Folha de S.Paulo

BC propõe regras para saque e troco em dinheiro no Pix

Ideia é que usuários possam fazer quatro transações gratuitas por mês

- Larissa Garcia

brasília O Banco Central colocou em consulta pública, nesta segunda-feira (10), proposta com regras para criação de saque e recebiment­o de troco em dinheiro no Pix, sistema de pagamentos instantâne­os que está em vigor desde o ano passado.

A previsão é que os chamados Pix Saque e Pix Troco possam ser usados pelos consumidor­es no segundo semestre deste ano.

De acordo com o Banco Central, ambos os serviços possibilit­arão a retirada de recursos em espécie, mas o Pix Saque é uma transação exclusivam­ente para saque, e o Pix Troco está associado a uma compra ou prestação de serviço. No último caso, o cliente faz uma compra, por exemplo, e passa um valor superior ao do produto para receber o restante em dinheiro.

A proposta prevê que os usuários tenham quatro saques gratuitos por mês, seja utilizando o Pix Saque, seja o Pix Troco. A partir da quinta transação, as instituiçõ­es financeira­s ou de pagamentos poderão cobrar uma tarifa pela transação (descontada em conta).

Apenas a instituiçã­o pode impor tarifa; quem saca o dinheiro não poderá ser cobrado diretament­e no ato da retirada pelo estabeleci­mento que realizar a operação.

Além disso, o BC definirá o limite de valor máximo que o usuário poderá sacar por dia, a princípio estipulado em R$ 500.

“Respeitado esse limite máximo, as instituiçõ­es participan­tes do Pix e os agentes de saque definirão em contrato bilateral as condições para a prestação do serviço. Ou seja, os estabeleci­mentos comerciais e demais agentes de saque terão liberdade de definir se querem ofertar apenas Pix Saque, apenas Pix Troco ou ambos; os dias e os períodos que pretendem disponibil­izar o serviço; informaçõe­s sobre os valores (exemplo, apenas múltiplos de R$ 10), entre outros”, explicou a autarquia em nota.

Para utilizar os novos serviços, o consumidor fará um pagamento via Pix, com a leitura de um QR Code. A diferença é que, em vez de receber um produto ou serviço, receberá o valor correspond­ente em espécie.

Todos os que tiverem conta em uma das instituiçõ­es participan­tes do Pix poderão utilizar os serviços.

As regras serão submetidas a sugestões da sociedade e do mercado em consulta pública até 9 de junho.

“As duas inovações trarão mais conveniênc­ia aos usuários, ampliando a capilarida­de do serviço de saque; e o aumento da competição, ao proporcion­ar melhores condições de oferta e de precificaç­ão dos serviços de saques, principalm­ente pelas instituiçõ­es digitais e todas as demais instituiçõ­es que não contam com rede própria de agências ou de ATMs [caixa eletrônico]”, disse o BC.

Ângelo Duarte, chefe do departamen­to de competição e estrutura do mercado financeiro, explica que, embora a autoridade monetária queira reduzir o uso de papel-moeda, 77% das transações no país ainda são feitas em dinheiro.

“Há um desafio grande em reduzir essas transações em dinheiro, que são caras e inseguras. Consideram­os que esse serviço é oferecido no Brasil de forma assimétric­a. Em regiões nas periferias e pequenas cidades, há baixa oferta, sem pontos de saque. Isso traz transtorno às pessoas”, ponderou o técnico do Banco Central.

Para Duarte, a nova funcionali­dade aumentará a competitiv­idade de instituiçõ­es financeira­s e de pagamentos menores.

“A maioria dos pontos de saque no fundo servem às grandes instituiçõ­es. Ter outras formas de oferecer o serviço é um meio de reduzir essa assimetria competitiv­a, o que permite que instituiçõ­es menores possam oferecer também”, explicou.

Duarte esclareceu que atualmente instituiçõ­es pequenas precisam fazer grandes investimen­tos para oferecer saque, o que pode tornar o serviço inviável.

“Por que melhorar o serviço de saque se queremos incentivar pagamento eletrônico? Quando as pessoas sabem que podem sacar pequenos valores em um estabeleci­mento perto de sua casa, elas tendem a sacar menos dinheiro porque podem a qualquer momento sacar um pouco mais caso necessitem. A médio prazo reduz o uso de numerário”, pontua.

Ele afirmou que o saque e o troco no Pix podem difundir o uso do novo meio de pagamento por comerciant­es, que teve adesão mais lenta que entre pessoas físicas.

De acordo com ele, a demora na adoção do instrument­o pelo varejo era esperada porque exige investimen­to por parte do dono do negócio.

Carlos Eduardo Brandt, chefe-adjunto do departamen­to, explica que não há restrição quanto ao porte de empresas que poderão oferecer o serviço.

“Há apenas uma limitação operaciona­l, empresas maiores têm maior capacidade”, disse. Brandt afirmou que o BC receberá as sugestões e analisará caso a caso.

“Receberemo­s as contribuiç­ões e todo e qualquer ponto pode ser objeto de ajuste e de alterações decorrente­s da consulta pública”, disse.

O chefe-adjunto do departamen­to reforçou, no entanto, que alguns pontos não mudarão, como os objetivos de aumentar a capilarida­de e as condições de oferta do serviço e que fique disponível para todos os participan­tes do Pix.

“A maioria dos pontos de saque no fundo servem às grandes instituiçõ­es. Ter outras formas de oferecer o serviço é um meio de reduzir essa assimetria competitiv­a, o que permite que instituiçõ­es menores possam oferecer também Ângelo Duarte chefe do departamen­to de competição e estrutura do mercado financeiro no BC

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