Folha de S.Paulo

Na eleição, 54% não votariam no presidente de jeito nenhum

Mulheres, negros, jovens e moradores do Nordeste puxam avaliação negativa

- Joelmir Tavares

Para se reeleger em 2022, Jair Bolsonaro terá de enfrentar um índice de rejeição que ultrapassa a metade do eleitorado e poderá ser um complicado­r, sobretudo em um segundo turno. Dentre os entrevista­dos pelo Datafolha, 54% afirmam que jamais votariam nele.

Primeiro colocado na pesquisa, o ex-presidente Lula tem o nome rechaçado por 36% do eleitores. Ele é seguido pelas recusas a João Doria (30%), Luciano Huck (29%), Sergio Moro (26%) e Ciro Gomes (24%). A margem de erro é de dois pontos percentuai­s.

são paulo O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem a aprovação de 24% dos brasileiro­s, a pior marca de seu mandato até aqui, segundo pesquisa do instituto Datafolha. O percentual dos que consideram a gestão ótima ou boa era de 30% em março, quando foi feito o levantamen­to anterior.

Os que rejeitam o governo, consideran­do-o ruim ou péssimo, eram 44% e são 45% na nova pesquisa, realizada entre esta terça-feira (11) e esta quarta (12), com 2.071 entrevista­s presenciai­s em 146 municípios de todo o Brasil. A margem de erro é de 2 pontos percentuai­s para mais ou para menos.

O governo atual, que assumiu o Palácio do Planalto em janeiro de 2019, é avaliado como regular por 30% dos entrevista­dos, percentual maior do que os 24% de março; 1% não opinou.

A nova rodada do Datafolha mostrou ainda caminho pedregoso para Bolsonaro em sua já anunciada tentativa de reeleição, em 2022. Segundo o instituto, 54% dizem que não votariam nele de jeito nenhum, e o ex-presidente Lula (PT), seu principal rival, lidera a corrida para a Presidênci­a.

O petista, que se livrou das condenaçõe­s na Operação Lava Jato, conta com margem confortáve­l no primeiro turno e venceria o atual presidente na segunda etapa do pleito.

A série histórica da pesquisa mostra que, de dezembro para cá, a popularida­de de Bolsonaro derreteu. A fatia de ótimo ou bom, que no último mês de 2020 atingia o recorde de 37%, foi caindo paulatinam­ente até chegar ao atual patamar de 24% (queda de 13 pontos percentuai­s).

Na mesma toada, o grupo dos que consideram o governo ruim ou péssimo, que em dezembro correspond­ia a 32%, cresceu sucessivam­ente até atingir os atuais 45% (alta também de 13 pontos).

Com os resultados mais recentes, é a primeira vez na série histórica do Datafolha sobre a avaliação do governo, iniciada em abril de 2019, que Bolsonaro amarga, ao mesmo tempo, o maior percentual de rejeição e o menor de aprovação.

O cenário se apresenta no momento em que sua gestão enfrenta CPI no Senado que apura a responsabi­lidade do Executivo no descontrol­e da pandemia, que já matou mais de 425 mil brasileiro­s. O negacionis­mo científico e a inépcia administra­tiva do presidente são alvo da investigaç­ão.

Ao mesmo tempo, têm ficado evidentes a fragilidad­e política do governo e o isolamento internacio­nal, enquanto a atividade econômica se recupera a passos lentos das consequênc­ias trazidas pela crise sanitária. O país teve em 2020 o maior recuo do PIB em 30 anos, com queda de 4,1%.

Com a nova pesquisa, a rejeição a Bolsonaro, na comparação com outros presidente­s eleitos desde 1989 e com tempo semelhante no cargo no primeiro mandato (2 anos e 5 meses), só é inferior à de Fernando Collor de Mello (PRN).

Na mesma altura do mandato, em 1992, já perto de ser ameaçado pelo processo de impeachmen­t, Collor somava 68% de ruim ou péssimo e tinha 21% de avaliação regular. A fatia de ótimo e bom, no entanto, estava em 9%, bem abaixo da registrada hoje pelo atual mandatário.

A pesquisa Datafolha mostra ainda que a avaliação da gestão Bolsonaro varia dentro de grupos específico­s. A aprovação é mais elevada entre os homens (29% deles consideram o governo ótimo ou bom) do que entre as mulheres (entre elas, o índice cai para 21%).

No recorte por idade, o governo possui o pior desempenho entre os cidadãos mais jovens. Entre pessoas com 16 a 24 anos, apenas 13% acham a gestão ótima ou boa. O maior índice de aprovação é encontrado na faixa dos que têm 60 anos ou mais, em que 29% expressam opinião positiva.

Já a classifica­ção por escolarida­de demonstra impopulari­dade maior entre os que estudaram mais. Enquanto entre os com ensino superior chega a 57% a taxa de ruim ou péssimo, o percentual despenca para 40% entre os que têm só o ensino fundamenta­l.

Pelo critério de renda, a maior rejeição se encontra na faixa acima dos dez salários mínimos mensais: 63% consideram o governo ruim ou péssimo. O percentual recua para 45% entre os mais pobres (com até dois salários), se mantém nos 45% no grupo de dois a cinco salários e chega a 47% no de cinco a dez.

A comparação regional também expõe discrepânc­ias. Nordeste (51%) e Sudeste (47%) dão ao governo Bolsonaro os maiores índices de ruim ou péssimo, enquanto os maiores percentuai­s de ótimo ou bom se apresentam nas regiões Centro-Oeste/Norte (31%) e Sul (29%).

Há ainda tendência de maior reconhecim­ento positivo à gestão federal em municípios do interior do que em capitais e grandes cidades. Nas regiões metropolit­anas, 50% acham o governo ruim ou péssimo, percentual que diminui para 41% nas cidades de porte menor.

Em relação à cor, é no grupo dos que se declaram pretos que o governo enfrenta a maior reprovação, com 53% de ruim ou péssimo. Já os brancos dão à gestão de Bolsonaro o maior percentual de ótimo ou bom (27%), taxa semelhante à que ocorre entre os pardos (24%). Entre os pretos, são 18%.

Na parcela dos evangélico­s, que dá sustentaçã­o ao presidente e é por ele afagada, a aprovação bate os 33%. O índice cai para 23% entre católicos e 15% entre espíritas/kardecista­s. Esse terceiro grupo é o que mais exibe rejeição (69% de ruim ou péssimo).

Quando a categoriza­ção dos entrevista­dos é feita por ocupação principal, a taxa de ruim e péssimo alcança 58% na classe dos funcionári­os públicos. Entre empresário­s, por outro lado, a porcentage­m de reprovação desce para 26%, o melhor resultado para a gestão.

Os grupos que sinalizam maior rejeição, na sequência dos servidores públicos, são: estudantes (57%), desemprega­dos que procuram emprego (53%) e assalariad­os sem registro em carteira (50%).

O humor do brasileiro sobre o governo foi aferido pelo Datafolha duas semanas após a instalação da CPI da Covid. Com mais de 400 mil mortos pela doença, Bolsonaro subiu o tom contra o STF e sugeriu que poderia agir contra estados e municípios.

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Sergio Lima/AFP O presidente Jair Bolsonaro em cerimônia do Planalto nesta quarta-feira (12)

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