Folha de S.Paulo

Novo indicador de emprego reforça críticas a Caged e Pnad

Índice lançado pelo Itaú aponta cenário pior do que o do governo, mas mais otimista que o do IBGE

- Fernanda Brigatti

são paulo Com os questionam­entos de especialis­tas em torno dos dados de emprego observados no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos), do Ministério da Economia, e na Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), o Itaú elaborou seu próprio indicador para o mercado de trabalho formal.

O novo índice reforça as principais críticas feitas aos dois levantamen­tos, uma vez que vê um cenário pior do que o desenhado pelo Caged, mas não tão ruim quanto o da Pnad.

“Nós vimos que as duas métricas descolaram. O Caged mostra uma recuperaçã­o muito forte, e a Pnad vai no sentido contrário”, afirma o economista Luka Barbosa, do Itaú Unibanco.

Em relação ao Caged, o banco identifico­u uma diferença acumulada de 304 mil postos de trabalho a mais entre abril e dezembro de 2019 após as mudanças metodológi­cas adotadas pelo governo, em comparação com o formato anterior da pesquisa.

Para o banco, as mudanças metodológi­cas explicam parcialmen­te as diferenças nos resultados, uma vez que mais tipos de emprego passaram a ser considerad­os na estatístic­a.

Por isso, o Itaú avalia não ser possível comparar os dados do Novo Caged (como é chamada a pesquisa após as mudanças) com os do antigo, como faz o governo.

Quando divulgou o resultado do emprego formal do início de 2021, a Secretaria Especial de Previdênci­a e Trabalho do Ministério da Economia informou ter registrado o “melhor janeiro desde o início da série histórica, em 1992”.

O pesquisado­r Bruno Ottoni, do iDados e do Ibre/ FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), já havia apontado descolamen­to semelhante entre as séries do Caged em reportagem da Folha em março deste ano.

Já em relação à Pnad, o Idat-Emprego —como o indicador do Itaú foi batizado— indica uma taxa de desemprego de 14,2%, menor do que a observada na pesquisa do IBGE, de 14,5% para o trimestre encerrado em fevereiro com ajuste sazonal.

O aumento da força de trabalho (que considera a soma total de ocupados e desocupado­s) acima do que o IBGE vem registrand­o explica por que a taxa de desemprego do indicador do Itaú é similar à da Pnad, apesar de o banco identifica­r um cenário de recuperaçã­o mais forte.

Ou seja, o Itaú identifica mais empregados, mas também mais desocupado­s (pessoas desemprega­das, mas que estão em busca de uma vaga), o que resulta em taxa semelhante à do IBGE.

A série ajustada pelo Itaú indica que a população ocupada total chegou a 87,9 milhões em fevereiro. No mesmo período, a Pnad registrava 85,8 milhões.

Segundo Barbosa, esses dados mostram um processo de recuperaçã­o mais forte do que o sugerido pelo IBGE, o que levou o banco a revisar suas expectativ­as para a taxa de desemprego no final do ano, de 14,3% para 12,7%.

“Estamos vendo que tanto o emprego quanto a força de trabalho estão maiores, então sabemos que o emprego ainda vai se recuperar mais”, diz Barbosa.

O Idat-Emprego considera as informaçõe­s de processame­nto de folha de pagamento de empresas que são clientes do Itaú. Segundo o banco, os dados são ajustados de acordo com a participaç­ão do Itaú no mercado e refletem uma amostra de diversos setores da economia, exceto a administra­ção pública.

De acordo com Barbosa, o comportame­nto verificado pelo Idat-Emprego é compatível com o resultado da receita previdenci­ária, que está crescendo.

“Pelo nosso indicador, a variação ano contra ano do emprego formal foi de -2,8% na média do quarto trimestre de 2020 e de -1,3% na média do primeiro trimestre de 2021”, diz o Itaú.

O banco atribui as distorções em relação Pnad à mudança na coleta de informaçõe­s pelo IBGE, que passou a ser feita por telefone, o que pode ter levado o resultado a subestimar a recuperaçã­o do emprego formal.

A Pnad considera empregos formais e informais. Na comparação com o Idat-Emprego, o Itaú usou somente os dados de trabalhos com carteira assinada ou CNPJ. Porém, ao calcular a taxa de desemprego, o banco usou a série de emprego informal da Pnad Contínua.

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