Folha de S.Paulo

Bons, mas nem tanto

Seleção possui sete jogadores especiais, mas parte da equipe está um nível abaixo

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

No empate por 0 a 0 entre Barcelona e Atlético de Madrid, Messi conduziu a bola em grande velocidade, driblou vários marcadores em pequenos espaços e colocou a bola no cantinho. Seria um dos gols mais bonitos de sua carreira. O extraordin­ário goleiro Oblak se esticou todo, como um gato, e jogou a bola para fora.

No fim de semana, houve outros vários lances e belos gols, como os dos jovens Ferreirinh­a, do Grêmio, e Kayky, do Fluminense, mais duas promessas do futebol brasileiro. São lances tão prazerosos quanto escutar a Orquestra Ouro Preto tocando Beatles.

Na coluna anterior, escrevi que estava com saudade da seleção e brinquei com o titês, os “extremos desequilib­rantes”. Um leitor não entendeu. Devem ter outros. Na linguagem moderna, segundo o titês, são os pontas dribladore­s, que desequilib­ram a defesa.

Após o Mundial de 2018, Tite fez algumas mudanças táticas e individuai­s. É um bom caminho. Porém, nesses três anos, não surgiu um jogador espetacula­r para ser destaque da seleção e/ou do futebol mundial. São todos bons, brilham em seus clubes, mas, na seleção, o ambiente e a qualidade são diferentes.

A seleção brasileira possui, em cinco posições, jogadores especiais. No gol, temos três, Alisson, Ederson e Weverton. Na zaga, Marquinhos e Thiago Silva, embora Thiago seja um veterano. No meiocampo, Casemiro, e, no ataque, Neymar. Nas outras seis posições, há um grande número de titulares e reservas, que têm sido convocados, todos bons, mas nem tanto.

O Brasil, que já teve, durante décadas, os melhores laterais do mundo, possui hoje dois comuns, Danilo e Renan Lodi, além de vários reservas. Se a Copa fosse hoje, escalaria Daniel Alves e Filipe Luís, embora sejam mais apoiadores. O time poderia jogar com três zagueiros, o sistema da moda.

Há vários bons zagueiros na reserva de Marquinhos e de Thiago Silva, mas nenhum é especial (Rodrigo Caio, Militão, Felipe e outros). Rodrigo Caio, um dos candidatos, tem muitas qualidades, mas precisa deixar de dar carrinho, como na expulsão contra o Racing, ou de cometer pênaltis bobos, como contra o Palmeiras.

No meio-campo, para jogar próximo a Casemiro (Fabinho deve ser o reserva), há um grande número de bons volantes, como Arthur, Bruno Guimarães, Douglas Luiz e Fred, além de Éverton Ribeiro, Gerson e Philippe Coutinho, que costumam atuar como armadores mais avançados. Tite continua sonhando com um De Bruyne. Sonhar é preciso.

No ataque, para fazer companhia a Neymar, há vários bons, mas nem tanto, como Gabriel Jesus, Firmino, Richarliso­n, Everton Cebolinha e Vinícius Júnior, além de Gabigol, Bruno Henrique e Pedro, que ainda não foram testados.

Todas as grandes seleções possuem também limitações. Isso torna o Brasil um dos candidatos a qualquer título.

Nas últimas partidas das Eliminatór­ias, Tite inovou ao escalar Renan Lodi praticamen­te como um ponta esquerda, Danilo perto dos dois volantes, Neymar e Coutinho como dois meias avançados, próximos ao centroavan­te, além de um ponta direita. São cinco atacantes, três no meio-campo e dois zagueiros, como no início do futebol. Será que contra fortes seleções Tite fará o mesmo?

Desde os anos 1960, o Brasil tem ótimos jogadores que brilham intensamen­te nos clubes, mas que não se dão bem na seleção, e também o contrário, uma minoria que surpreende.

Não há uma única regra nem um único motivo, técnico, tático ou psicológic­o, que explique essas variações. Simplesmen­te acontece.

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