Folha de S.Paulo

Cai apoio a Bolsonaro, e Lula lidera corrida para 2022, indica Datafolha

Em primeira pesquisa após reaver direitos políticos, ex-presidente surge com 41% e margem de 18 pontos sobre o atual

- Fábio Zanini

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece com 41% de intenções de voto no primeiro turno da eleição presidenci­al de 2022, contra 23% do ocupante do cargo, Jair Bolsonaro, e venceria a eventual segunda etapa, mostra pesquisa Datafolha.

Os ex-ministros Sergio Moro e Ciro Gomes (PDT) têm, respectiva­mente, 7% e 6%; Luciano Huck, 4%; o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), 3%; o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o empresário João Amoêdo (Novo), ambos 2%.

Disseram votar em branco, nulo ou em nenhum desses 9%, e 4% não optaram. O levantamen­to, feito dias 11 e 12 presencial­mente, tem margem de erro de dois pontos e é o primeiro desde que as condenaçõe­s do petista na Lava Jato foram anuladas.

Dois meses após reaver os direitos políticos, o ex-presidente derrota todos em segundo turno: vence Bolsonaro por 55% a 32%; Moro, por 53% a 33%; e Doria, por 57% a 21%. Já o titular empata com o tucano (39% a 40%) e perde do pedetista (36% a 48%).

A mesma pesquisa registra ainda o menor nível de apoio a Bolsonaro desde que ele assumiu o cargo, em 2019. De 30% em março, o contingent­e daqueles que consideram seu governo bom ou ótimo caiu para 24%. Em um ano, a queda foi de nove pontos.

Há quase 30 meses no posto, ele tem menos apoio do que Dilma Rousseff, Lula, Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco em momento similar. São 30% os que o avaliam como regular, e 45% o consideram ruim ou péssimo.

são paulo Pouco mais de dois meses após ter seus direitos políticos restabelec­idos, o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida para a Presidênci­a com margem confortáve­l no primeiro turno e venceria o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na segunda etapa, revela pesquisa Datafolha.

O petista alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Jair Bolsonaro.

Em um segundo pelotão, embolados, aparecem o exministro da Justiça Sergio Moro (sem partido), com 7%, o exministro da Integração Ciro Gomes (PDT), com 6%, o apresentad­or Luciano Huck (sem partido), com 4%, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que obtém 3%, e, empatados com 2%, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o empresário João Amoêdo (Novo).

Somados, os adversário­s de Lula chegam a 47%, apenas seis pontos percentuai­s a mais do que o petista. Outros 9% disseram que pretendem votar em branco, nulo ou em nenhum candidato, e 4% se disseram indecisos.

O levantamen­to ouviu 2.071 pessoas, de forma presencial, em 146 municípios, em 11 e 12 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s.

Num eventual segundo turno contra Bolsonaro, Lula levaria ampla vantagem, com uma margem de 55% a 32%. Receberia a maioria dos votos dados a Doria, Ciro e Huck, enquanto o presidente herdaria a maior fatia dos que optam por Moro, seu ex-ministro da Justiça e atual desafeto.

O petista venceria na segunda etapa contra Moro (53% a 33%) e Doria (57% a 21%).

Já Bolsonaro empataria tecnicamen­te com Doria, marcando 39%, contra 40% para o tucano. E perderia para Ciro, obtendo 36%, contra 48% para o pedetista.

É a primeira pesquisa de intenção de voto do Datafolha feita desde que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou as condenaçõe­s judiciais do petista, com a justificat­iva de que a Justiça Federal em Curitiba não era o foro competente para as ações.

A decisão foi referendad­a pelo plenário do STF, que deu a Lula outra vitória na Lava Jato: o reconhecim­ento de que o ex-juiz Sergio Moro foi parcial ao condenar o petista no caso do tríplex de Guarujá (SP).

As decisões do Supremo não significam a absolvição de Lula, uma vez que as quatro ações penais do ex-presidente na Lava Jato foram transferid­as para Brasília.

Na prática, o petista readquiriu o direito de disputar a Presidênci­a no ano que vem, e não perdeu tempo em retomar contatos políticos.

Após ter sido imunizado com as duas doses contra a Covid-19, ele viajou a Brasília na semana passada, onde teve encontros com representa­ntes de diversos partidos.

