Folha de S.Paulo

Israel bombardeia prédio em Gaza, e Hamas dispara contra Tel Aviv

Troca de mísseis entre Exército israelense e facção radical já causou três mortes em Israel e 32 em Gaza

- Lucas Alonso e Daniela Kresch

bauru (sp) e tel aviv Em mais um dia de confrontos, um prédio de 13 andares em Gaza desabou depois de terv sido atingido por foguetes disparados por Israel. A torre abrigava um escritório usado pela liderança política do Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza e é considerad­o terrorista por Israel, EUA e União Europeia.

Um vídeo que registrou o colapso do prédio mostra colunas de fumaça subindo do edifício, com os andares superiores ainda intactos até a construção desabar, o que levou a um corte de eletricida­de na área ao redor do ataque. Moradores usavam lanternas para procurar seus pertences.

Os habitantes do edifício e pessoas que moram nas proximidad­es da região atingida foram avisados para deixar a área cerca de uma hora antes do ataque, testemunha­s relataram à agência de notícias Reuters. Não ficou claro se o prédio foi totalmente evacuado ou se houve vítimas.

Nesta terça-feira (11), Israel enviou 80 jatos para bombardear a região e concentrou tanques na fronteira, enquanto, em retaliação, o Hamas disparou ao menos 130 foguetes contra Tel Aviv, segunda maior cidade e capital econômica de Israel. Ato contínuo, Israel suspendeu por um breve período os voos do aeroporto

Ben Gurion, e sirenes de ataque aéreo e explosões foram ouvidas ao redor da cidade. No céu, rastros de mísseis intercepto­res lançados contra os foguetes que se aproximava­m iluminavam a escuridão.

Por isso, muitas pessoas em Tel Aviv foram vistas deitadas no chão em shoppings, estações de trem e bares. Nas praças, houve correria em direção a abrigos antiaéreos públicos, enquanto em apartament­os muitos buscaram “espaços seguros” —quartos com paredes reforçadas, obrigatóri­os em todas as casas construída­s após 1991, ou escadarias de prédios mais antigos, distantes de vidros e janelas.

A escalada de violência, que já deixou ao menos 35 pessoas mortas —três em Israel e 32 em Gaza— evoluiu rapidament­e da retórica para a prática. Mais cedo nesta terça, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu havia anunciado que Israel vai intensific­ar a força e a frequência dos ataques contra a Faixa de Gaza.

O ministro da Defesa, Benny Gantz, corroborou as declaraçõe­s do primeiro-ministro, ao afirmar que a operação militar, apelidada de “Guardião dos Muros”, é “só o começo” e que a ofensiva não tem prazo para terminar e deve se prolongar pelos próximos dias.

A nova fase de hostilidad­es entre Israel e Hamas foi desencadea­da por confrontos que já duram cinco dias entre palestinos e forças de segurança israelense­s na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.

Pouco antes das 21h de terça, no horário local, o grupo radical islâmico disparou centenas de foguetes em direção à parte central de Israel, alcançando cidades mais ao norte, como Raanana, que abriga a maior comunidade brasileira no país. Além das sirenes, avisos dos alvos dos projéteis apareciam na TV. O aplicativo do Exército para avisar a ocorrência de ações do tipo também enviou alertas.

Segundo o serviço nacional de emergência de Israel, uma mulher de 50 anos foi morta após um foguete atingir um prédio em Rishon Lezion, e outras duas mulheres morreram em ataques em Ashkelon, no sul do país. A polícia disse ainda que mais de 30 pessoas ficaram feridas, ainda que os militares tenham afirmado que as defesas aéreas estavam intercepta­ndo cerca de 90% dos disparos vindos de Gaza.

Segundo a emissora israelense Canal 12, um oleoduto entre Eilat e Ashkelon foi atingido por um foguete lançado desde Gaza, e um dos disparos acertou um ônibus vazio em Holon, perto de Tel Aviv.

Já na cidade de Beit Hanooun, no norte da Faixa de Gaza, o palestino Abdel-Hamid Hamad disse à Reuters que seu sobrinho Hussein, 11, foi morto na segunda no que os moradores disseram ter sido um ataque aéreo israelense. O menino estava recolhendo lenha quando foi atingido. “Gaza está farta e nada faz diferença agora. Nossos filhos estão sendo mortos. O que devemos fazer?”, disse Hamad.

Militantes da Jihad Islâmica, grupo radical também considerad­o terrorista por Israel, disseram que três de seus membros morreram após serem atingidos por um míssil israelense na Faixa de Gaza.

Israel contesta os relatos das autoridade­s de Gaza sobre as vítimas, assumindo a responsabi­lidade apenas pelas mortes de 15 combatente­s do Hamas. As demais mortes, segundo as forças israelense­s, teriam sido causadas por falhas nos disparos dos foguetes lançados pelos próprios militantes islâmicos —não é possível confirmar de maneira independen­te essa afirmação

Após o acirrament­o do conflito, o Conselho de Segurança da ONU prometeu realizar uma nova reunião de emergência nesta quarta, a segunda em três dias. A nova sessão a portas fechadas do órgão foi solicitada por Tunísia, Noruega e China. A primeira reunião, na segunda, terminou sem declaração do conselho.

A falta de um comunicado público do órgão se dá pela atuação dos Estados Unidos, já que a Casa Branca, nos bastidores, argumenta que o movimento pode apenas piorar a situação em vez de acalmá-la.

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Mohammed Abed/AFP Míssil lançado por Israel atinge edifício que abrigava escritório do Hamas na cidade de Gaza

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