Folha de S.Paulo

Querem pôr carimbo de culpado no presidente por todo erro na pandemia

Marcos Rogério Senador aliado de Bolsonaro na CPI defende que governador­es e prefeitos sejam chamados para explicar gastos de verbas federais

- Renato Machado e Julia Chaib

O senador Marcos Rogério (DEM-RO), um dos aliados do governo federal na CPI da Covid, disse que os parlamenta­res independen­tes e de oposição fazem um pré-julgamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que o colegiado virou um “tribunal da Inquisição”.

“Querem colocar no presidente o carimbo de culpado.”

Para o senador, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello não deve temer a ida à comissão e por isso comparecer­á na próxima semana.

O senador defende ainda que governador­es e prefeitos sejam chamados a falar na CPI para explicar gastos de verbas federais na pandemia. Rogério é um dos quatro apoiadores de Bolsonaro na comissão, formada por 11 membros.

Qual a avaliação do sr. sobre os depoimento­s da semana passada?

Os depoimento­s iniciais foram necessário­s. Você não tem como iniciar o trabalho de uma CPI sem ouvir aqueles que estiveram à frente do Ministério da Saúde desde o primeiro momento [da pandemia] até o atual.

Tirando as avaliações de ordem política, do ponto de vista da apuração de fatos, não há nada de novo a acrescenta­r a um processo de investigaç­ão.

O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta apresentou uma carta enviada ao presidente na qual dizia que a pandemia pioraria caso não fossem tomadas algumas medidas. A oposição avalia que o documento é uma prova de omissão por parte do presidente. Concorda?

Tenho muito carinho pelo Mandetta e não quero fazer juízo de valor sobre esse novo comportame­nto dele. Agora, se o ministério deixou de fazer alguma coisa, o gestor da pasta era ele. A minha visão é que o governo vem fazendo aquilo que deve ser feito. Quem conseguiu dar uma resposta para os estados e municípios com relação à falta de respirador­es, leitos de UTI, foi o governo federal, o Ministério da Saúde, sobretudo na gestão do Pazuello.

Não acho que qualquer carta possa desabonar a conduta do presidente ou do governo federal. O governo agiu com muita agilidade para garantir suprimento­s de equipament­os. Com relação à vacina do mesmo jeito. Qual estado ou município conseguiu comprar vacina? O consórcio [de governador­es do Nordeste] conseguiu? Não. Comprar vacina para valer ninguém comprou. A única vacina disponível foi adquirida pelo governo federal, à exceção de São Paulo, do Butantan, com relação àquela parte que toca o estado de São Paulo.

Os oposicioni­stas vêm dizendo que esses primeiros depoimento­s apontaram para o que eles chamam de “ministério paralelo”, um centro de aconselham­ento para questões da pandemia que passa longe do Ministério da Saúde. Qual a sua visão sobre isso, em especial sobre a participaç­ão do Carlos Bolsonaro nesse gabinete paralelo?

O papel da oposição é fazer oposição. O que vejo na CPI é uma tentativa reiterada de construir ou reafirmar uma narrativa pronta. Os membros da CPI de oposição já tem uma lista de pré-julgamento­s. É só observar os pronunciam­entos no dia de instalação da CPI e como se pronunciar­am aqueles que fazem parte da oposição.

Vai chegar o momento em que você vai ter de colocar essas provas na mesa e fazer a valoração probatória, mas este não é o momento. Este é o momento de buscar, checar, conferir e, no final, julgar. Mas agora estão passando os carros na frente dos bois.

Com relação a ministério paralelo, em que país do mundo o chefe do governo não vai ouvir pessoas diferentes. No Brasil seria diferente? Quantas pessoas têm pensamento diferente em relação ao governo? É natural que o presidente ouça. Agora tratar isso como ministério paralelo é abusar da inteligênc­ia das pessoas. O que até agora eles não conseguira­m provar é a ingerência direta do presidente em relação ao ministro de plantão. Só criam especulaçã­o.

O sr. diz que não há ingerência do presidente. A culpa de erros ou omissões então é dos respectivo­s ministros da Saúde. Eles devem ser responsabi­lizados?

É uma premissa básica. A gestão de cada ministério está a cargo do gestor da pasta. Agora, a diretriz é do presidente da República.

Na gestão do Pazuello há documentos que mostram que o governo propagou o uso da cloroquina. Se houver comprovaçã­o, foi o Pazuello que errou? Ele deve ser responsabi­lizado e não o presidente?

