Folha de S.Paulo

Júri condena a 31 anos marido de Tatiane Spitzner

Professor, que negou ter matado a esposa, a advogada Tatiane Spitzner, terá que pagar R$ 100 mil à família da vítima

- Katna Baran

Luis Felipe Manvailer, 34, foi condenado a 31 anos de prisão pela morte da esposa, a advogada Tatiane Spitzner, 29, em Guarapuava (PR), local do crime, em 2018. Acusado de jogála da sacada do quarto andar, ele foi culpado por homicídio qualificad­o por feminicídi­o.

curitiba O professor Luis Felipe Manvailer foi condenado a 31 anos de prisão pela morte da esposa, a advogada Tatiane Spitzner, 29, em julgamento no Tribunal do Júri que terminou na noite desta segundafei­ra (10), após sete dias. Os jurados considerar­am Manvailer culpado por homicídio qualificad­o por feminicídi­o, motivo fútil, mediante asfixia e meio cruel, e fraude processual.

A pena total decretada pelo juiz Adriano Scussiato Eyng, de Guarapuava, onde ocorreu o júri, foi de 31 anos, 9 meses e 18 dias. Ele ainda determinou o pagamento de R$ 100 mil em danos morais aos familiares de Tatiane. Eyng não concedeu ao réu o direito de recorrer em liberdade, citando a tentativa de fuga dele para o Paraguai logo após o crime.

Ao ler a sentença, o juiz citou provas que indicaram que Tatiane sofria relacionam­ento abusivo e relembrou casos famosos de feminicídi­o, como os de Ângela Diniz e de Eloá Cristina. O júri era composto por sete homens. A transmissã­o do julgamento foi pausada no momento da contagem dos votos, portanto não é possível dizer o placar final. Pela lei, ao se chegar à maioria de 4 votos pela condenação ou absolvição, encerra-se a contagem.

Tatiane foi encontrada morta na madrugada de 22 de julho de 2018 após uma queda do quarto andar do prédio em que morava com o marido, em Guarapuava (PR). O exame de necropsia apontou que ela foi morta por asfixia mecânica antes da queda e que o corpo tinha feridas e sinais de luta.

A acusação alegou que Manvailer asfixiou Tatiane e a atirou pela sacada após discussão. Vizinhos ouviram gritos e imagens das câmeras de segurança do edifício mostram a advogada sendo agredida pelo marido antes de morrer.

Os vídeos mostram que ele recolheu o corpo da mulher da calçada e o levou de volta ao apartament­o, antes de tentar fugir. Também apagou marcas de sangue do elevador. Manvailer acabou preso no mesmo dia, após bater o carro na rodovia, em São Miguel do Iguaçu, próximo da fronteira do Brasil com o Paraguai, a cerca de 340 km de Guarapuava.

Já a defesa disse que Tatiane se matou após uma discussão.

O depoimento de Manvailer no júri ocorreu neste domingo (9) e durou cerca de 11 horas. Ele foi questionad­o por juiz, jurados e advogados de defesa, mas não respondeu às perguntas da acusação.

Na introdução, ele pediu desculpas à família de Tatiane pelas agressões que praticou contra ela, mas negou que a tenha matado. “Gostaria de pedir perdão pelo mesmo motivo para minha família, eles sabem que não sou assim, e a todas as mulheres do Brasil, pedir perdão por isso. Eu não matei a Tatiane”, disse.

Segundo o professor, após uma briga, ele viu Tatiane se segurando pelo parapeito da sacada e diz que, apesar de tentar, não conseguiu alcançá-la para evitar a queda. “Naquele momento, já estava tudo transtorna­do, o tempo parava, estava indo em direção a ela. Quando estava chegando perto da sacada, vi que a mão dela não estava ali, ouvi ela caindo, ouvi o grito dela”, afirmou.

Nas alegações finais, a defesa de Manvailer sustentou que, apesar de ter agredido a esposa, ele não a matou. Como argumentos, os defensores citaram supostas contradiçõ­es nos laudos que atestaram a causa da morte da advogada.

Um dos advogados de Manvailer afirmou que foram encontrada­s marcas de unha no parapeito da sacada. “E isso só veio aos autos dois anos depois. Na época, não foi registrado em foto”, alegou Renan Pacheco Canto.

A defesa questionou acusações de agressões do professor contra a esposa no apartament­o, já que, segundo os advogados, não foram encontrada­s marcas de sangue nem móveis arrastados no local.

Durante as alegações finais, o advogado Cláudio Dalledone Junior simulou uma agressão a uma colega, pegando-a com força pelo pescoço. A mulher ficou com marcas vermelhas no local, se desequilib­rou e quase caiu ante os jurados.

Eles apontaram possíveis fraudes em provas, como o fato de o corpo de Tatiane ter sido devolvido ao IML após já ter sido liberado para o enterro.

Já a acusação explorou as imagens da agressão de Manvailer contra a esposa, filmadas pelas câmeras de segurança do prédio. Ressaltou a diferença de tamanho entre o professor e a advogada.

“A impressão que se dá é que a Tatiane é aquele corpo sem vida jogado no IML, todo retalhado. E esse cidadão [Luis Felipe], em seis dias de júri, não derramou uma lágrima. Ontem esboçou um choro depois de cinco horas de interrogat­ório”, disse o assistente de acusação, Roberto Brzezinski Neto.

A acusação também questionou o modo de agir de Manvailer logo após a queda da esposa.

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@felipemanv­a no Instagram Luís Felipe Manvailer, que foi condenado pela morte da mulher, Tatiane Spitzner

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