Folha de S.Paulo

Sob tensão, Hamas lança foguetes, e Israel revida

Grupo islâmico diz que resposta israelense deixou ao menos 20 mortos, incluindo 9 crianças

- Lucas Alonso

Em meio à tensão por seguidos confrontos entre manifestan­tes palestinos e forças israelense­s em Jerusalém, o grupo Hamas lançou dezenas de foguetes de Gaza em direção a Israel, que revidou com ataques aéreos. A facção fala em 20 palestinos mortos —Israel, em 3.

bauru (sp) Em meio à escalada de violência após seguidos confrontos entre manifestan­tes palestinos e forças de segurança israelense­s, o Hamas lançou nesta segunda (10) dezenas de foguetes da Faixa de Gaza em direção a Israel, que revidou com ataques aéreos.

As Forças Armadas israelense­s contabiliz­aram 45 disparos. Não há relatos de feridos, mas mesmo assim houve evacuação temporária de regiões da Cidade Antiga, do Muro das Lamentaçõe­s e de prédios oficiais como o do Knesset, o Parlamento israelense.

Do outro lado, o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo grupo islâmico, afirmou que ao menos 20 palestinos foram mortos, incluindo nove crianças.

Considerad­o uma facção terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, o Hamas apoia os palestinos em Jerusalém e havia dado um ultimato para que os israelense­s recuassem de suas posições na Esplanada das Mesquitas e no bairro de Sheikh Jarrah —os dois principais pontos de conflito dos últimos dias.

O porta-voz das Forças Armadas de Israel, Hidai Zilberman, evitou assumir a responsabi­lidade por todas as mortes, sugerindo que elas ocorreram devido a fogo amigo do Hamas. Zilberman disse que os ataques israelense­s provocaram a morte apenas de três membros do grupo islâmico.

“Nos próximos dias, o Hamas sentirá o longo braço do Exército. Não vai demorar alguns minutos, vai demorar alguns dias”, disse Zilberman. O porta-voz afirmou que “todas as opções estão na mesa”, incluindo um conflito mais amplo, com operação terrestre, bem como ações para matar líderes do grupo. “Temos um endereço claro: o Hamas, que pagará um preço caro. Vamos responder com veemência.”

À tarde, uma árvore pegou fogo na Esplanada das Mesquitas, mas as chamas foram controlada­s antes que o incêndio atingisse a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para o islamismo. Durante a noite de segunda, quando os judeus comemorara­m o Dia de Jerusalém, novos confrontos voltaram a ser registrado­s no local.

Diante do agravament­o da crise, o governo dos EUA, que mais cedo havia pedido calma a israelense­s e palestinos, divulgou um alerta para que funcionári­os dos postos diplomátic­os americanos em Jerusalém não saiam de casa até pelo menos domingo (16).

Nesta segunda, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu para avaliar a situação, mas não chegou a uma decisão conjunta. Segundo relatos de diplomatas à agência AFP e ao jornal Times of Israel, os EUA se opuseram a uma declaração pública por considerar o momento inoportuno.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, por sua vez, pediu que os dois lados diminuam a tensão na região e afirmou que o Hamas deve parar imediatame­nte de lançar foguetes em direção a Israel.

A série de conflitos em Jerusalém já dura quatro dias e deixou centenas de feridos. Só nesta segunda, de acordo com a ONG Crescente Vermelho Palestino, ao menos 330 palestinos ficaram feridos ao serem atingidos por balas de borracha e granadas de atordoamen­to —250 dos quais foram hospitaliz­ados. De acordo com a polícia, 21 agentes também se feriram, com pedras lançadas pelos palestinos.

Antes mesmo do revide israelense, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que pode deixar o cargo se a oposição conseguir formar um governo de coalizão, já havia prometido responder aos ataques “com muita força”. Ele chegou a convocar uma reunião de emergência e pediu calma às partes envolvidas, mas o pedido não cessou a violência.

Outro fator que contribuiu para o aumento das tensões foi a decisão em primeira instância que prevê o despejo de famílias palestinas de uma área disputada em Jerusalém. Neste domingo (9), a Suprema Corte de Israel adiou uma audiência sobre o tema, como forma de ganhar tempo e tentar acalmar os ânimos. A disputa central envolve a retirada de quatro famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah.

No mês passado, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou relatório em que acusa Israel de cometer crimes de apartheid e perseguiçã­o contra palestinos, o que, no direito internacio­nal, equivale a crimes contra a humanidade. A HRW aponta a apreensão de terras para a construção de assentamen­tos como exemplo dos crimes de Israel.

 ?? Amir Cohen/Reuters ?? Mísseis do sistema israelense de defesa aérea Domo de Ferro intercepta­m foguetes disparados da Faixa de Gaza sobre a cidade de Ashkelon
Amir Cohen/Reuters Mísseis do sistema israelense de defesa aérea Domo de Ferro intercepta­m foguetes disparados da Faixa de Gaza sobre a cidade de Ashkelon
 ?? Ammar Awad/Reuters ?? Policiais detêm palestino na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém
Ammar Awad/Reuters Policiais detêm palestino na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém

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