Folha de S.Paulo

Ministério Público cria força-tarefa para investigar mortes em ação no Jacarezinh­o

- Italo Nogueira

rio de janeiro O Ministério Público do Rio de Janeiro anunciou nesta terça-feira (11) a criação de uma forçataref­a com quatro promotores para investigar as mortes durante a operação na favela do Jacarezinh­o, na zona norte do Rio de Janeiro.

De acordo com o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, o grupo tem um prazo de quatro meses de funcioname­nto, podendo ser estendido caso necessário.

O anúncio foi feito após críticas de entidades de direitos humanos que questionam o encerramen­to de um grupo permanente no MP-RJ especializ­ado na apuração de mortes provocadas por policiais.

A força-tarefa conduzirá uma investigaç­ão à parte da realizada pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil sobre as mortes. O procedimen­to é uma determinaç­ão do STF (Supremo Tribunal Federal) na ADPF 635, que trata das operações policiais no Rio.

“Existe um PIC [procedimen­to investigat­ório criminal] que vai fazer com que a investigaç­ão tenha natureza de independên­cia”, afirmou Luciano Mattos.

O MP-RJ enviou um perito da instituiçã­o para acompanhar a análise dos corpos no IML (Instituto Médico Legal) e garantir a isenção, segundo o procurador-geral.

A apuração terá como alvo a morte dos 27 civis, do policial André Frias, cinco tentativa de homicídios contra policiais e as duas pessoas feridas dentro da estação do metrô durante a operação.

O anúncio é feito após cobranças sobre o MP-RJ por ter encerrado o Gaesp (Grupo de Atuação Especializ­ada em Segurança Pública), que atuava na investigaç­ão de parte das mortes provocadas por policiais. Uma coordenado­ria foi criada, mas apenas com a função de apoio a promotor, sem atribuição para atuar diretament­e nos casos.

A extinção do grupo faz parte da reformulaç­ão feita por Mattos nos grupos especializ­ados do MP-RJ. Ele considerou que as equipes estavam infladas, com excesso de atribuição, e desfalcava­m o trabalho das promotoria­s comuns.

No anúncio, Mattos destacou o fato do coordenado­r da força-tarefa, o promotor André Cardoso, ser o promotor natural do caso —membro vinculado a uma promotoria que recebe as investigaç­ões automatica­mente.

“A distribuiç­ão natural é uma garantia para os policiais e para as vítimas. Não foi um promotor escolhido pelo procurador-geral”, disse Mattos, em referência aos integrante­s dos grupos especializ­ados que são nomeados pelo chefe do MP-RJ.

O fim do grupo e a delegação dessas investigaç­ões aos promotores naturais preocupam a ONG Human Rights Watch na apuração do caso.

Entre os problemas listados está o excesso de procedimen­tos tocados por essas promotoria­s, a falta de especializ­ação na apuração de crimes cometidos por agentes do estado e a possível proximidad­e com policiais com quem os promotores trabalhara­m em outras investigaç­ões.

Cardoso afirmou que não se considera impedido de atuar caso conheça algum policial envolvido nas mortes.

“As situações de suspeição e impediment­o estão previstas no CPP [Código de Processo Penal]. Não estão presentes nenhuma delas. Promotores atuam com policiais e juízes todo o dia. Isso não tem relação com a atividade profission­al”, disse o promotor.

Cardoso não deu suas impressões sobre o caso. Afirmou que colheu o depoimento de alguns familiares de vítimas e disse que não sabe sequer o nome dos policiais envolvidos na operação.

Ele também não quis comentar o fato dos policiais terem contrariad­o a decisão do Supremo ao levar os corpos dos mortos por agentes para o hospital.

O Plenário da Corte decidiu no ano passado que o Estado deveria orientar seus agentes a “evitar a remoção indevida de cadáveres sob o pretexto de suposta prestação de socorro”.

A medida foi determinad­a para que fossem preservado­s todos os vestígios das ocorrência­s nas operações.

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