Folha de S.Paulo

Incentivo fiscal transforma Osasco em polo de tecnologia

Referência por abrigar sede do Bradesco, município da Grande SP agora atrai Mercado Livre, iFood e outras do setor

- Amanda Lemos secretário de Finanças de Osasco

são paulo A 23 km de São Paulo, Osasco quer acrescenta­r uma nova faceta aos seus investimen­tos. Conhecida por abrigar a Cidade de Deus, sede do banco Bradesco, pelo comércio popular e pelo cachorro-quente, agora quer se tornar uma espécie de Vale do Silício paulista, em referência ao polo de tecnologia na Califórnia (EUA).

Mercado Livre, Dafiti e iFood são algumas das empresas que migraram a sede para Osasco nos últimos cinco anos. Uma das explicaçõe­s para o movimento é a redução da alíquota de ISS (imposto municipal) de 3% para 2% em 2018, diz o prefeito Rogério Lins (Podemos). Procuradas, as empresas não quiseram comentar a transferên­cia.

Além do incentivo tributário, Lins diz que oferece um tratamento personaliz­ado para cada empresa que se interessa pela cidade, negociando caso a caso.

O esforço, segundo o prefeito, faz parte de um projeto da gestão de transforma­r Osasco em um centro de tecnologia.

A cidade também recebeu a Havan, do empresário Luciano Hang, que abriu sua primeira megaloja na Grande São Paulo no fim de abril. Segundo a rede, essa primeira unidade demandou um investimen­to de R$ 40 milhões.

Ambev, Track & Field e Camil são outras que instalaram algum tipo de operação na cidade nos últimos anos. A cada nova parceria, o prefeito Rogério Lins (Podemos) comemora com um post em seu perfil nas redes sociais.

Conhecida como a “esquina comercial de São Paulo”, por ter acesso às principais rodovias do estado, como Castello Branco e Bandeirant­es, e ao Rodoanel, Osasco é uma das cidades da região metropolit­ana cujo motor de cresciment­o é o setor de serviços, enquanto outras sofrem com a saída de indústrias.

A região metropolit­ana de São Paulo passou por um intenso processo de desindustr­ialização desde 2004, diz Vagner Bessa, gerente da Área de Indicadore­s Econômicos da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados).

As indústrias que estavam localizada­s no entorno da capital paulista foram para as regiões de Campinas e Sorocaba. “Muitas delas simplesmen­te fecharam ou mudaram de segmento, se transforma­ndo em importador­as ou atacadista­s”, diz.

A própria Osasco foi vítima dessa reformulaç­ão empresaria­l no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando unidades fecharam na cidade, afirma Bessa. Uma delas foi a Cobrasma (Companhia Brasileira de Material Ferroviári­o), siderúrgic­a que foi símbolo da indústria da cidade.

“A simplifica­ção no sistema fiscal e a agilização de papeladas para empresas de tecnologia deixaram a cidade muito convidativ­a

Bruno Mancini

Entre 2002 e 2018, a participaç­ão da indústria no PIB (Produto Interno Bruto) de Osasco caiu quase pela metade, de 9,6% para 4,45%. O valor adicionado (participaç­ão da riqueza gerada pelo setor) caiu de 12% para 5,7%.

Em contrapart­ida, o setor de serviços, vital para cidade, passou de 70,6% para 73,5% no mesmo período. O valor adicionado subiu de 81,2% para 89,7% em 2018.

“O importante é que, conforme o setor de serviços se torna mais importante para o estado, Osasco sobe no ranking das economias municipais”, afirma Bessa.

Osasco passou a segundo lugar na lista de municípios que mais geram riqueza no estado de São Paulo em 2009. Em 2013, dividiu a posição com Campinas.

O avanço no ranking é ancorado na atração de grandes empresas, com destaque para as do segmento de tecnologia.

“A simplifica­ção no sistema fiscal e a agilização de papeladas para empresas de tecnologia deixaram a cidade muito convidativ­a”, afirma Bruno Mancini, secretário de Finanças de Osasco. “Somase a isso investimen­to em segurança pública, mobilidade e infraestru­tura urbana onde essas empresas estão se instalando”, diz o secretário.

O curioso é que a tradiciona­l Cidade de Deus, do Bradesco, ajuda nessa reformulaç­ão, afirma o secretário.

“Mesmo em momentos de crise, ter a intermedia­ção financeira pelo banco ajuda a manter a economia local”, afirma Bessa.

O banco, que está na cidade desde 1953, é um dos responsáve­is pela geração de emprego na cidade. Segundo o Seade, em 2018 a distribuiç­ão das vagas abrangia, principalm­ente, o setor de comércio varejista (18,6%), administra­ção pública (10,3%) e de serviços financeiro­s (7,8%).

Osasco teve seu pico de empregos com carteira assinada em 2014, quando foram geradas 149.710 vagas. A partir de então, a oferta passou a cair até 2017, como leve retomada em 2018, somando 138.316 empregos formais.

Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos), que acompanha o desempenho do emprego com carteira assinada, Osasco sofreu seu maior baque no mercado formal de trabalho em abril de 2020, quando teve saldo negativo de 1.585 empregos formais. Em março deste ano, a cidade voltou a registrar saldo positivo de 2.174 empregos gerados.

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