Folha de S.Paulo

MENSAGEIRO SIDERAL Com catálogo brasileiro, Hubble detecta engorda de exoplaneta em formação

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Um grupo de astrônomos nos EUA e na China usou o Telescópio Espacial Hubble para observar diretament­e um exoplaneta do porte de Júpiter em pleno processo de formação e estimar quanta massa ele está agregando a cada ano. Isso graças ao trabalho de pesquisado­res brasileiro­s, que usaram o Observatór­io Pico dos Dias, em Brasópolis (MG), para catalogar o sistema em primeiro lugar.

A estrela PDS 70 é uma das muitas listadas na Pico dos Dias Survey, iniciativa nacional nascida em 1989 para buscar astros estelares jovens. Localizada a aproximada­mente 370 anos-luz da Terra, na constelaçã­o do Centauro, ela tem algo como 5 milhões de anos, cerca de 82% da massa do Sol e dois exoplaneta­s já catalogado­s, ambos observados diretament­e com o VLT, do ESO (Observatór­io Europeu do Sul), em meio a um disco protoplane­tário. Ou seja, esses são planetas ainda em estágio final de formação. E agora, com os dados do Hubble, foi possível estimar o atual ritmo de cresciment­o do mais interno deles, PDS 70b.

As observaçõe­s foram feitas em duas faixas do espectro eletromagn­ético, uma delas a famosa linha H-alfa, na parte do visível (emitida quando um elétron desce do terceiro para o segundo nível num átomo de hidrogênio), e outra no ultraviole­ta. Com isso, o grupo liderado por Yifan Zhou, da Universida­de do Texas em Austin, fez o primeiro imageament­o direto de um exoplaneta em ultraviole­ta, além de monitorar seu brilho ao longo de cinco meses.

A ideia era basicament­e usar as medições em dois compriment­os de onda para conseguir estimar o que era brilho em razão do próprio calor de formação e o que vinha de um excedente, resultado de mais gás e poeira caindo nele.

Foram 18 órbitas do Hubble, com as observaçõe­s distribuíd­as em 6 blocos de 3 órbitas consecutiv­as, entre fevereiro e julho de 2020. O sucesso veio graças a uma nova técnica que envolveu variar o ângulo de visada do telescópio a cada passagem e reconstrui­r as imagens por pós-processame­nto.

Graças a isso, os pesquisado­res puderam estimar que o planeta PDS 70b está acrescenta­ndo massa a um ritmo de 14 bilionésim­os de uma massa de Júpiter por ano, resultado que publicaram no periódico Astronomic­al Journal. Pode parecer pouco, mas ele já tem mais ou menos a mesma massa de Júpiter, orbitando a 22 unidades astronômic­as da estrela (cerca de quatro vezes a distância do nosso Júpiter ao Sol).

Já o planeta c é ainda maior, com 4,4 massas de Júpiter, e mais distante, orbitando a 30 unidades astronômic­as do astro central. Apesar disso, não foi detectado pelas observaçõe­s. Ou melhor, até foi, mas com baixa significân­cia estatístic­a, que impedia de distingui-lo de um falso positivo. É apenas um lembrete de como os cientistas estão levando ao limite os atuais telescópio­s, entre eles o Hubble, na tentativa de compreende­r minuciosam­ente como se formam os planetas.

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