Folha de S.Paulo

Imunização dá alívio, mas gera desconfort­o entre esportista­s

- CP e DEC

são paulo A confirmaçã­o de que a delegação brasileira que vai aos Jogos Olímpicos e Paraolímpi­cos de Tóquio será vacinada trouxe alívio, incertezas e também algum desconfort­o entre os atletas.

Nem todos os procurados pela Folha quiseram se manifestar, alguns preocupado­s com uma possível reação negativa da população ao anúncio feito nesta terça-feira (11).

“Não me surpreende, porque o sistema é assim, a Olimpíada tem de acontecer. Minha mãe não se vacinou. Os motoristas, as pessoas da limpeza precisam mais do que a gente. Claro que vou ficar chateada se adiarem [novamente os Jogos], mas para mim é difícil separar o atleta da pessoa”, disse Aline Silva, do wrestling.

“Entendo que são doses doadas, mas mesmo assim não me sinto confortáve­l.”

O canoísta Isaquias Queiroz expõe um sentimento parecido ao da lutadora. “Eu sempre fui a favor de respeitar a fila, por isso acho que tem muita gente que precisa ser vacinada no Brasil como prioridade. Idosos, pessoas com alguma comorbidad­e ou gente que trabalha em serviços essenciais. Mas a vacinação que foi oferecida para gente não foi tirada do SUS, então não estamos furando fila.”

Também canoísta, mas da modalidade slalom, Pepê Gonçalves demonstrou alegria com a notícia. “Fiquei feliz, não tem como não ficar. Principalm­ente porque os brasileiro­s serão beneficiad­os também já que a cada dose destinada a um atleta, duas outras serão doadas para o SUS vacinar a população”.

Em fevereiro, o jogador de vôlei de praia Bruno Schmidt, 34, passou 13 dias em uma UTI para tratar da Covid. “É um sentimento estranho porque quase morri, vi a gravidade desse vírus e tinha que já estar treinando, dando meu jeito. Então essa vacinação vem para dar segurança”, afirma.

Ainda assim, ele também pensa nos seus pais e em outras pessoas mais velhas que ainda não foram vacinadas.

“Apesar de ser uma doença extremamen­te imprevisív­el, exemplos estão por aí e fui um deles, tem sim um sentimento de culpa. Constrangi­mento de me ver vacinado e os meus pais ainda na fila. Não gosto de viver essa tipo de situação de privilégio em detrimento dos demais.”

O anúncio também gerou dúvidas, principalm­ente pelo fato de o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ter dito que a campanha começaria nesta quarta (12). Na sequência, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) informou que a data de início será na sexta (14).

Petrucio Ferreira, que mora e treina em João Pessoa, consultou o Comitê Paralímpic­o Brasileiro e soube que deverá se deslocar até São Paulo para se vacinar. Mas ainda aguarda uma definição da logística.

“A vacinação traz certa confiança, um alívio na pressão psicológic­a, porque ajudará a evitar que o vírus seja tão prejudicia­l”, diz o velocista.

Há mais de um ano, no começo da pandemia, ele se refugiou em São José do Brejo do Cruz, no sertão paraibano, para poder treinar enquanto o seu clube estava fechado. O alívio, porém, também carrega uma pitada de incômodo.

“Fico um pouco constrangi­do em meio a tudo isso. Em parte é legal os atletas serem vacinados. Por outro lado eu fico assim porque sei que tem muitos pais de família, na luta diária para colocar o pão em casa e se expondo, correndo risco e que poderiam estar se vacinando também.”

“Eu fico assim [constrangi­do] porque sei que tem muitos pais de família, na luta diária para colocar o pão em casa e se expondo, correndo risco e que poderiam estar se vacinando também Petrucio Ferreira velocista paraolímpi­co

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