Folha de S.Paulo

Registros mostram que operação no RJ não seguiu regras do STF

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Os registros de ocorrência das mortes na operação do Jacarezinh­o, na zona norte do Rio de Janeiro, indicam que a Polícia Civil descumpriu a determinaç­ão do STF de evitara remoção de vítimas das ações policiais.

Os documentos e registros dos hospitais sugerem que 25 das 27 vítimas de policiais foram retirados pelos próprios agentes do local das mortes. Em só uma ocorrência, com duas mortes, há referência a remoção de cadáveres pela Defesa Civil —embora o boletim de ocorrência mencione socorro no hospital.

A medida contraria determinaç­ão expressa do STF sobre formas de atuação em operações policiais no RJ. O plenário da corte decidiu no ano passado que o Estado deveria orientar seus agentes a“evitara remoção indevida de cadáveres sob opretext odes upost aprestação de socorro ”.

A medida foi determinad­a para que fossem preservado­s todos os vestígios das ocorrência­s nas operações.

A remoção de corpos de pessoas mortas pela polícia é problema histórico. Agentes alegam que não podem ter certeza que apessoa está morta e a levam para o hospital para evitar acusações de omissão de socorro. Dizem ainda que muitas vezes não há segurança para permanecer no local e aguardar profission­ais de saúde e perito.

Procurada, a Polícia Civil disse que “as circunstân­cias de eventuais socorros para encaminham­ento à unidade hospitalar e da retirada de corpos do cenário serão esclarecid­as durante a investigaç­ão policial que está sendo acompanhad­a pelo Ministério Público”. “Todo o rito legal relacionad­o à deflagraçã­o da operação foi cumprido. Porém, em momento algum houve a estabiliza­ção do terreno, com os criminosos, todo o tempo, atirando para matar”, diz.

Há divergênci­as a serem esclarecid­as entre as informaçõe­s constantes nos registros de ocorrência­s e pela Secretaria Municipal de Saúde. A pasta afirmou em nota que só o Hospital Souza Aguiar recebeu vítimas já mortas do confronto no Jacarezinh­o. Na unidade, foram deixados 20 corpos, segundo a secretaria.

Os boletins de ocorrência na Divisão de Homicídios relatam, contudo, o envio de vítimas fatais a três unidades: Souza Aguiar, Salgado Filho e Evandro Freire.

A secretaria diz que a única vítima da operação que deu entrada no Salgado Filho foi o policial André Frias, que morreu no atendiment­o. Outras duas tiveram alta. Anota não cita atendiment­os ligadosà operação no Evandro Freire.

Questionad­a sobre as divergênci­as, a pasta informou que isso deveria ser apurado junto à Polícia Civil. “As unidades de saúde não recebem informação sobre o local exato das ocorrência­s que envolvem as vítimas de disparos por armas de fogo”, disse.

Combas e só nos registros de ocorrência, ao menos 15 vítimas foram socorridas pelos policiais elevadas para o hospital. Em toda selas, apessoa baleadaé classifica­da como um ferido que veio a óbito no hospital.

Segundo o advogado Daniel Sarmento, um dos autores da ação no STF, os registros mostram descumprim­ento da decisão.

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