Folha de S.Paulo

Parecer de privatizaç­ão da Eletrobras fortalece estatal dominada pelo centrão

Medida provisória precisa ser votada até 22 de junho pelo Congresso para não perder a validade

- Danielle Brant e Thiago Resende Fábio Pupo e DB

brasília Mudanças feitas pelo relator preliminar da MP que abre caminho para a privatizaç­ão da Eletrobras, deputado Elmar Nascimento (DEMBA), fortalecem uma estatal comandada pelo centrão.

O deputado apresentou a líderes partidário­s nesta terça (11) seu relatório, favorável à medida provisória, mas colocando a cargo da Codevasf (Companhia de Desenvolvi­mento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), estatal loteada com apadrinhad­os do centrão, o controle do dinheiro de obras direcionad­as ao Nordeste e para os reservatór­ios de Furnas (MG).

A MP precisa ser votada até 22 de junho pelo Congresso para não perder a validade.

No texto, Nascimento diz que a MP é convenient­e, “uma vez que permitirá a reestrutur­ação da Eletrobras como empresa forte atuando no setor de energia”. “Nos últimos anos, a participaç­ão da empresa no mercado tem caído gradativam­ente, resultado das limitações em sua capacidade de investimen­to”, indica.

A MP estabeleci­a originalme­nte que as concession­árias que vencessem a privatizaç­ão da Eletrobras destinasse­m, por dez anos, recursos para a revitaliza­ção das bacias do rio São Francisco (R$ 3,5 bilhões) —que engloba Minas Gerais e cinco estados do Nordeste—, dos reservatór­ios de Furnas (MG, R$ 230 milhões) e iniciativa­s para redução de custos de geração de energia na Amazônia (R$ 295 milhões).

Essas condições foram estipulada­s para tentar amenizar a resistênci­a das bancadas do Norte e do Nordeste.

Nascimento ampliou as áreas beneficiad­as pelo dinheiro. Ele incluiu a bacia do rio Parnaíba, que corre nos estados do Maranhão e do Piauí. Com isso, atende a pedidos de parlamenta­res desses estados, que não eram alcançados na versão anterior do texto.

O texto também previa que o controle dessa verba para projetos de revitaliza­ção ficaria a cargo de um comitê gestor a ser criado pelo Executivo, mas Nascimento pôs o comando nas mãos da Codevasf —órgão que, em 2020, já tinha tido suas atribuiçõe­s ampliadas.

Criada em 1970, a companhia é vinculada ao Ministério do Desenvolvi­mento Regional, hoje sob o comando de Rogério Marinho, e atuava em bacias hidrográfi­cas do Nordeste e do Centro-Oeste. Em setembro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou projeto que ampliou as bacias mineiras sob o guarda-chuva da Codevasf, além de bacias do Amapá, do Amazonas e do Pará.

Cargos da Codevasf foram negociados com partidos políticos quando Bolsonaro se aproximou do centrão. A estatal realiza obras de desenvolvi­mento regional e que têm impacto eleitoral. Daí o interesse de parlamenta­res no órgão.

No parecer preliminar, o deputado diz que isso é pela “experiênci­a acumulada pela empresa na execução de políticas nessas regiões”.

O relator também prevê que a gestão e a definição dos projetos de expansão de energia na Amazônia ficarão a cargo das Minas e Energia. “Caso entenda necessário, o ministro poderá delegar essa competênci­a a outro órgão de perfil executivo, mas caberá a ele a prerrogati­va de definir as diretrizes necessária­s para a execução desse programa”.

Com a MP, o governo quer diluir a participaç­ão acionária da União e de outros braços do do Executivo na estatal.

Hoje, a União tem 42,57% das ações ordinárias (com direito a voto) da Eletrobras. O BNDES e o BNDESPar detêm 13,79%, e fundos de governo ficam com 2,97%.

A proposta é fazer com que a empresa lance no mercado novas ações ordinárias, que não seriam compradas pela União. Assim, o aumento do capital social da estatal elétrica diluiria a participaç­ão total do governo até uma fatia minoritári­a próxima de 45%.

Ao falar de reformas, Guedes compara servidor a militante

brasília O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta terça (11) que acreditou nas negociaçõe­s com a classe política para o avanço de reformas e acabou anunciando previsões que não se confirmara­m.

“Eu caí nessa antes, de combinar algumas reformas, achar que vão ser aprovadas e falar ‘olha, dentro de tanto tempo deve acontecer tal coisa’.

Não faço mais previsões, porque respeito o timing da política”, afirmou em sessão da CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara.

Ele respondia a críticas da oposição sobre o encarecime­nto do gás, em contraposi­ção a falas suas de que o preço cairia até 40% após a aprovação do marco legal do setor.

Guedes ainda criticou a estabilida­de no serviço público e disse que não pretende abrir concursos públicos e colocar “militantes” para aparelhar o Estado, o que foi feito, segundo ele, em outras gestões. “Não estamos pensando assim, estamos pensando nas gerações futuras”, afirmou.

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