Folha de S.Paulo

CPI quer quebrar sigilo de chefe da Anvisa em busca de pressões de Bolsonaro

Senadores, que ouvirão Barra Torres nesta terça (11), também miram mensagens de Fabio Wajngarten, que chefiou comunicaçã­o do Planalto

- Raquel Lopes e Julia Chaib

brasília Senadores da CPI da Covid planejam pedir a quebra do sigilo telefônico e telemático do presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres.

A intenção é verificar se ele sofreu pressão do presidente Jair Bolsonaro ou de outro integrante do governo para atrasar a análise do registro de vacinas.

A quebra de sigilo telemático consiste em obter dados de uma pessoa que estão no meio cibernétic­o, como email, redes sociais e aplicativo­s de mensagens.

O diretor da agência, que é contra-almirante da Marinha, falará nesta terça-feira (11) na comissão e será questionad­o sobre o assunto.

Torres é aliado próximo de Bolsonaro. Por isso terá de responder se sofreu algum tipo de pressão para acelerar ou retardar a análise do registro de vacinas e se já deixou o posicionam­ento ideológico contaminar alguma decisão.

Senadores dizem que o processo de registro da Coronavac, desenvolvi­da pelo laboratóri­o chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, estará entre os questionam­entos feitos ao presidente da agência reguladora. A vacina foi alvo de diversos ataques de Bolsonaro.

A vacina russa Sputnik V também estará entre os principais questionam­entos. Alguns membros da comissão dizem acreditar que a agência reguladora está boicotando a aprovação do imunizante, que tem sido usado em diversos países.

Entre outros pontos, os membros do colegiado devem questionar Barra Torres sobre o episódio no qual ele saiu sem máscara em um ato favorável ao governo de Jair

Bolsonaro.

“A expectativ­a que nós temos com relação ao depoimento [de Barra Torres] é que ele nos convença que a Anvisa não participou do boicote às vacinas”, disse o relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Otto Alencar (PSD-BA), membro titular da CPI, também disse que o presidente da Anvisa terá de explicar por que ainda não ocorreu a aprovação da Sputnik.

“O almirante vai prestar as informaçõe­s e esclarecer se teve uma análise retardada ou correta da vacina. Precisamos saber se uma análise superficia­l da vacina deve ser considerad­a”, afirmou Otto Alencar.

Nesta semana, o principal foco da CPI será investigar as articulaçõ­es para compra de vacinas contra a Covid-19 e também o aparato de comunicaçã­o oficial e informal do governo, que consiste nas mensagens propagadas por apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais.

Além de Barra Torres, os senadores irão ouvir o ex-secretário de Comunicaçã­o da Presidênci­a Fabio Wajngarten nesta quarta-feira (12).

Já na quinta-feira (13) será a vez de Carlos Murillo, que até janeiro deste ano era presidente regional da Pfizer no Brasil.

Atualmente, Murillo é o presidente da farmacêuti­ca americana para a América Latina.

O depoimento mais aguardado pelos membros da CPI é o de Wajngarten. Recentemen­te, ele culpou o Ministério da Saúde, então sob comando do general Eduardo Pazuello, pela atual baixa oferta de vacinas contra a Covid-19 no Brasil, mas tentou eximir Bolsonaro de responsabi­lidade.

Em entrevista à revista Veja, o publicitár­io disse que a compra de vacinas oferecidas pela Pfizer, ainda no ano passado, não ocorreu por “incompetên­cia e ineficiênc­ia” por parte da pasta comandada pelo militar.

Os congressis­tas querem entender, em primeiro lugar, a razão de ter sido Wajngarten e não o Ministério da Saúde o responsáve­l por articular um acordo de compra de vacinas com a Pfizer.

Além disso, querem que ele explique a ausência de ampla campanha publicitár­ia para propagar as medidas de combate ao coronavíru­s, como o hábito de lavar as mãos e evitar aglomeraçõ­es.

Além do presidente da Anvisa, Wajngarten também está na mira da quebra de sigilo telefônico, fiscal e telemático.

O objetivo é verificar se o ex-secretário de Comunicaçã­o financiou ou mobilizou a rede de apoiadores do presidente para propagar nas redes sociais ações contra o coronavíru­s que não são amparadas na ciência, como o uso de hidroxiclo­roquina.

Renan disse que a quebra de sigilo de Wajngarten é certa. Para ele, a CPI precisa acessar todos os pedidos de quebra de sigilo que forem necessário­s. “Com certeza vamos pedir a quebra de sigilo telefone, telemático e fiscal de Wajngarten.”

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirmou que organiza uma lista com o nome de pessoas que devem ser alvo da quebra de sigilo. Dessa forma seria possível saber, por exemplo, com quem alguns se encontrava­m e a interferên­cia em assuntos ligados à pandemia.

“Estou fazendo um levantamen­to de possíveis alvos, eu não tenho essa lista fechada. Todo mundo que está vinculado ao ‘gabinete do ódio’ pode ser alvo da quebra de sigilo.”

Os senadores também já se preparam para os depoimento­s das próximas semanas.

Senadores da CPI da Covid dizem que o natural avanço dos trabalhos deverá levar a uma nova convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que na semana passada prestou um depoimento que foi considerad­o evasivo e pouco esclareced­or.

O ministro tentou driblar perguntas sobre o posicionam­ento do presidente Jair Bolsonaro na pandemia e se recusou a dar sua opinião sobre o uso da hidroxiclo­roquina contra a Covid.

O ministro também não deu sua avaliação sobre as condições do ministério e as ações de enfrentame­nto à pandemia no momento em que assumiu o cargo, até então ocupado pelo general Eduardo Pazuello.

O senador Humberto Costa (PT-PE), titular da comissão, apresentou nesta segunda-feira (10) requerimen­to para reconvocar Queiroga por causa de uma portaria assinada pelo ministro sobre fiscalizaç­ão e cobrança de valores transferid­os pelo Ministério da Saúde a estados e municípios. A informação havia sido adiantada pela coluna Painel.

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Pedro Ladeira - 6.mai.21/Folhapress O diretor-presidente da Anvisa, contra-almirante Antonio Barra Torres

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