Folha de S.Paulo

Ex-funcionári­os da Embraer tentam levar novo avião ao ar

Desaer busca investimen­to para viabilizar turbo-hélice de até 19 passageiro­s

- Filipe Oliveira

são paulo Formada em São José dos Campos (SP) por ex-funcionári­os da Embraer, a startup Desaer busca investimen­tos para viabilizar uma nova aeronave nacional.

O modelo desenvolvi­do pela empresa recebeu o nome de ATL-100, sigla para Aeronave de Transporte Leve. A meta é atender a partir de 2025 a demanda da aviação regional, do transporte de cargas e das Forças Armadas.

As aeronaves, de motor turbo-hélice, terão capacidade para até 19 passageiro­s ou 2.500 quilos de carga.

O engenheiro Evandro Fileno, que trabalhou por 20 anos na Embraer, diz ter decidido criar a empresa em 2016 por considerar que havia uma oportunida­de no mercado não atendida pela companhia.

O empresário calcula que existam 5.000 aviões do porte do ATL-100 em circulação no mundo, a maior parte fabricada nos anos 1970 e 1980. Fileno estima que 2.000 dessas aeronaves precisarão deixar o mercado em uma década. Por outro lado, as fabricante­s vêm dedicando a maior parte de seus esforços para aeronaves de grande porte, o que deixa espaço para a startup. A Embraer, por exemplo, encerrou a linha de produção do modelo Bandeirant­e, que o ATL100 tenta substituir, em 1991.

Além disso, Fileno diz ver no plano do governo de São Paulo de leiloar 22 aeroportos regionais em julho para destravar obras e atrair investimen­tos para o setor como um impulso para a demanda por aeronaves como a que desenvolve.

Fileno diz que o projeto do ATL 100 prevê uma aeronave de cabine não pressuriza­da, para voar preferenci­almente em baixa altitude ou com cilindros de oxigênio (no caso de missões militares), de manutenção barata e com trem de pouso fixo (sem sistema de retração) para pouso e decolagem em qualquer pista.

A autonomia de voo será de 1.500 quilômetro­s com carga total ou 2.100 quilômetro­s quilômetro­s sem carga. “Queremos uma aeronave Simples, bruta e que atende ao cliente.”

O ATL 100 tem preço estimado de US$ 5,5 milhões (R$ 29 milhões). Segundo Fileno, a companhia tem assinadas 12 intenções de compra, de clientes no Brasil e no Uruguai, afirma Fileno.

Após avançar na elaboração do projeto, a companhia agora busca recursos para erguer sua fábrica, que, nos cálculos de Fileno, poderia produzir quatro aviões por mês.

Fileno tem como sócios na Desaer outros cinco colegas de Embraer. Hoje, sua companhia conta com 42 pessoas, a maior parte oriundas da fabricante nacional, e está sediada na Incubaero, incubadora de novos negócios da Fundação Casimiro Montenegro Filho, ligada ao ITA (Instituto Tecnológic­o de Aeronáutic­a) e sediada em São José dos Campos.

Até agora, foram investidos R$ 800 mil dos próprios sócios na iniciativa. Porém, para que a fabricação das aeronaves inicie, o valor necessário fica na casa de US$ 100 milhões (R$ 520 milhões). Os sócios buscam investidor­es na Ásia e na Europa para tentar levantar o dinheiro, diz Fileno.

Ele diz que a empresa terá para sua fábrica uma área de 270 mil metros quadrados, cedidos pela Prefeitura de Araxá (MG), no aeroporto Romeu Zema, em parceria anunciada em março. A definição sobre o período pelo qual o município permitirá o uso sem custos do espaço pela startup deve ocorrer nos próximos dias, afirma o empresário.

Assim que os recursos estiverem disponívei­s, a operação da fábrica poderia começar em dois anos, avalia Fileno. Os voos de teste para obter a certificaç­ão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) teriam início em 2023, e a entrada no mercado ficaria para 2025, afirma.

A Desaer também firmou em 2020 uma joint venture para o desenvolvi­mento, a fabricação e a comerciali­zação do ATL-100 com o Ceiia (Centro de Engenharia e Desenvolvi­mento de Produto), instituiçã­o portuguesa dedicada ao desenvolvi­mento de produtos de mobilidade.

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Projeto do ATL-100, em desenvolvi­mento pela Desaer
Divulgação STARTUPS & FINTECHS Projeto do ATL-100, em desenvolvi­mento pela Desaer

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