País precisa ampliar produção de vacina e buscar novos fornecedores, afirma pesquisadores
são paulo O Brasil precisa abrir negociações com novos fornecedores de vacinas e acelerar a ampliação da capacidade de produção dos laboratórios públicos para compensar o atraso na vacinação contra a Covid-19, diz um grupo de pesquisadores que monitora as políticas de enfrentamento da pandemia.
Ligado à Rede de Pesquisa Solidária, que articula instituições acadêmicas, o grupo defende investimentos para ampliar também a capacidade das empresas de absorver tecnologias e complementar a produção dos laboratórios.
Para Glauco Arbix, professor da USP e coordenador do grupo de pesquisadores, a decisão dos EUA de apoiar a liberação de patentes poderá criar oportunidades para países como o Brasil, mas sem resultados a curto prazo.
Num estudo que a Rede divulgou nesta segunda (10), Arbix e Fernanda Negri, do Ipea, ligado ao Ministério da Economia, defendem um esforço internacional para coordenar o processo de transferência tecnológica e distribuir seus benefícios.
A falta de vacinas contra a Covid-19 é culpa exclusiva do governo, ou há outras causas?
Fernanda De Negri Problemas de escassez da oferta são crônicos no mercado de vacinas, e por isso as dificuldades na pandemia eram esperadas. Apesar do rápido desenvolvimento de imunizantes pelos laboratórios, era previsível que teríamos uma demanda sem precedentes. Um governo mais comprometido do que o nosso teria assegurado maior número de doses para a população se tivesse começado a trabalhar antes.
Glauco Arbix Nosso sistema público de saúde deu resposta muito eficaz à crise da Aids no passado. Não fizemos nada parecido desta vez. Nossa tragédia é que o conhecimento acumulado foi desmobilizado.
O governo apostou que atingiríamos a imunidade coletiva não com as vacinas, mas com o rápido contágio da população. O resultado está aí.
A liberação de patentes, nos termos discutidos pelos organismos internacionais, poderia contribuir?
FN Não haveria ganho para o Brasil a curto prazo, porque não temos capacidade produtiva ociosa na indústria. Seriam necessários meses para negociar acordos de transferência de tecnologia. Mas há outros produtores que poderiam aproveitar a liberação de patentes, o que aumentaria a oferta de vacinas. A posição assumida pelo Brasil no início da discussão, de oposição ao debate, foi um equívoco.
O que se pode esperar dessa discussão?
GA A mudança de posição dos EUA, agora favorável à liberação das patentes, abre caminho para que as vacinas sejam tratadas como um bem público global, estimula a cooperação e coloca os laboratórios farmacêuticos sob pressão.
Para se defender, os fabricantes começarão a fazer parcerias para aumentar a produção. O saldo pode ser positivo, mas ainda assim não seria suficiente.
Empresas brasileiras teriam condições de participar desse esforço?
GA A indústria farmacêutica brasileira é frágil e investe pouco em pesquisa e desenvolvimento. As empresas do setor só entrariam nisso se o governo comprasse sua produção antecipadamente, financiasse novas fábricas e ajudasse a formar gente. Não basta quebrar patentes. Mas a médio prazo a diversificação ajudaria a reduzir a dependência dos laboratórios oficiais.
O que é possível fazer para acelerar a vacinação antes disso?
FN A curto prazo, o que podemos fazer é importar mais vacinas e investir na ampliação da capacidade industrial da Fiocruz e do Butantan.