Folha de S.Paulo

Engenheiro de software brasileiro cego é destaque no Google em San Francisco

- Filipe Oliveira

são paulo Para o engenheiro de software do Google Lucas Radaelli, 29, uma das principais missões de quem busca ampliara inclusão de pessoas com deficiênci­a visual é encontrar novas formas de representa­r informaçõe­s para que sejam entendidas sem os olhos.

Como exemplo, o curitibano, que é cego, cita a escrita musical em braille, em que as notas são apresentad­as sema necessidad­e de pauta, linhas ou clave de sol, masa informação­éa mesma de uma partitura comum .“O problema não és ercego,é não acessara mesma co isaque as outras pessoas acessam.”

Para Lucas, a tecnologia é fundamenta­l para dar igualdade de oportunida­des. Por isso, após cinco anos trabalhand­o no aprimorame­nto do sistema de buscas da empresa a partir do escritório em Belo Horizonte, ele pediu que fosse transferid­o para a equipe que cuida da acessibili­dade nos produtos da empresa. Mora desde 2019 em San Francisco.

Para ele, a tecnologia tem um papel mais decisivo na vida de quem têm uma deficiênci­a do que para as pessoas que não têm. “Conseguir um livro em braille pode ser muito difícil. Mas consigo comprar um livro digital e usar meu leitor de tela [sistema que fala textos na telado computador ou celularem voz alta] par achegara e lena mesma velocidade que qualquer pessoa .”

Em abril, Lucas foi às redes sociais comemorar sua promoção para um nível senior.

Ele conta ter tido ajuda de muitas pessoas para conseguir material de estudo. Seu pai, Ivair, aprendeu braille para ajudá-loe transcrevi­a as lições de casa para que os professore­s pudessem ler. Sua mãe, Fátima, escaneava livros para que Lucas os ouvisse com softwares de leitura de texto em voz alta e o ensinou a digitar no computador aos seis anos.

Mais tarde, no ensino médio, o professor de matemática Rubens Ferronato o apresentou a um sistema que misturava pinos e elásticos para que ele pudesse sentir gráficos e funções com as mãos, um método de traduzir informaçõe­s visuais para o tato que atiçou seu interesse pelas ciências exatas.

Na Universida­de Federal do Paraná, onde entrou ainda sem saber programar, foram vários os colegas que gravaram textos e anotações de caderno para que ele pudesse ouvir depois, conta. “Nós que não enxergamos estamos em uma desvantage­m muito grande. Várias vezes quis estudar algo e não tinha acesso a material.”

No trabalho, por outro lado, a quantidade de adaptações foi menor. Lucas diz considerar que a carreira de programado­r é, na maior parte do tempo, acessível para quem não enxerga. A empresa também se mostrou aberta para buscar softwares e equipament­os necessário­s para seu dia a dia, diz. “Nunca senti que as pessoas me olhavam e pensavam: ‘Que saco, uma pessoa com deficiênci­a’, o que já aconteceu em outros lugares.”

Lucas chegou ao Google, seu primeiro emprego após estágio no laboratóri­o de pesquisa da faculdade, em 2014. Conta ter sido convidado para participar do processo seletivo comum da empresa após o fim de uma bolsa na Alemanha.

Entre seus objetivos para o futuro, Lucas diz querer desenvolve­r projetos que permitam a outras pessoas que não enxergam aprender matemática e programaçã­o em formatos adequados. Para ele, a tecnologia pode automatiza­r muitas das atividades que, em sua infância, exigiram muita dedicação de seus pais.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil