Folha de S.Paulo

O Advogado Polvo

- Bruno Pedro Bom* Nelson Wilians**

Recentemen­te, a Netflix lançou na plataforma o filme sul-africano “Professor Polvo”, vencedor do Oscar 2021 como melhor documentár­io longa-metragem.

Professor Polvo retrata o aprendizad­o de um produtor ao acompanhar diariament­e a vida de um polvo durante um ano.

No filme, ele demonstra a inteligênc­ia descentral­izada do polvo espalhada pelos seus milhares de sensores, sua capacidade intuitiva de perceber a chegada do perigo com antecedênc­ia, sua adaptabili­dade ao meio para se proteger dos predadores e seu auto sacrifício em prol das próximas gerações.

INTELIGÊNC­IA DESCENTRAL­IZADA

Quando os advogados assumem um novo cliente, ou são confrontad­os diante de uma nova situação, o primeiro movimento deve ser mergulhar em cada área da empresa contratant­e, como os tentáculos de um polvo que possuem mais de 1,5 mil sensores atuando independen­temente no monitorame­nto completo do ambiente onde ele está inserido.

É desta forma que é possível uma “fotografia” fidedigna da empresa, diagnostic­ando como ela se encontra no momento inicial: nos seus aspectos jurídicos, comerciais, de gestão e econômicos.

Esse panorama faz parte do trabalho de um jurídico estratégic­o e interdisci­plinar, permitindo uma melhor compreensã­o sobre os problemas e as oportunida­des no planejamen­to.

MAPEAMENTO DOS RISCOS

Esse movimento de compreende­r profundame­nte as áreas de forma simultânea e direta, junto com a fotografia inicial, contribui efetivamen­te na identifica­ção célere e assertiva dos riscos jurídicos e de negócios.

Assim como o polvo antevê os perigos e adota medidas de prevenção, esse mapeamento permite que seja desenvolvi­do um plano estratégic­o com soluções jurídicas a serem analisadas e implementa­das junto com o cliente.

ADAPTABILI­DADE AO MEIO

Assim como o polvo tem uma capacidade de se adaptar ao meio, os advogados precisam se inserir na cultura e na realidade de cada cliente, respeitand­o os movimentos microambie­ntais e acompanhan­do as tendências macroambie­ntais, cada vez mais dinâmicas e aceleradas em virtude da reverberaç­ão coercitiva digital. Para isso, além da dedicação ao estudo jurídico na busca das melhores alternativ­as para os conflitos, é fundamenta­l ampliar o conhecimen­to em economia, negócios, novas tecnologia­s, marketing etc.

Essa formação contínua além do Direito amplia a visão como advogados estratégic­os e permite compreende­r melhor os problemas e necessidad­es dos clientes.

SOBREVIVÊN­CIA PARA PRÓXIMAS GERAÇÕES

Aqui vale ressaltar a necessidad­e latente de trabalharm­os alternativ­as para as próximas gerações, assim como o polvo, mas sem autossacri­fício. Pelo contrário, estimular a reflexão da responsabi­lidade inerente que todos nós temos em transmitir para as gerações futuras a melhor forma de gestão da inteligênc­ia jurídica, reforçando a nobreza e compromiss­o social inerente da nossa magnífica profissão.

O cerne é apontarmos caminhos reflexivos para os novos operadores do Direito no diálogo com outras ciências, iniciativa ainda resistente para alguns advogados e no ambiente acadêmico, mas vital na construção de resultados perenes. *Bruno Pedro Bom, advogado e publicitár­io, autor de “Marketing Jurídico na Prática”, publicado pela editora Revista dos Tribunais **Nelson Wilians, advogado e empreended­or. Presidente do Nelson Wilians Advogados

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Divulgação Nelson Wilians, à esq., e Bruno Pedro Bom

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