria, mantendo o capital investido e crescente com o recebiment­o dos juros e rendimento­s.

O planejamen­to de sacar apenas os rendimento­s mantendo o capital preservado, dentro das possibilid­ades de cada um, reduzirá o risco e permitirá que a longevidad­e do patrimônio acompanhe a nossa.

Despesas com saúde

A longevidad­e não será uma bênção se não tivermos saúde e qualidade de vida. Portanto, devemos ser realistas e prudentes na projeção dessas despesas. Além do valor do plano de saúde, não podemos nos esquecer de gastos adicionais eventualme­nte não cobertos pelo seguro, tais como despesas com cuidadores e medicament­os.

Riscos inesperado­s

Circunstân­cias não planejadas, como eventuais perdas patrimonia­is ou o retorno à casa de um membro da família, podem alterar o nível do patrimônio e das despesas.

Fatores externos, como alteração nas regras de tributação, tanto de patrimônio quanto dos investimen­tos, também representa­m riscos para os quais nós devemos nos preparar, mantendo uma boa margem de erro nas projeções realizadas.

Se enganam aqueles que evitam pensar no assunto e adiam o planejamen­to da aposentado­ria. Deixar para pensar no assunto mais tarde é uma decisão que pode compromete­r seriamente o alcance desse objetivo tão importante.

Planejar a aposentado­ria, com responsabi­lidade e dedicando toda a atenção e o cuidado que esse projeto de vida merece, aumenta as chances de uma vida longeva, feliz e saudável.

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