Torres constrange Planalto, que agora teme Wajngarten
Governo considera imprevisível o depoimento, nesta quarta-feira, do ex-chefe da Comunicação da Presidência
brasília Depois de avaliar como constrangedoras as falas do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, na CPI da Covid, integrantes do Palácio do Planalto estão apreensivos com o depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, marcado para esta quarta-feira (12).
Senadores da base governista e auxiliares ppróximos do presidente Jair Bolsonaro avaliam que as respostas que Wajngarten dará na comissão serão uma surpresa e não há como prever o teor das declarações.
Há receio, porém, de que ele culpe o governo pela demora na compra e entrega de vacinas.
A oitiva do ex-secretário ocorre um dia após um depoimento considerado desastroso pelo Planalto. Nesta terça-feira (11), o presidente da Anvisa criticou as falas e ações negacionistas do chefe do Executivo e pediu que ninguém siga suas orientações.
Barra Torres, aliado próximo e amigo do presidente, ainda confirmou a tentativa de alterar, por meio de um decreto presidencial, a bula da hidroxicloroquina, com objetivo de ampliar o seu uso para que pudesse ser usada no tratamento da Covid.
Barra Torres também disse ser contra a indicação da droga, que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus.
Interlocutores de Bolsonaro destacaram que essas declarações aumentam a pressão sobre o presidente por virem de um aliado próximo discordando publicamente da linha adotada pelo mandatário durante a pandemia.
Avaliam também que a oitiva deve servir para reforçar a imagem de Bolsonaro como um líder que ignorou recomendações técnicas para o enfrentamento do vírus.
Auxiliares do chefe do Executivo avaliam que ele estará novamente sob pressão na CPI com o depoimento de Wajngarten.
O ex-secretário de Comunicação provocou polêmica recentemente ao afirmar à revista Veja que a vacina da Pfizer não foi comprada por incompetência do Ministério da Saúde na gestão do general da ativa Eduardo Pazuello.
De maneira deliberada ou não, Wajngarten acabou atraindo a questão para dentro do Planalto, ao afirmar que ele próprio participou das tratativas com a empresa.
O ex-secretário também já declarou que Bolsonaro participou de ao menos uma reunião em que houve negociação com o laboratório.
Senadores da tropa de choque governista na comissão foram ao Planalto em busca de informações sobre o ex-secretário e orientações de como proceder. Ouviram que o conteúdo do depoimento de Wajngarten é uma incógnita.
Os congressistas ouviram que Wajngarten é considerado por auxiliares próximos do presidente como um aliado confiável. Por outro lado, há estranhamento pelo distanciamento recente.
Uma das desconfianças é que o ex-secretário de Comunicação teme ser acusado de atuar indevidamente durante as negociações com a Pfizer e estaria com receio de ser implicado.
Por isso, dizem pessoas próximas de Bolsonaro, o temor é que ele use seu depoimento para se defender, não importando se isso vai representar implicar o governo e o próprio presidente.
Na entrevista à Veja, Wajngarten tentou poupar Bolsonaro ao direcionar a Pazuello a culpa por não ter fechado acordo com a Pfizer. A estratégia, no entanto, não deixa de atingir o mandatário, avaliam aliados.
Nesta terça, após a oitiva de Barra Torres, coube ao atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defender o chefe.
Em cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro abriu mão de discursar, mesmo com o púlpito montado. O presidente cedeu o lugar ao auxiliar. Queiroga elogiou o comportamento do presidente em relação à liberdade de atuação de médicos.
“O senhor sempre foi um amigo da classe médica. O senhor sempre defendeu a autonomia dos médicos. E os médicos, com os demais profissionais de saúde, são os verdadeiros soldados que vão ajudar a superar essa difícil situação sanitária que se instala no mundo e no nosso país”, disse Queiroga.
O ministro João Roma (Cidadania) também discursou na cerimônia. Ele enalteceu a atuação da gestão Bolsonaro e disse que “o governo vem tomando várias medidas de proteção social”.
Depois do evento, Bolsonaro foi para o Palácio da Alvorada. Questionado sobre a CPI por apoiadores, não citou o nome de Barra Torres.
“Hoje de novo, foram na tecla da cloroquina agora à tarde. Perguntou por que os EU doaram para a gente 2 milhões de comprimidos. O tempo todo. O que eu falo aqui o pessoal bota lá. Eu tomei e me dei bem”, disse.