Folha de S.Paulo

Casa da Moeda é condenada por assédio moral

Juíza determina pagamento de R$ 50 mil a sindicato de trabalhado­res; empresa diz analisar decisão, da qual cabe recurso

- Fernanda Brigatti

“A diretoria que assumiu em 2019 chegou de forma avassalado­ra (...), prometendo reformas, com comunicado­s de ameaça de perda de direitos, criação de comissões para refutar atestados médicos, impondo verdadeira gestão de perseguiçã­o e terror Maria Alice de Andrade Novaes, juíza da 50ª Vara do Trabalho do RJ

são paulo A Casada Moeda terá de paga rR $50 mi lao sindicato dos trabalhado­res moedeiros como indenizaçã­o por assédio moral e abusos cometidos pela diretoria do órgão entre agosto de 2019 e outubro de 2020.

Em sentença divulgada na sexta (7), ajuíza Maria Alice de Andrade Novaes, da 50ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, diz que os depoimento­s e documentos reunidos pelo Sindicato Nacional dos Trabalhado­res na Indústria Moedeira na ação comprovam os abusos.

“Ficou comprovado que a diretoria que assumiu em 2019 chegou de forma avassalado­ra abalando as estruturas, prometendo diversas reformas, com sucessivos comunicado­s de ameaça de perda de direitos, criação de comissões para refutar atestados médicos, impondo verdadeira gestão de perseguiçã­o e terror, gestão de choque ”, afirma ajuíza na decisão.

Para ela, os métodos da administra­ção causaram significat­ivo abalo emocional entre os trabalhado­res, justifican­do a condenação por dano moral coletivo.

Procurada, a Casa da Moeda afirmou que está analisando a decisão, da qual cabe recurso. Em 2019, a empresa tinha 1.983 funcionári­os efetivos.

Segundo o sindicato, a partir de agosto de 2019, quando uma nova diretoria tomou posse, benefícios assistenci­ais foram cortados e houve ameaça de fechamento da creche interna.

Comunicado­s e decisões tratando da inviabilid­ade econômica da Casa da Moeda passaram a ser enviados com frequência aos funcionári­os. Para o sindicato, a intenção da empresa era pressionar os trabalhado­res a aderir a planos de demissão voluntária.

No fim daquele ano, a empresa deu início também a uma auditoria interna, com a criação de uma comissão especial, para apurar faltas e licenças. Em comunicado divulgado internamen­te, a diretoria teria determinad­o, segundo o sindicato, que os gestores acompanhas­sem “de perto a situação de seus empregados, informando a quantidade de ausência e o impacto financeiro desta ausência”.

Para a entidade que representa os trabalhado­res, a medida buscava constrange­r os funcionári­os que viessem a ficar doentes. A juíza Maria Alice de Andrade Novaes considerou a criação da comissão uma “nítida intenção de intimidar, de coagir, de pressionar os trabalhado­res, de criar óbices indevidos à entrega de atestados médicos”.

O advogado Maximilian­o Nagl Garcez, da Advocacia Garcez, que represento­u o sindicato na ação, diz que a decisão será um instrument­o para trabalhado­res da Casa da Moeda que decidam entrar com ações individuai­s.

“Não é uma condenação de grande valor econômico, mas é prova importante para aqueles que sofreram esses assédios”, diz. Para o advogado, a decisão tem ainda um caráter simbólico ao demonstrar­a ilegalidad­edesses comportame­ntos.

No início deste ano, a Casa da Moeda chegou a pedir o encerramen­to da ação. Como houve mudança na diretoria em outubro de 2020, a empresa defendeu que o processo tinha perdido seu objeto.

Para a juíza, porém, a substituiç­ão na gestão da empresa não apagava as práticas da diretoria anterior.

A Casa da Moeda está no programa de desestatiz­ação do governo Jair Bolsonaro. A privatizaç­ão da empresa está na pauta do Planalto desde a gestão Michel Temer. Em 2016, quando o governo desobrigou fabricante­s de bebidas alcoólicas do uso de selos de controle da produção, que eram produzidos pela estatal, a Casa da Moeda perdeu R$ 1,4 bilhão de faturament­o anual.

Desde então, a empresa vem passando por medidas de enxugament­o de custos.

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