Bons, mas nem tanto
Seleção possui sete jogadores especiais, mas parte da equipe está um nível abaixo
No empate por 0 a 0 entre Barcelona e Atlético de Madrid, Messi conduziu a bola em grande velocidade, driblou vários marcadores em pequenos espaços e colocou a bola no cantinho. Seria um dos gols mais bonitos de sua carreira. O extraordinário goleiro Oblak se esticou todo, como um gato, e jogou a bola para fora.
No fim de semana, houve outros vários lances e belos gols, como os dos jovens Ferreirinha, do Grêmio, e Kayky, do Fluminense, mais duas promessas do futebol brasileiro. São lances tão prazerosos quanto escutar a Orquestra Ouro Preto tocando Beatles.
Na coluna anterior, escrevi que estava com saudade da seleção e brinquei com o titês, os “extremos desequilibrantes”. Um leitor não entendeu. Devem ter outros. Na linguagem moderna, segundo o titês, são os pontas dribladores, que desequilibram a defesa.
Após o Mundial de 2018, Tite fez algumas mudanças táticas e individuais. É um bom caminho. Porém, nesses três anos, não surgiu um jogador espetacular para ser destaque da seleção e/ou do futebol mundial. São todos bons, brilham em seus clubes, mas, na seleção, o ambiente e a qualidade são diferentes.
A seleção brasileira possui, em cinco posições, jogadores especiais. No gol, temos três, Alisson, Ederson e Weverton. Na zaga, Marquinhos e Thiago Silva, embora Thiago seja um veterano. No meiocampo, Casemiro, e, no ataque, Neymar. Nas outras seis posições, há um grande número de titulares e reservas, que têm sido convocados, todos bons, mas nem tanto.
O Brasil, que já teve, durante décadas, os melhores laterais do mundo, possui hoje dois comuns, Danilo e Renan Lodi, além de vários reservas. Se a Copa fosse hoje, escalaria Daniel Alves e Filipe Luís, embora sejam mais apoiadores. O time poderia jogar com três zagueiros, o sistema da moda.
Há vários bons zagueiros na reserva de Marquinhos e de Thiago Silva, mas nenhum é especial (Rodrigo Caio, Militão, Felipe e outros). Rodrigo Caio, um dos candidatos, tem muitas qualidades, mas precisa deixar de dar carrinho, como na expulsão contra o Racing, ou de cometer pênaltis bobos, como contra o Palmeiras.
No meio-campo, para jogar próximo a Casemiro (Fabinho deve ser o reserva), há um grande número de bons volantes, como Arthur, Bruno Guimarães, Douglas Luiz e Fred, além de Éverton Ribeiro, Gerson e Philippe Coutinho, que costumam atuar como armadores mais avançados. Tite continua sonhando com um De Bruyne. Sonhar é preciso.
No ataque, para fazer companhia a Neymar, há vários bons, mas nem tanto, como Gabriel Jesus, Firmino, Richarlison, Everton Cebolinha e Vinícius Júnior, além de Gabigol, Bruno Henrique e Pedro, que ainda não foram testados.
Todas as grandes seleções possuem também limitações. Isso torna o Brasil um dos candidatos a qualquer título.
Nas últimas partidas das Eliminatórias, Tite inovou ao escalar Renan Lodi praticamente como um ponta esquerda, Danilo perto dos dois volantes, Neymar e Coutinho como dois meias avançados, próximos ao centroavante, além de um ponta direita. São cinco atacantes, três no meio-campo e dois zagueiros, como no início do futebol. Será que contra fortes seleções Tite fará o mesmo?
Desde os anos 1960, o Brasil tem ótimos jogadores que brilham intensamente nos clubes, mas que não se dão bem na seleção, e também o contrário, uma minoria que surpreende.
Não há uma única regra nem um único motivo, técnico, tático ou psicológico, que explique essas variações. Simplesmente acontece.