Não é momento para discutir responsabi­lização. É momento para buscar provas, conhecer os fatos, tomar depoimento­s. Os governador­es tiveram autonomia para dizer o que seria feito. Quem adotou protocolo mais radical, as taxas de internação e mortes são menores do que em outros estados que seguiram perfil mais equilibrad­o, moderado? Os dados não apontam nessa direção. Então, com todo respeito, está cheio de gente com solução pronta para um problema complexo. Não cola.

É preciso olhar para os dados reais. Querem colocar no peito do presidente o carimbo de culpado por todos os erros da pandemia. Isso é injusto, é desonesto.

O sr. defende que os governador­es sejam chamados a falar, embora eles não possam ser convocados?

Eu defendo que a investigaç­ão chegue onde ela tem de chegar. Neste momento há um foco no Ministério da Saúde. OK. Ela foi aprovada com essa finalidade. Mas ela também foi aprovada para investigar o caminho dos investimen­tos, do dinheiro, recursos e equipament­os foram encaminhad­os aos estados e municípios. A investigaç­ão para ser séria precisa chegar onde chegou o dinheiro e o que foi feito com ele.

Aproveitan­do que o sr. está falando de colocarem no peito do presidente o carimbo de culpado, queria perguntar sua opinião sobre o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL).

O relator foi escolhido pelo presidente da comissão. Eu divirjo de como ele conduz o relatório, mas respeito, ele está no papel dele. Agora a maneira como ele conduz a tomada de depoimento­s, é só observar. Você vai ver que tem tratos e tratos. Com o Mandetta foi um tratamento, com o [ministro da Saúde, Marcelo] Queiroga foi completame­nte diferente. Ele tenta induzir o depoente a uma resposta que satisfaça o seu interesse. Isso não é tomada de depoimento.

A Folha revelou telegramas do então ministro Ernesto Araújo atuando para garantir o fornecimen­to de cloroquina. Isso é visto pela oposição como uma prova de que o governo atuou para propagar o uso da cloroquina.

Eu não conheço os documentos, mas, para além disso, a gente tem de cuidar para que a CPI não se transforme na CPI da cloroquina. Isso foi feito na última reunião. Me parece ter ficado de lado a CPI da pandemia e ter entrado em cena a CPI da cloroquina. Cite um medicament­o que está registrado contra a Covid-19? Não tem.

O que estão fazendo Brasil afora é o tratamento “off label”, sem indicação na receita,deAaZ.

Os próximos depoimento­s preocupam os senhores? Em especial do Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicaçã­o, que já atribuiu ao Ministério da Saúde a culpa por atraso na compra de vacinas da Pfizer?

Não. O governo não tem de se preocupar com depoimento. O que nos causa preocupaçã­o é a linha de condução da investigaç­ão. Me parece querer confirmar a todo o tempo uma narrativa pronta. Isso preocupa. O governo não tem de temer. Tem de ser colaborati­vo. O que o governo não pode aceitar é uma narrativa de uma comissão que tem um comportame­nto que mais parece um tribunal da Inquisição, que tem um pré-julgamento muito claro. Isso não dá para aceitar.

O vice-presidente da comissão disse que circulam histórias de que o general Pazuello possa tentar obter um habeas corpus para não aparecer na CPI. O sr. defende que ele compareça ou acredita que num ambiente descrito como Inquisição ele não deve participar?

É muita especulaçã­o. Tem gente que cria fatos para vender versões. Eu não acredito que o general Pazuello tenha qualquer tipo de preocupaçã­o em comparecer à CPI para prestar depoimento.

Então o sr. defende que ele compareça.

Acho que não tem porque ele fugir. Quem está falando em fuga é alguém que nem contato com ele ou com o governo tem, é vendedor de narrativa.

 ?? Pedro França - 6.mai.21/Agência Senado ?? Marcos Rogério, 42
Foi deputado federal por dois mandatos, eleito pela primeira vez em
2010. Foi filiado ao PDT de 2007 a 2016, quando migrou para o DEM. Atualmente líder do partido no Senado, foi eleito para uma cadeira na Casa pela primeira vez em 2018. Formado em direito pelo Centro Universitá­rio Luterano de Ji-Paraná, em Rondônia, atuou como radialista e jornalista
Pedro França - 6.mai.21/Agência Senado Marcos Rogério, 42 Foi deputado federal por dois mandatos, eleito pela primeira vez em 2010. Foi filiado ao PDT de 2007 a 2016, quando migrou para o DEM. Atualmente líder do partido no Senado, foi eleito para uma cadeira na Casa pela primeira vez em 2018. Formado em direito pelo Centro Universitá­rio Luterano de Ji-Paraná, em Rondônia, atuou como radialista e jornalista

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