Medo de inflação nos EUA afeta mercados
Cresce preocupação de que alta de preço faça bancos centrais retirarem estímulos; no Brasil, commodities valorizam Bolsa
são paulo As principais Bolsas globais fecharam em queda nesta terça (11), sob reflexo do temor de investidores a uma eventual aceleração da inflação americana, que poderia impactar o ciclo de estímulos monetários no país. Com o suporte da alta nos preços de matérias-primas, o Brasil escapou da tendência e teve um pregão positivo.
Nesta quarta (12), serão divulgados dados de abril da inflação ao consumidor nos EUA. Caso os preços tenham subido mais que o esperado, o banco central americano (Fed) poderá sinalizar um aperto monetário.
Hoje, o juro nos EUA está próximo de zero, o que impulsiona o mercado de capitais, com empréstimos mais baratos e ações com rentabilidade acima da renda fixa.
Nas últimas semanas, cresceu a preocupação dos investidores de que uma ampla recuperação nas economias mundiais e os aumentos no custo de muitas matérias-primas promovam uma elevação forte nos preços.
A alta de preços está sendo alimentada pela escassez mundial de chips, pelo boom no preço das commodities —do minério de ferro, essencial para o aço, à madeira— e pela recuperação rápida das maiores economias.
O espectro de pressões de custos foi amplificado nesta terça por dados que mostram que os preços na porta da fábrica, na China, um indicador do que os consumidores individuais e os importadores do Ocidente pagarão por produtos, subiram 6,8%, seu aumento mais forte em três anos, no mês passado.
Enquanto isso, as menções à inflação nas conversas entre executivos e analistas de Wall Street nos anúncios de resultados de companhias chegaram a um total próximo do recorde estabelecido uma década atrás, e muitas empresas pretendem repassar o aumento de custos aos consumidores, segundo o Bank of America.
Além de subir juros, outra opção para o Fed frear a inflação seria reduzir suas aquisições mensais de US$ 200 bilhões em ativos, que estimularam os mercados de ações na pandemia, em ritmo mais rápido do que o planejado, o que deixaria as ações mais valorizadas, como as das grandes empresas de tecnologia, mais vulneráveis a uma correção.
Jerome Powell, presidente do Fed, disse que tolerará altas temporárias de preços, a fim de ajudar a recuperação.
“A inflação está criando muito medo entre os investidores em razão da possibilidade de que os bancos centrais não estejam preparados para enfrentá-la”, disse Aneeka Gupta, diretora de pesquisa da WisdomTree.
Mas nem todos os analistas estão pessimistas.
“Acreditamos que o medo de inflação é exagerado e que boa parte dele será transitória”, disse Fahad Kamal vicepresidente de investimento do banco de capital fechado Kleinwort Hambros. “O quadro econômico é robusto, o que se traduz em lucros recorde para as companhias.”
A realização de lucros foi puxada pelas ações de tecnologia em Nova York, que foram os destaques de 2020. Apple, Amazon, Microsoft, Alphabet (Google) e Tesla caíram entre 0,7% e 2%.
O S&P 500 recuou 0,87%. O Dow Jones caiu 1,36%, e a Nasdaq, 0,09%.
O índice Stoxx 600, que reúne as maiores empresas da Europa, cedeu 1,97%. O FTSE 100, de Londres, caiu 2,4%.
Apesar do viés negativo no exterior, o Ibovespa fechou em alta de 0,86%, a 122.964 pontos, impulsionado justamente pela valorização das commodities. A Vale subiu 3,5% e a ação preferencial (mais negociada) da Petrobras teve alta de 1,82%.
O dólar teve queda de 0,15%, para R$ 5,2240.