Sob tensão, Hamas lança foguetes, e Israel revida
Grupo islâmico diz que resposta israelense deixou ao menos 20 mortos, incluindo 9 crianças
Em meio à tensão por seguidos confrontos entre manifestantes palestinos e forças israelenses em Jerusalém, o grupo Hamas lançou dezenas de foguetes de Gaza em direção a Israel, que revidou com ataques aéreos. A facção fala em 20 palestinos mortos —Israel, em 3.
bauru (sp) Em meio à escalada de violência após seguidos confrontos entre manifestantes palestinos e forças de segurança israelenses, o Hamas lançou nesta segunda (10) dezenas de foguetes da Faixa de Gaza em direção a Israel, que revidou com ataques aéreos.
As Forças Armadas israelenses contabilizaram 45 disparos. Não há relatos de feridos, mas mesmo assim houve evacuação temporária de regiões da Cidade Antiga, do Muro das Lamentações e de prédios oficiais como o do Knesset, o Parlamento israelense.
Do outro lado, o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo grupo islâmico, afirmou que ao menos 20 palestinos foram mortos, incluindo nove crianças.
Considerado uma facção terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, o Hamas apoia os palestinos em Jerusalém e havia dado um ultimato para que os israelenses recuassem de suas posições na Esplanada das Mesquitas e no bairro de Sheikh Jarrah —os dois principais pontos de conflito dos últimos dias.
O porta-voz das Forças Armadas de Israel, Hidai Zilberman, evitou assumir a responsabilidade por todas as mortes, sugerindo que elas ocorreram devido a fogo amigo do Hamas. Zilberman disse que os ataques israelenses provocaram a morte apenas de três membros do grupo islâmico.
“Nos próximos dias, o Hamas sentirá o longo braço do Exército. Não vai demorar alguns minutos, vai demorar alguns dias”, disse Zilberman. O porta-voz afirmou que “todas as opções estão na mesa”, incluindo um conflito mais amplo, com operação terrestre, bem como ações para matar líderes do grupo. “Temos um endereço claro: o Hamas, que pagará um preço caro. Vamos responder com veemência.”
À tarde, uma árvore pegou fogo na Esplanada das Mesquitas, mas as chamas foram controladas antes que o incêndio atingisse a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para o islamismo. Durante a noite de segunda, quando os judeus comemoraram o Dia de Jerusalém, novos confrontos voltaram a ser registrados no local.
Diante do agravamento da crise, o governo dos EUA, que mais cedo havia pedido calma a israelenses e palestinos, divulgou um alerta para que funcionários dos postos diplomáticos americanos em Jerusalém não saiam de casa até pelo menos domingo (16).
Nesta segunda, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu para avaliar a situação, mas não chegou a uma decisão conjunta. Segundo relatos de diplomatas à agência AFP e ao jornal Times of Israel, os EUA se opuseram a uma declaração pública por considerar o momento inoportuno.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, por sua vez, pediu que os dois lados diminuam a tensão na região e afirmou que o Hamas deve parar imediatamente de lançar foguetes em direção a Israel.
A série de conflitos em Jerusalém já dura quatro dias e deixou centenas de feridos. Só nesta segunda, de acordo com a ONG Crescente Vermelho Palestino, ao menos 330 palestinos ficaram feridos ao serem atingidos por balas de borracha e granadas de atordoamento —250 dos quais foram hospitalizados. De acordo com a polícia, 21 agentes também se feriram, com pedras lançadas pelos palestinos.
Antes mesmo do revide israelense, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que pode deixar o cargo se a oposição conseguir formar um governo de coalizão, já havia prometido responder aos ataques “com muita força”. Ele chegou a convocar uma reunião de emergência e pediu calma às partes envolvidas, mas o pedido não cessou a violência.
Outro fator que contribuiu para o aumento das tensões foi a decisão em primeira instância que prevê o despejo de famílias palestinas de uma área disputada em Jerusalém. Neste domingo (9), a Suprema Corte de Israel adiou uma audiência sobre o tema, como forma de ganhar tempo e tentar acalmar os ânimos. A disputa central envolve a retirada de quatro famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah.
No mês passado, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou relatório em que acusa Israel de cometer crimes de apartheid e perseguição contra palestinos, o que, no direito internacional, equivale a crimes contra a humanidade. A HRW aponta a apreensão de terras para a construção de assentamentos como exemplo dos crimes de Israel.