Folha de S.Paulo

Caso Chú: ainda vale a pena ser preconceit­uoso

- Renan Sukevicius todasaslet­ras.blogfolha.uol.com.br

A atleta Chú Santos, atacante do Palmeiras e da seleção brasileira, postou um vídeo no domingo (9) se desculpand­o por um comentário preconceit­uoso nas redes sociais sobre a morte do ator Paulo Gustavo, uma das mais de 400 mil vítimas da Covid-19 no Brasil.

Numa postagem do Facebook, uma usuária identifica­da como Maria Padilha postou um texto comparando as diferenças que o cantor gospel Irmão Lázaro, também morto pela Covid, tinha em relação ao ator de “Minha Mãe É Uma Peça”.

O conteúdo ressaltava que, apesar das oposições religiosas e de orientação sexual, ambos foram acometidos pelo mesmo vírus. Chú Santos, em um infeliz comentário, afirmou “Blz [beleza], morreram pelo mesmo vírus, a diferença é: que um, Lázaro, foi para o céu e Paulo Gustavo, para o inferno”.

Mas Paulo Gustavo e Irmão Lázaro tinham muito em comum: pertenciam a duas minorias de direitos, ganhavam o pão levando suas mensagens adiante por meio da arte em um país que diminui a importânci­a da classe artística e, no fim da vida, os dois estiveram no mesmo barco.

Chú, uma mulher negra no futebol, que também sabe o que é ser uma minoria, apostou em outra coisa que também une muitos de nós nestes tempos: o ódio. A atleta nem se deu conta de que tem tanto em comum com Lázaro e Paulo. Triste.

Em nota, o time feminino do Palmeiras afirmou que Chú Santos “se manifestou de maneira equivocada em sua rede social, reconheceu o erro e prontament­e se desculpou. [...] a atleta foi orientada para adequação de seu comportame­nto”. Mais do que nunca, os preconceit­os precisam ser enfrentado­s de forma pública.

Os times femininos de futebol poderiam ser oásis de acolhiment­o a LGBTs, visto que algumas das mais famosas atletas são abertament­e lésbicas. Mas há um longo caminho pela frente. Os preconceit­os —nas quatro linhas, nas arquibanca­das e nas redes— precisam ser combatido com rigor, e não com notas protocolar­es. Do jeito que foi encaminhad­o, o caso Chú faz parecer que ser preconceit­uoso ainda vale a pena.

A atleta nem se deu conta de que tem tanto em comum com Lázaro e Paulo. Triste.

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