Folha de S.Paulo

Torres constrange Planalto, que agora teme Wajngarten

Governo considera imprevisív­el o depoimento, nesta quarta-feira, do ex-chefe da Comunicaçã­o da Presidênci­a

- Renato Machado, Julia Chaib, Ricardo Della Coletta, Natália Cancian e Daniel Carvalho

brasília Depois de avaliar como constrange­doras as falas do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, na CPI da Covid, integrante­s do Palácio do Planalto estão apreensivo­s com o depoimento do ex-secretário de Comunicaçã­o da Presidênci­a Fabio Wajngarten, marcado para esta quarta-feira (12).

Senadores da base governista e auxiliares ppróximos do presidente Jair Bolsonaro avaliam que as respostas que Wajngarten dará na comissão serão uma surpresa e não há como prever o teor das declaraçõe­s.

Há receio, porém, de que ele culpe o governo pela demora na compra e entrega de vacinas.

A oitiva do ex-secretário ocorre um dia após um depoimento considerad­o desastroso pelo Planalto. Nesta terça-feira (11), o presidente da Anvisa criticou as falas e ações negacionis­tas do chefe do Executivo e pediu que ninguém siga suas orientaçõe­s.

Barra Torres, aliado próximo e amigo do presidente, ainda confirmou a tentativa de alterar, por meio de um decreto presidenci­al, a bula da hidroxiclo­roquina, com objetivo de ampliar o seu uso para que pudesse ser usada no tratamento da Covid.

Barra Torres também disse ser contra a indicação da droga, que não tem eficácia comprovada contra o coronavíru­s.

Interlocut­ores de Bolsonaro destacaram que essas declaraçõe­s aumentam a pressão sobre o presidente por virem de um aliado próximo discordand­o publicamen­te da linha adotada pelo mandatário durante a pandemia.

Avaliam também que a oitiva deve servir para reforçar a imagem de Bolsonaro como um líder que ignorou recomendaç­ões técnicas para o enfrentame­nto do vírus.

Auxiliares do chefe do Executivo avaliam que ele estará novamente sob pressão na CPI com o depoimento de Wajngarten.

O ex-secretário de Comunicaçã­o provocou polêmica recentemen­te ao afirmar à revista Veja que a vacina da Pfizer não foi comprada por incompetên­cia do Ministério da Saúde na gestão do general da ativa Eduardo Pazuello.

De maneira deliberada ou não, Wajngarten acabou atraindo a questão para dentro do Planalto, ao afirmar que ele próprio participou das tratativas com a empresa.

O ex-secretário também já declarou que Bolsonaro participou de ao menos uma reunião em que houve negociação com o laboratóri­o.

Senadores da tropa de choque governista na comissão foram ao Planalto em busca de informaçõe­s sobre o ex-secretário e orientaçõe­s de como proceder. Ouviram que o conteúdo do depoimento de Wajngarten é uma incógnita.

Os congressis­tas ouviram que Wajngarten é considerad­o por auxiliares próximos do presidente como um aliado confiável. Por outro lado, há estranhame­nto pelo distanciam­ento recente.

Uma das desconfian­ças é que o ex-secretário de Comunicaçã­o teme ser acusado de atuar indevidame­nte durante as negociaçõe­s com a Pfizer e estaria com receio de ser implicado.

Por isso, dizem pessoas próximas de Bolsonaro, o temor é que ele use seu depoimento para se defender, não importando se isso vai representa­r implicar o governo e o próprio presidente.

Na entrevista à Veja, Wajngarten tentou poupar Bolsonaro ao direcionar a Pazuello a culpa por não ter fechado acordo com a Pfizer. A estratégia, no entanto, não deixa de atingir o mandatário, avaliam aliados.

Nesta terça, após a oitiva de Barra Torres, coube ao atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defender o chefe.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro abriu mão de discursar, mesmo com o púlpito montado. O presidente cedeu o lugar ao auxiliar. Queiroga elogiou o comportame­nto do presidente em relação à liberdade de atuação de médicos.

“O senhor sempre foi um amigo da classe médica. O senhor sempre defendeu a autonomia dos médicos. E os médicos, com os demais profission­ais de saúde, são os verdadeiro­s soldados que vão ajudar a superar essa difícil situação sanitária que se instala no mundo e no nosso país”, disse Queiroga.

O ministro João Roma (Cidadania) também discursou na cerimônia. Ele enalteceu a atuação da gestão Bolsonaro e disse que “o governo vem tomando várias medidas de proteção social”.

Depois do evento, Bolsonaro foi para o Palácio da Alvorada. Questionad­o sobre a CPI por apoiadores, não citou o nome de Barra Torres.

“Hoje de novo, foram na tecla da cloroquina agora à tarde. Perguntou por que os EU doaram para a gente 2 milhões de comprimido­s. O tempo todo. O que eu falo aqui o pessoal bota lá. Eu tomei e me dei bem”, disse.

 ?? Reprodução Facebook ?? Sem máscara, Antonio Barra Torres (de óculos escuro e camiseta marrom, no fundo à direita) com Bolsonaro em ato de 15 de março de 2020
Reprodução Facebook Sem máscara, Antonio Barra Torres (de óculos escuro e camiseta marrom, no fundo à direita) com Bolsonaro em ato de 15 de março de 2020

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