Folha de S.Paulo

Entregas em junho podem ser afetadas, diz Butantan

Butantan entrega mais 2 mi de doses da Coronavac ao Ministério da Saúde

- Ana Bottallo

O diretor do Butantan, Dimas Covas, falou ontem na possibilid­ade de não haver matéria-prima para produzir novas doses de Coronavac após a disponibil­ização daquelas previstas para esta semana. Segundo ele, entregas de junho poderão sofrer impacto.

O instituto aguarda posição da China para a liberação de insumo.

são paulo Um novo lote de 2 milhões de doses da vacina Coronavac, desenvolvi­da pelo laboratóri­o chinês Sinovac e produzida, no Brasil, pelo Instituto Butantan, foi entregue na manhã desta segunda (10) ao Ministério da Saúde.

Agora, o total de unidades da Coronavac repassadas pelo governo de SP ao Ministério da Saúde chega a 45,112 milhões de doses. Elas serão encaminhad­as ao Programa Nacional de Imunizaçõe­s, para serem distribuíd­as aos estados.

A entrega faz parte de um lote de 5,1 milhões de doses a ser entregue até o final desta semana; mais duas são esperadas para esta semana: 1 milhão de doses na quarta (12) e o restante até sexta (14).

O governador João Doria (PSDB) acompanhou a entrega ao lado do secretário estadual da saúde, Jean Gorinchtey­n, e do diretor do Butantan, Dimas Tadeu Covas.

O cronograma inicial do instituto previa a entrega de 30 milhões de doses ainda em maio. Contudo, o atraso no envio dos lotes de IFA (ingredient­e farmacêuti­co ativo) coloca em xeque essa expectativ­a. As autoridade­s chinesas dividiram um lote de 6.000 litros de IFA, suficiente­s para a produção de 10 milhões de doses, em três remessas.

O Butantan aguarda até a próxima quarta uma posição do governo chinês para a liberação do embarque de um lote de IFA, cuja chegada, se autorizada, será no próximo dia 18.

Covas confirmou a possibilid­ade de, após a entrega desta semana, não haver mais matéria-prima para produção.

“A partir daí [entrega desta semana] não teremos mais vacinas porque não recebemos o IFA”, disse. “Preocupa para o cronograma de vacinação, que a partir de junho, que poderá sofrer algum impacto.”

Segundo ele, o Butantan e o governo de SP têm trabalhado intensamen­te com a Sinovac e com a Embaixada da China no Brasil, mas a situação não apresentou mudança até aqui.

A falta de matéria-prima no país para produzir a Coronavac gerou desabastec­imento em diversas cidades. Mais da metade das capitais ficou sem estoque para a 2ª dose da vacina no domingo (2).

Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez ataques à China, falando em guerra química e levantando dúvidas sobre possíveis interesses econômicos da China com o vírus. Um dia depois, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, disse se opor a “qualquer tentativa política de estigmatiz­ar o vírus”.

Doria criticou novamente as declaraçõe­s do presidente e disse que tanto o chanceler Carlos Alberto Franco França quanto secretário­s e governador­es estão conversand­o com a embaixada para tentar minimizar os danos e fazer a costura diplomátic­a.

O tucano afirmou que a Sinovac também fornece vacina para o Chile e que no país sulamerica­no não há problemas com a entrega dos insumos.

Com isso, o acordo de até 100 milhões de doses até setembro, antes previsto até agosto, pode sofrer alterações. Doria afirmou ainda que houve um diálogo inicial com o governo federal para um aditivo de 30 milhões de doses após a entrega dos 100 milhões de doses iniciais, mas esse interesse não foi ainda fechado.

Bolsonaro libera mais R$ 5,5 bi para compra e produção de vacinas Ricardo Della Coletta e Natália Cancian

brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) editou uma Medida Provisória que destina R$ 5,5 bilhões para a produção e distribuiç­ão vacinas, entre elas 50 milhões de doses do imunizante contra a Covid da AstraZenec­a.

De acordo com a Secretaria­Geral da Presidênci­a, os recursos devem garantir o fornecimen­to dessas doses no segundo semestre. A MP deve ser um complement­o ao crédito de R$ 20 bilhões aberto no final de 2020 para a compra de imunizante­s.

Em nota, o Planalto informou que R$ 16,1 bilhões do crédito do ano passado já foram empenhados, o que levou à necessidad­e de aporte extra para a aquisição de vacinas e insumos. Dessa forma, a nova MP também deve ajudar a custear imunizante­s que seriam pagos pela MP editada no final do ano passado.

“Diante desse contexto excepciona­l decorrente da pandemia da Covid-19, que traz impactos demasiado negativos à saúde pública, à economia e ao desenvolvi­mento de outras políticas públicas, torna-se imperiosa a abertura do crédito extraordin­ário em questão, sem prejuízo do regular funcioname­nto do SUS (Sistema Único de Saúde)”, afirmou o governo.

“Com a edição desta MP, o estado brasileiro reitera seus esforços para garantir a oferta regular de serviços e programas voltados à população em geral, principalm­ente àquela mais vulnerável, franqueand­o aos órgãos e agentes públicos o acesso a instrument­os capazes de mitigar os efeitos danosos da pandemia sobre a sociedade brasileira”.

O ritmo lento de vacinação é um dos flancos de desgaste do governo Bolsonaro na pandemia e alvo de investigaç­ão de uma CPI no Senado Federal.

No Brasil, mais de 420 mil pessoas morreram em decorrênci­a da Covid.

Além do mais, Bolsonaro sofre críticas por ter ignorado ofertas da farmacêuti­ca Pfizer ainda no ano passado e por ter determinad­o, também em 2020, que o Ministério da Saúde não comprasse a Coronavac —imunizante elaborado pelo Instituto Butantan com um laboratóri­o chinês e trunfo político do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), possível adversário de Bolsonaro em uma disputa pela Presidênci­a.

Na semana passada, durante depoimento do ministro Marcelo Queiroga (Saúde) na CPI da pandemia, Bolsonaro publicou um extrato de dispensa de licitação para compra de 100 milhões de doses da vacina da Pfizer. O valor do extrato foi de R$ 6,6 bilhões.

Um grupo de pesquisado­res alertou recentemen­te que o Brasil precisa abrir negociaçõe­s com novos fornecedor­es de vacinas e acelerar a ampliação da capacidade de produção dos laboratóri­os públicos para compensar o atraso na imunização contra a Covid-19.

O Brasil vacinou até a semana passada 21% de sua população adulta, mas só 11% com as duas doses necessária­s. O Instituto Butantan, de São Paulo, e a Fundação Oswaldo Cruz, do Ministério da Saúde, produzem as vacinas com insumos importados, mas encontram dificuldad­es para acelerar o ritmo de fabricação.

“A partir daí [entrega desta semana] não teremos mais vacinas porque não recebemos o IFA Dimas Tadeu Covas diretor do Instituto Butantan

 ?? Amanda Perobelli - 22.jan.21/Reuters ?? Funcionári­os do Butantan manipulam frascos da Coronavac no instituto
Amanda Perobelli - 22.jan.21/Reuters Funcionári­os do Butantan manipulam frascos da Coronavac no instituto

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