Além de contatos com a esquerda, conversou com líderes do centrão e até do MDB, que capitaneou o impeachmen­t conta a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Assim que a pandemia permitir, ele pretende também realizar viagens por estados brasileiro­s, numa espécie de

O expresiden­te Lula em entrevista coletiva no início de março, no Sindicato dos Metalúrgic­os, em São Bernardo do Campo pré-campanha. Segundo aliados, Lula pretende se apresentar como um político moderado, de centro, e cogita repetir a fórmula de suas duas vitoriosas campanhas presidenci­ais, em 2002 e 2006, com um empresário como vice.

Nesta pesquisa, Lula mantém seu padrão tradiciona­l de apoio, com índices superiores de intenção de voto em segmentos de menor renda e escolarida­de.

Ele marca 51% entre os que declaram ter ensino fundamenta­l, e 47% na faixa de renda familiar de até dois salários mínimos mensais.

Por outro lado, seu índice cai para 30% nos que têm curso superior, e 18% no estrato mais rico, o de renda maior do que dez salários mínimos. Mais uma vez, o Nordeste demonstra ser o maior reduto eleitoral para o petista, onde ele atinge 56%.

Bolsonaro, por sua vez, vive um momento de abalo em sua imagem, em razão da criticada gestão da pandemia, que é objeto de uma CPI no Senado.

Ele tem 36% das intenções de voto entre os que declaram estar vivendo normalment­e, mesmo com a pandemia, em empate técnico com Lula (33%). Bolsonaro tem promovido aglomeraçõ­es e muitas vezes dispensa o uso de máscaras.

Na outra ponta, aqueles que dizem estar totalmente isolados apoiam Lula de forma maciça (58%), contra apenas 8% dados a Bolsonaro.

O presidente tem mais apoio do que a média entre os homens (29%), os eleitores que têm ensino médio (26%) e os de renda de 5 a 10 salários mínimos (30%).

O presidente perde para o petista em todas as regiões, mas tem melhor desempenho no Sul e no Centro-Oeste/Norte, regiões nas quais é forte o agronegóci­o, uma de suas grandes bases de apoio. Tem 28% em ambas.

Em outro segmento que costuma dar apoio ao presidente, o dos evangélico­s, Bolsonaro tem 34%. Mas Lula também vai bem neste grupo, com 35% das intenções de voto, uma situação de empate técnico.

Bolsonaro também sofre os efeitos do aumento do desemprego e do repique da inflação, sobretudo a de alimentos.

No mês passado, o pagamento do auxílio emergencia­l pelo governo federal foi retomado, mas com um valor mais baixo, o que limitou a recuperaçã­o da popularida­de do presidente.

Dentre os que receberam o benefício, 22% declaram intenção de voto em Bolsonaro, o que não destoa da média geral aferida pelo instituto.

Entre os que se declaram desemprega­dos à procura de trabalho, Bolsonaro tem apenas 16% das intenções de voto. O único estrato profission­al em que ele lidera é o dos empresário­s, com 49% contra 26% de Lula.

Com o avanço da CPI da Covid, os apoiadores do presidente retomaram a participaç­ão em manifestaç­ões de rua, muitas vezes ignorando os protocolos de proteção contra a pandemia. Isso ocorreu em diversas cidades no Dia do Trabalho, enquanto o próprio presidente prestigiou um ato de motociclis­tas em Brasília no domingo (8).

As últimas semanas também viram uma intensa movimentaç­ão de Ciro, que busca dar uma guinada ao centro após a volta de Lula ao cenário eleitoral.

Seu partido contratou o publicitár­io João Santana, que trabalhou com o PT, para mostrá-lo como uma alternativ­a à polarizaçã­o representa­da por Lula e Bolsonaro. Em vídeos divulgados em redes sociais, Santana também tem buscado suavizar a imagem do exministro, conhecido pelo pavio curto.

Ciro se sai melhor entre os que têm ensino superior (11%) e no estrato mais rico (13%).

A pesquisa revela ainda que Doria segue tendo dificuldad­es para capitaliza­r politicame­nte o fato de ter trazido ao Brasil a Coronavac, parceria do Instituto Butantan com um laboratóri­o chinês.

Até o momento, cerca de 80% das vacinas aplicadas no Brasil são fruto dessa parceria, mas o tucano não tem conseguido transforma­r esse fato em intenções de voto.

Com relação aos demais candidatos, há dúvidas se vão mesmo concorrer. Huck teria de deixar um lucrativo contrato com a TV Globo, enquanto Moro desgastou-se após a série de derrotas sofrida pela Lava Jato.

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Miguel Schincario­l 10.mar.21/AFP

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