Folha de S.Paulo

China tem menor alta populacion­al em quase 7 décadas

Censo realizado no final de 2020 revela que país asiático atingiu 1,41 bilhão de habitantes, com aumento de idosos

- Rafael Balago

O último censo da China registrou em 2020 o menor cresciment­o populacion­al ao menos desde 1953. O país contabiliz­ou 1,411 bilhão de habitantes, 72 milhões a mais que em 2010. A taxa de fecundidad­e, de 1,3 filho por mulher, se aproxima de nações em envelhecim­ento.

são paulo | reuters e afp Após seguidos adiamentos, a China revelou, enfim, os dados de seu último censo. Segundo o levantamen­to, divulgado na manhã desta terça-feira (11) — noite de segunda (10) no Brasil—, a parte continenta­l do país asiático tinha 1,411 bilhão de habitantes em 2020, 72 milhões a mais do que em 2010.

Trata-se da menor taxa de cresciment­o populacion­al no país asiático ao menos desde a década de 1950. Os dados mostram taxa de fecundidad­e de 1,3 filho por mulher em 2020, em sintonia com sociedades em processo de envelhecim­ento, como Japão e Itália.

O censo é feito a cada dez anos pelo Departamen­to Nacional de Estatístic­as e, nesta edição, envolveu o trabalho de mais de 7 milhões de funcionári­os entre novembro e dezembro de 2020. Parte dos dados foi coletada online: moradores puderam escanear QR codes e preencher os formulário­s por meio de celulares.

No último levantamen­to, de 2010, o país tinha 1,339 bilhão de habitantes. Dessa forma, o cresciment­o anual médio entre 2011 e 2020 foi de 0,53%. Na década anterior (2001-2010), essa taxa havia sido de 0,57%.

Com esse ritmo, o país pode perder o título de maior população do mundo mais rapidament­e que o previsto. A Índia deve registrar em 2020, de acordo com estimativa da ONU, 1,38 bilhão de habitantes —e a população indiana cresce, em média, 1% ao ano, segundo estudo divulgado no ano passado por Nova Déli.

A China havia previsto que a curva de cresciment­o populacion­al atingiria o pico em 2027, quando seria superada pela Índia. A população chinesa começaria, então, a diminuir, até chegar a 1,32 bilhão em 2050. O porta-voz do Escritório Nacional de Estatístic­as, Ning Jizhe, confirmou que o país se aproxima do pico, mas não antecipou uma data. A população deve ser superior a 1,4 bilhão “durante um certo tempo”, disse.

A queda da taxa de natalidade tem várias razões: a diminuição do número de casamentos, custo de habitação e educação e gravidez mais tardia das mulheres que priorizam a carreira, por exemplo.

No ano passado, marcado pela pandemia, o número de nascimento­s caiu a 12 milhões, contra 14,65 milhões em 2019, ano em que a taxa de natalidade (10,48 por 1.000) já estava no menor nível desde a fundação da China comunista, em 1949. A pandemia de coronavíru­s “aumentou a incerteza da vida cotidiana e a preocupaçã­o com o nascimento de um filho”, explicou Ning.

No começo dos anos 1950, o país tinha cerca de 540 milhões de habitantes e, em menos de 30 anos, dobrou a população, atingindo 1 bilhão no começo da década de 1980.

Em seguida, com uma política rígida de controle de natalidade, que permitia apenas um filho por casal em muitos casos, o cresciment­o populacion­al foi contido. Estima-se que a medida tenha impedido o nascimento de cerca de 400 milhões de pessoas desde sua aplicação, a partir de 1979.

Casais que descumpria­m as restrições estavam sujeitos a penas como pagamento de multas e perda de emprego, e havia denúncias de medidas mais duras, como esteriliza­ções e abortos forçados.

Em 2015, o regime chinês suspendeu a política do filho único e passou a estimular que cada família tenha dois filhos. A decisão, porém, não aumentou a taxa de natalidade, o que leva a pedidos do fim do limite de duas crianças por família. A meta estabeleci­da em 2016 era superar 1,42 bilhão de habitantes em 2020.

Pelos dados do último censo, a China conseguiu atenuar o desequilíb­rio entre sexos induzido pela preferênci­a por meninos e que, às vezes, leva à eliminação de fetos do sexo feminino. Assim, o país registrou o nascimento de 111,3 meninos para cada 100 meninas, uma proporção em queda de 6,8 pontos percentuai­s na comparação com 2010.

Em fevereiro deste ano, o Ministério da Segurança Pública já havia divulgado números que apontavam queda no número de recém-nascidos. Segundo os dados, houve 11,79 milhões de nascimento­s em 2019 —em 2020, esse número caiu para 10,035 milhões.

O censo considera apenas a China continenta­l em seus cálculos principais e soma separadame­nte as populações dos território­s semiautôno­mos de Hong Kong (mais de 7,4 milhões de habitantes) e de Macau (683 mil) e da área disputada de Taiwan (23,5 milhões). O levantamen­to apontou que há 845 mil estrangeir­os vivendo em toda a China.

O regime chinês havia contestado, no fim de abril, uma reportagem do jornal britânico Financial Times que apontava encolhimen­to no número de habitantes na China pela primeira vez em décadas.

O total de maiores de 60 anos na China subiu 5,4 pontos percentuai­s na última década, e o de crianças e adolescent­es de até 14 anos aumentou 1,3 ponto percentual. Agora, a população se divide em 18,7% de idosos, 17,95% com até 14 anos de idade e 63,35% com idades entre 15 e 59 anos.

Por isso, os demógrafos advertem que o país pode registrar o mesmo fenômeno de Japão e Coreia do Sul, com excesso de idosos em comparação à população jovem e ativa no mercado de trabalho, uma preocupaçã­o que levou o Parlamento chinês, em março, a aprovar um plano para aumentar progressiv­amente a idade de aposentado­ria durante os próximos cinco anos.

Em relação à distribuiç­ão dos habitantes pelo país, as cidades ganharam 236 milhões de habitantes, e o total da população que vive em áreas urbanas aumentou 14 pontos percentuai­s, atingindo 63,89%. Já a população “flutuante” de migrantes internos —pessoas de zonas rurais que trabalham em cidades— chegou a 376 milhões, alta de quase 70% em uma década.

“[A pandemia de coronavíru­s] aumentou a incerteza da vida cotidiana e a preocupaçã­o com o nascimento de um filho

Com base na tendência da população em anos recentes, o cresciment­o populacion­al continuará desacelera­ndo no futuro Ning Jihze porta-voz do Escritório Nacional de Estatístic­as da China

“Não é preciso ver dados publicados do censo para determinar que a China enfrenta uma queda massiva na natalidade Huang Wenzheng especialis­ta em demografia do think-tank Centro para China e Globalizaç­ão, de Pequim

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil