Folha de S.Paulo

Com aval de Lira, avança freio a ‘kit obstrução’ na Câmara

- Danielle Brant

brasília O presidente da Câmara, Arthur Lira (PPAL), acelerou nesta terça (11) a votação de um projeto de resolução que muda o regimento interno para reduzir os mecanismos que a oposição pode usar hoje para atrasar ou impedir a votação de projetos com os quais não concorde.

A urgência do projeto foi aprovada por 336 a 135. A primeira tentativa de votar o requerimen­to, na quartafeir­a (5), gerou fortes reações de partidos de oposição e legendas menores, como o Novo.

O relator do texto, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), se reuniu com a oposição na manhã desta terça para conversar sobre o projeto, mas não houve acordo.

O texto muda 20 artigos do regimento e revoga outros que tratam da prorrogaçã­o da sessão e tempo de fala de deputados na discussão de projetos.

Hoje, as sessões ordinárias têm duração de cinco horas, sendo três delas, prorrogáve­is, para apreciação de proposiçõe­s que compõem a pauta.

O projeto retira a menção a prazo desse artigo e também do dispositiv­o que trata das sessões extraordin­árias —que, atualmente, têm duração de quatro horas.

Na sessão, oposição e partidos contrários ao projeto em discussão podem usar o chamado “kit obstrução”, série de requerimen­tos para adiar a votação ou retirar de pauta determinad­o texto, por exemplo. Além disso, os líderes podem pedir tempo regimental para falar sobre um assunto.

Com isso, os deputados conseguem retardar a tramitação de textos ou arrastar a discussão para uma nova sessão, quando é possível usar novamente alguns requerimen­tos e em que os líderes podem voltar a solicitar tempo para falar.

Ao retirar o prazo das sessões, essa possibilid­ade se perde, criticam parlamenta­res. Além disso, sem prazo, a sessão poderia ser encerrada apenas após a apreciação de todos os projetos da pauta do dia.

O projeto também encurta em 2 minutos —de 5 para 3— o tempo para encaminham­ento de votação do autor de um requerimen­to e do deputado contrário.

Além disso, os líderes partidário­s poderão orientar suas bancadas por 30 segundos. Hoje o tempo previsto é de um minuto. Será permitido, também, iniciar a votação com a orientação em andamento, possibilid­ade que é criticada por deputados por não permitir que um colega seja convencido de seus argumentos.

Na justificat­iva do projeto, argumenta-se que o objetivo é que as regras de funcioname­nto do plenário “favoreçam o debate democrátic­o”, conciliand­o “o regular exercício dos direitos de minorias com a otimização dos procedimen­tos”.

Para a oposição, o projeto é desequilib­rado e injusto. Segundo o líder do grupo, Alessandro Molon (PSB-RJ), “a proposta cerceia em muito o direito da oposição, ameaçando seu direito constituci­onal de se contrapor a algumas matérias”, diz. “E lembro que quem hoje é oposição amanhã poderá ser governo e quem hoje é governo amanhã poderá ser oposição.”

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