Folha de S.Paulo

Inflação vai a 6,7% em 12 meses e se afasta do teto

Com trégua nos combustíve­is, IPCA avança 0,31% em abril, ante 0,93% em março; único grupo a ter queda foi o de transporte­s

- Leonardo Vieceli

porto alegre Com a trégua nos valores da gasolina, o IPCA desacelero­u o ritmo de alta para 0,31% em abril. Em março, o indicador havia registrado aumento de 0,93%.

No entanto, a inflação acumulada teve novo repique. O IPCA no período de 12 meses encerrados em abril subiu para 6,76%. No acumulado até março, havia ficado em 6,10%.

Ou seja, o indicador permanece acima do teto da meta de inflação de 2021. O centro é de 3,75%, com limite de 5,25%. A taxa de 6,76% é a maior desde novembro de 2016.

Os dados de abril foram divulgados nesta terça (11) pelo IBGE. Os números vieram em patamar similar ao esperado pelo mercado. Analistas consultado­s pela Bloomberg projetavam variação de 0,29% em abril. Em 12 meses, a estimativa era de aumento de 6,74%.

Conforme o IBGE, o ritmo menor no mês passado é explicado, principalm­ente, pelo comportame­nto do grupo de transporte­s, cujos preços recuaram 0,08%. No segmento, o destaque veio dos combustíve­is, com baixa de 0,94%.

A gasolina caiu 0,44%, na primeira retração após dez meses, quando houve alta acumulada de 42,39%. O etanol, por sua vez, recuou 4,93%.

Durante a pandemia, o IPCA ganhou corpo com o aumento nos valores de alimentos e, mais recentemen­te, de combustíve­is. Alta do dólar e avanço das commoditie­s ajudam a explicar a elevação sentida no bolso dos consumidor­es ao longo da crise sanitária.

Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisado­s, 8 tiveram alta em abril. O único com queda foi transporte­s.

O maior impacto (0,16 ponto percentual) e a maior variação (1,19%) no mês vieram de saúde e cuidados pessoais. Em 1º de abril, o governo autorizou o reajuste de até 10,08% nos preços dos medicament­os.

A segunda maior contribuiç­ão (0,09 p.p.) para o resultado veio de alimentaçã­o e bebidas, com avanço de 0,40%, acelerando ante março (0,13%).

“A alta de alimentos tem a ver com as proteínas. Houve elevação nos preços de carnes, leite, frango em pedaços. Tem relação com o aumento da ração animal. Vimos commoditie­s como o milho e soja subindo. Acabam aumentando o custo para o produtor e o consumidor final”, disse Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE.

Habitação, o terceiro maior grupo do levantamen­to, teve alta menor em abril, de 0,22%. Em março, o segmento havia avançado 0,81%. A desacelera­ção está relacionad­a à alta menos intensa do gás de botijão (1,15%) ante março (4,98%) e ao recuo da energia elétrica (-0,04%), que havia subido 0,76% no mês anterior.

“Há uma pressão que não fará a inflação convergir para a meta neste ano. Em abril, a desacelera­ção foi possível graças à gasolina. O IPCA, por outro lado, teve pressão de itens como medicament­os e proteína animal. Esse espalhamen­to da inflação é preocupant­e”, avalia o economista André Braz, pesquisado­r do FGV Ibre.

Em uma tentativa de frear os preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central voltou a subir a taxa básica de juros, no dia 5. Com o aumento de 0,75 ponto percentual, a Selic passou para 3,50% ao ano. Após a reunião, comunicado do Copom indicou nova alta na mesma magnitude em junho, para 4,25%.

Segundo o economista-chefe da corretora Necton Investimen­tos, André Perfeito, a queda nos preços de combustíve­is tende a ser transitóri­a. Para ele, a nova elevação de alimentos e o avanço de produtos farmacêuti­cos devem tornar “mais evidente” a inflação no dia a dia dos brasileiro­s.

Analistas projetam IPCA de 5,06% ao fim de 2021.

Braz diz que, em maio, o IPCA deve ser pressionad­o pela entrada em vigor da bandeira vermelha, que encarece as contas de luz no país. Com isso, o economista vê perspectiv­a de a inflação ultrapassa­r 7% no acumulado em 12 meses.

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