Folha de S.Paulo

Grandes feiras do agro deixam de faturar R$ 25 bi na pandemia

Cancelamen­tos, adiamentos e realização de eventos só de forma virtual dão prejuízo a expositore­s e cidades

- Marcelo Toledo

ribeirão preto O anúncio do cancelamen­to até mesmo de um formato híbrido da edição deste ano da Agrishow, ocorrido na última semana, fez o mundo do agronegóci­o concluir que, ao menos nos próximos meses, novamente as principais feiras agrícolas do país não serão realizadas presencial­mente. Isso se ocorrerem em 2021.

Evento que reuniu em sua mais recente edição, em 2019, 159 mil pessoas em cinco dias, com faturament­o de R$ 2,9 bilhões, a feira abrigada em Ribeirão Preto desde 1994 é considerad­a o principal termômetro do agronegóci­o nacional e estava programada para 21 a 25 de junho.

Só com a Agrishow (Feira Internacio­nal de Tecnologia Agrícola em Ação), portanto, o mercado ligado a máquinas e implemento­s agrícolas deixou de vender em 2020 e neste ano o equivalent­e a R$ 5,8 bilhões —e poderia ser mais, já que a feira vinha apresentan­do alta nas vendas.

Ela se somou a outros eventos importante­s no país, que também deixaram de acontecer a partir do momento em que a pandemia da Covid-19 obrigou governos a decretar medidas de distanciam­ento social.

Só com sete dos principais eventos, deixaram de girar R$ 25,4 bilhões, consideran­do os faturament­os estimados para as últimas edições presenciai­s de cada uma delas.

“A gente já tinha alterado a data para junho [normalment­e ocorria em abril], pensando em dar tempo para a vacinação avançar. Mas ninguém contava com essa segunda onda, ou agravament­o da primeira. Como a Agrishow tem a caracterís­tica de ser presencial, olho no olho, o melhor foi deixar para 2022”, disse o presidente da Agrishow, Francisco Matturro.

Além da Agrishow, também foram canceladas presencial­mente duas vezes consecutiv­as outras feiras importante­s do país, como a Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO), que poderia ter movimentad­o R$ 6,8 bilhões nas duas temporadas, mantida a performanc­e de 2019, ano em que atraiu 118 mil visitantes.

Estão na mesma situação a Norte Show, em Sinop (MT), que seria em abril e foi transferid­a para abril do ano que vem, e a Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães (BA).

A feira mato-grossense teve negócios totais de R$ 1 bilhão em 2019, com público total de 32 mil pessoas, enquanto o evento na cidade baiana alcançou R$ 1,91 bilhão, com 68 mil pessoas.

Já a Coopavel ainda conseguiu realizar o evento em 2020, em fevereiro, mês que antecedeu o início das restrições devido à pandemia, mas não teve sua versão presencial neste ano. Com isso, deixou de negociar R$ 2,5 bilhões, num evento que atraiu 298.910 visitantes no ano passado.

Para tentar evitar um segundo cancelamen­to consecutiv­o, a Fenasucro, principal feira do setor sucroenerg­ético, prevista para agosto em Sertãozinh­o (a 333 km de São Paulo), foi adiada para novembro. Em 2020, deixaram de ser negociados R$ 4 bilhões em intenções de negócios, num evento que atraiu 40 mil pessoas.

Docente da USP especializ­ado em agronegóci­os, Marcos Fava Neves disse que os cancelamen­tos das feiras representa­m um desastre, mas não só para o agronegóci­o.

“Principalm­ente para empresas prestadora­s de serviços, que deixam de os oferecer. Em relação às vendas das empresas, estas acabam acontecend­o em boa parte em outros canais. Mas, para os prestadore­s de serviços nas feiras, esse mercado simplesmen­te sumiu”, afirmou.

De acordo com ele, o cancelamen­to também é prejudicia­l para as cidades que abrigam os eventos agrícolas.

“Pois, em vez de lotar tudo, fica tudo vazio, como hotéis, restaurant­es, Uber, táxi. As cidades deixam de arrecadar o ISS [Imposto Sobre Serviços] e outros impostos.”

Apesar dos cancelamen­tos ou adiamentos, houve quem decidisse fazer um evento totalmente virtual, como a Expozebu, organizada pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) e encerrada no domingo (9) em Uberaba, no Triângulo Mineiro. E ela mostrou que, apesar da crise econômica, há apetite no mercado do agro.

Não teve a movimentaç­ão de R$ 250 milhões que se esperava de uma edição presencial —meta de 2020, quando também não foi realizada—, mas movimentou até aqui R$ 44,5 milhões apenas com os leilões de gado.

Apesar de a exposição ter terminado, os leilões vinculados a ela seguirão até o próximo dia 22, e a projeção é que ultrapasse o valor de 2019, R$ 48,8 milhões.

“Não tivemos tempo ano passado de fazer a Expozebu porque fomos pegos de surpresa [pela pandemia], mas tivemos tempo de fazer a Expogenéti­ca e agora a Expozebu virtual”, disse o presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Júnior.

A Expozebu revelou o animal mais caro do ano até agora: a vaca Sophie Ourofino, que foi comerciali­zada por R$ 1,59 milhão em um dos leilões.

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