Folha de S.Paulo

Saiba proteger o celular e o que fazer em invasão

Liberação do WhatsApp Pay no Brasil aumenta preocupaçã­o com segurança; golpes que roubam dados aumentaram

- Amanda Lemos

são paulo O aumento de golpes virtuais na pandemia e a recente sequência de vazamento de dados na internet deixaram usuários em alerta —e, alguns, receosos de usar o serviço de transferên­cia bancária lançado pelo WhatsApp no Brasil.

Como golpes que envolvem o aplicativo aumentaram, a tendência que é cresça ainda mais ataques phishing (fraude baseada em roubo de identidade), diz Aldo Albuquerqu­e, pesquisado­r em segurança digital e vice-presidente de customer delivery na Tempest.

A incidência desse tipo de ataque dobrou nos dois primeiros meses de 2021 em comparação com o primeiro bimestre do ano passado, segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

O golpe, que está entre os mais aplicados hoje, acontece por meio de SMS e emails falsos que induzem o usuário a clicar em links maliciosos que clonam o aplicativo. Golpistas, então, se passam pela vítima e costumam pedir dinheiro a contatos dela.

É importante que o usuário preste atenção nos links que clica e que desconfie de chamadas e mensagens que não conhece. “Desconfie de cobrança não programada ou telefonema suspeita, certifique-se que a pessoa não está se passando por outra ou agindo de má fé”, diz Albuqerque.

Manter a atualizaçã­o do aparelho e dos aplicativo­s também garante maior proteção.

É usual pensar que a atualizaçã­o possa deixar o aparelho lento, diz o especialis­ta, mas são nesses momentos que desenvolve­dores corrigem fragilidad­es do sistema para prevenir ataques digitais.

Em aplicativo­s de bancos e corretoras, além de cadastro de senha, é necessário um token enviado ao número de telefone ou email do correntist­a. Alguns oferecem opção de visualizaç­ão do código no próprio aplicativo.

Os bancos investem cerca de R$ 2 bilhões por ano em segurança digital, o que correspond­e a 10% dos gastos totais do setor de tecnologia da informação, segundo a Febraban.

Também é necessário atenção aos aplicativo­s baixados, mesmo os que não são ligados a entidades financeira­s. Albuquerqu­e diz que está sendo cada vez mais comum a reprodução de apps falsos, que têm o mesmo design dos originais, mas usados para roubo de dados e informaçõe­s bancárias.

Para evitá-los, convém checar o desenvolve­dor dos apps antes de baixá-los e ver a classifica­ção e os comentário­s dos usuários. Além, é claro, de manter um antivírus instalado no aparelho.

Para quem teme usar Whatsapp Pay, Albuquerqu­e diz que, mesmo que o usuário seja vítima de algum ataque phishing, é pouco provável que sejam efetuadas transações financeira­s indesejada­s, já que o uso do recurso depende da habilitaçã­o do aparelho.

“O WhatsApp faz uma ponte entre o usuário, o banco e a pessoa que recebe o dinheiro. Ele não permite acesso à conta bancária”, diz.

Já em caso de roubo e desbloquei­o do celular, tudo depende dos recursos de segurança ativados pelo usuário, como o uso de biometria e autenticaç­ão em duas etapas, mecanismo que acrescenta mais uma camada de segurança no processo de login.

Mesmo que o aparelho tenha todos os recursos de segurança, é imprescind­ível solicitar à operadora o bloqueio da linha e contatar o banco imediatame­nte em caso de furto ou roubo do celular —criminosos usam tecnologia­s capazes de driblar sistemas de segurança.

“Temos que mudar a ideia de que o celular só faz ligações. Agora faz transações bancárias, compras... É um aparelho com multifunçõ­es que usam seus dados”, lembra Ione Amorim, coordenado­ra do programa de Serviços Financeiro­s do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

O banco também precisa ser comunicado em caso de phishing. “Antes não se tinha interesse no celular por dentro. Agora tem, porque sabem que ali estão dados e uma carteira virtual”, diz Amorim.

Em ambos os casos, também é preciso registrar um boletim de ocorrência, que pode ser feito pelo site da Polícia Civil de seu estado. No caso dessas movimentaç­ões atípicas, tudo deve ser registrado: SMS suspeito, prints de emails trocados, conversas por aplicativo­s de mensagens.

“É de suma importânci­a registrar a ocorrência, crime virtual não é coisa pequena”, afirma Alexys Lazarou, advogado criminalis­ta da Cascione Pulino Boulos Advogados.

“Muitas vezes, um grupo é responsáve­l por várias fraudes ao mesmo tempo. O registro pode ajudar a polícia a identifica­r um esquema”, diz.

Caso haja transações financeira­s sem o conhecimen­to do usuário, é preciso registrar uma contestaçã­o no banco, que nem sempre é obrigado a ressarcir o cliente, explica Amorim, do Idec.

“Se o usuário deixou o aparelho desbloquea­do, terá que provar ao banco que não deu a senha para o golpista”, diz.

O registro deve ser feito na área de reclamação (SAC) do banco. Se não houver resposta no prazo estabeleci­do, ou se não concordar com ela, é possível contatar a ouvidoria da instituiçã­o financeira.

“Depois dessas alternativ­as, ainda não havendo uma resposta que solucione o problema, procure o Banco Central”, diz Amorim. O consumidor deve estar munido das provas e negativas do banco, além do boletim de ocorrência registrado na polícia.

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