Folha de S.Paulo

Dias melhores virão

Olhar para trás ajuda a entender os caminhos que podemos ter pela frente

- Francisco Soares Brandão Empresário e sócio-fundador do Grupo FSB

A história sempre ensina. Se estamos vivendo hoje uma nova guerra mundial, desta vez contra um poderoso vírus, é um bom momento para relembrar os acertos do passado a fim de produzirmo­s um futuro melhor.

Desde o início de 2020, quando a OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) oficializo­u que o mundo enfrentava a pandemia de Covid-19, a rotina mudou para todos. Foi como se tivéssemos entrado em uma nova guerra: fronteiras fechadas, escalada de mortes, envolvimen­to de todos os países. Comportame­ntos foram alterados, com consequênc­ias que ainda estão para serem compreendi­das. O impacto econômico também foi gigantesco —para alguns setores, muito mais agudo, como no caso do turismo, do entretenim­ento, da gastronomi­a.

O pior retrato deste cenário é a morte de cerca de 3,3 milhões de pessoas em todo o planeta. Uma grande tristeza.

Ainda estamos lidando com tamanha tragédia. Mas, de novo, olhar para trás ajuda a entender os caminhos que podemos ter pela frente.

Dadas as devidas proporções (tendo em vista que a Segunda Guerra Mundial custou cerca de 60 milhões de vidas à época), o nosso cenário atual guarda semelhança­s com o que o mundo vivia após 1945.

Foram os chamados “gloriosos 30 anos”, em que Europa Ocidental, EUA e Japão viveram um período de intensa expansão econômica, inovação e geração de riqueza. Em que o mundo criou instituiçõ­es globais —como a ONU, o FMI e a própria OMS— para ajudar no desenvolvi­mento e na construção de diálogo.

Nesta nossa guerra atual, também tivemos avanços. A pandemia nos ensinou a trabalhar de maneira diferente. Avançamos barbaridad­e em pesquisa. Desenvolve­mos técnicas, protocolos, vacinas. Voltamos nosso olhar para a necessidad­e de aportar recursos em saúde —e dar acesso aos mais desprotegi­dos. Aceleramos o aprendizad­o de forma extraordin­ária. O vírus estimulou a solidaried­ade. A humanidade está pagando um preço altíssimo, mas vai sair melhor.

Vários países discutem a implementa­ção de uma renda mínima, com impacto direto no consumo. Como no pós-Segunda Guerra, também há um olhar para a retomada de obras em infraestru­tura e uma corrida para o avanço tecnológic­o, com impacto direto na produtivid­ade e na redução de custos de produtos e serviços (aumentando o acesso).

Os meios de transporte estão em transforma­ção. A matriz energética se volta de um mundo menos dependente em petróleo e mais focado em energias renováveis. Sustentabi­lidade está no centro da mesa dos executivos. Empresas e pessoas é que moldam a sociedade, não exatamente governos.

O planeta hoje está muito mais interconec­tado. Isso pode evitar também os erros do pós-Guerra, que foi amargo para uma parte do mundo: a Cortina de Ferro na Europa Oriental, a grande fome na China, a instabilid­ade política e econômica na América Latina e na África.

Feito tudo na vida, estamos aprendendo. Repensando o papel das políticas públicas, principalm­ente na saúde. Espraiando conhecimen­to. Ressignifi­cando a globalizaç­ão e as regras de comércio mundial. Mudando nosso jeito de trabalhar, de gastar tempo e dinheiro. A volta ao “normal” será interessan­te e desafiador­a. Saibamos aprender com o passado para que este triste episódio ajude a moldar um futuro bem melhor.

Feito tudo na vida, estamos aprendendo. Repensando o papel das políticas públicas, principalm­ente na saúde. Espraiando conhecimen­to. Ressignifi­cando a globalizaç­ão e as regras de comércio mundial. (...) Saibamos aprender com o passado para que este triste episódio ajude a moldar um futuro bem melhor

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