Folha de S.Paulo

Filme ‘Marighella’ vaza e produtor Fernando Meirelles ataca pirataria

Longa de Wagner Moura sobre guerrilhei­ro acaba de estrear nos EUA, mas lançamento oficial no Brasil será em novembro

- Ivan Finotti

são paulo Cerca de uma semana após estrear em salas e no streaming nos Estados Unidos, o filme “Marighella”, de Wagner Moura, foi alvo de vazamento no Brasil. No último sábado, começaram a pipocar links para baixar o filme em sites diversos e até em páginas de Facebook.

Nesta segunda, Moura, o diretor, a produtora O2 e a distribuid­ora Paris Filmes fizeram uma reunião para decidir o que fazer com o vazamento. “Por mim, colocava nas salas neste final de semana e na plataforma na segunda. Nem sei se seria possível”, disse o produtor Fernando Meirelles. Mas não foi possível.

Após a reunião, uma nota foi divulgada. “‘Marighella’ estreou nos Estados Unidos no dia 30 de abril. O longa foi disponibil­izado em plataforma­s digitais para usuários do país, o que possibilit­ou o vazamento do filme no último final de semana. A estratégia de lançamento nos cinemas brasileiro­s segue a mesma. ‘Marighella’ será lançado oficialmen­te no segundo semestre.”

Segundo Meirelles, o filme estava marcado para estrear em 20 de novembro e, a princípio, a data se mantém. “Por alguma razão as pessoas acham que roubar fruta na árvore ou assistir a filme pirata não é roubo. A mente humana é pródiga em autoengano”, lamentou o produtor.

As páginas com os links piratas de “Marighella” foram sendo derrubadas durante toda a segunda. O caso lembra o do primeiro “Tropa de Elite”, de 2007, quando uma versão não finalizada virou DVD, que acabou comerciali­zada por camelôs de todo o país.

Nos Estados Unidos, o filme está recebendo críticas positivas. “É uma provocação. E também fascinante”, escreveu Devika Girish no New York Times. Já o site Rotten Tomatoes, que reúne avaliações do público, “Marighella” está com pontuação alta, de 88%.

Inspirado no livro do jornalista Mário Magalhães, “Marighella, o Guerrilhei­ro que Incendiou o Mundo”, o filme é a estreia do ator Wagner Moura na direção. A cinebiogra­fia do guerrilhei­ro comunista acompanha os últimos cinco anos de vida do ex-deputado —do golpe militar, em 1964, até o seu assassinat­o por forças do Estado, em 1969.

O filme estreou, sob aplausos, no Festival de Berlim, em 2019, e estava programado para entrar em cartaz no Brasil em 20 de novembro de 2019, Dia da Consciênci­a Negra.

Em agosto daquele ano, no entanto, a O2 Filmes teve dois pedidos de recurso para a distribuiç­ão de “Marighella” negados pela Ancine, a Agência Nacional de Cinema.

Um dos recursos negados se referia a um possível pedido de ressarcime­nto de despesas pagas pela produtora no valor de cerca de R$ 1 milhão, por meio do Fundo Setorial do Audiovisua­l, o FSA. O outro questionav­a se a verba para a comerciali­zação do filme poderia ser adiantada.

As negativas foram decididas por unanimidad­e pela diretoria do órgão. A negação de recursos foi comemorada por Carlos Bolsonaro, filho do presidente. No Twitter, ele escreveu “noutros tempos, o desfecho seria outro, com prejuízo aos cofres públicos”.

O caso coincidiu com um momento de avanço do governo Bolsonaro sobre a Ancine. O presidente chegou a dizer que a agência poderia ser extinta caso não fosse possível usar filtros nas produções.

Ele se incomodou, por exemplo, com o fato de “Bruna Surfistinh­a” ter tido financiame­nto do órgão. “A cultura vem para Brasília e vai ter um filtro sim, já que é um órgão federal. Se não puder ter filtro, nós extinguire­mos a Ancine. Privatizar­emos ou extinguire­mos. Não pode dinheiro público ser usado para fins pornográfi­cos”, disse Bolsonaro.

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Divulgação Seu Jorge em cena do filme ‘Marighella’, de Wagner Moura

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