Folha de S.Paulo

STF autoriza quebra de mais de 3.400 patentes na área da saúde

Ministros definem que decisão de invalidar trecho de lei sobre patentes não retroage para outras áreas

- Matheus Teixeira

brasília O STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou nesta quarta-feira (12) que sejam quebradas 3.435 patentes da área da saúde. Nove ministros defenderam essa autorizaçã­o e dois divergiram.

Os ministros decidiram, na semana passada, anular o trecho da Lei de Propriedad­e Individual que dava margem para que patentes tenham prazo indetermin­ado.

Agora, a corte definiu o alcance da decisão e afirmou que ela tem efeito retroativo apenas para a área da saúde, o que levará à quebra das patentes que tiveram vigência estendida com base na legislação declarada inconstitu­cional.

Para os demais setores da indústria, a nova regra só valerá daqui em diante, preservand­o patentes que estão em vigor devido à norma anulada pelo Supremo.

Os ministros Dias Toffoli, Kassio Nunes Marques, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowsk­i, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes votaram nesse sentido.

Edson Fachin, Rosa Weber e Marco Aurélio se posicionar­am pela quebra de todas as patentes em vigência com base no trecho da lei anulada. Luiz Fux e Luís Roberto Barroso ficaram vencidos ao votar para que o novo entendimen­to só valesse para processos futuros em todos os casos.

A decisão também deve retroagir para casos que estão em discussão na Justiça desde antes de 7 de abril, data em que o relator, Dias Toffoli, deu uma decisão individual sobre o tema.

Segundo a PGR (Procurador­ia-Geral da República), ao menos 65 medicament­os de alto custo devem ser impactados pela decisão, entre eles remédios para hepatite, diabetes e câncer. O raltergrav­ir, usado no tratamento para HIV, por exemplo, cai em domínio público imediatame­nte.

Toffoli diz que é necessário quebrar as patentes da área da saúde para auxiliar no combate à pandemia da Covid. O magistrado disse que a decisão não abrange apenas equipament­os ou remédios vinculados ao coronavíru­s, mas tudo relativo a esta área porque todo o setor foi impactado.

Toffoli afirmou que seria complexo definir, dentre as 3.435 patentes quebradas, quais teriam ou não indicação de uso no combate à Covid-19, “justamente por ser uma doença com repercussõ­es em inúmeras áreas clínicas (neurológic­a, cardiológi­ca, pulmonar, renal, etc)”.

Os números sobre o tema foram apresentad­os pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedad­e Industrial). Segundo o órgão, como a decisão retroage apenas para a área da saúde, 27.203 patentes de outros segmentos que tiveram prazo estendido com base na lei anulada seguem válidas.

O prazo das patentes está mantido —ele é de 20 anos a partir do pedido feito ao Inpi para caso de invenção e de 15 anos quando se trata do chamado “modelo de utilidade”, que está caracteriz­ado quando o produto já existia, mas foi melhorado.

O trecho da legislação que foi anulado previa que os pedidos de prorrogaçã­o de patentes que o Inpi não conseguiss­e analisar “por pendência judicial ou por motivo de força maior” deveriam ser renovados automatica­mente.

O Supremo julgou ação apresentad­a pela PGR em 2016. Neste ano, porém, o atual procurador-geral, Augusto Aras, pediu que o caso fosse analisado com urgência sob o argumento de a lei limitava o combate à pandemia.

Segundo a Procurador­ia, a lei “impacta diretament­e no direito fundamenta­l à saúde, haja vista que, enquanto não expirada a vigência de patentes de grandes laboratóri­os, a indústria farmacêuti­ca ficará impedida de produzir medicament­os genéricos contra o novo coronavíru­s e suas atuais e futuras variantes”.

Toffoli concordou com a PGR e afirmou que, no caso do Brasil, a demora na análise das patentes ocorre pela defasagem de pessoal do Inpi. Segundo Toffoli, o instituto tem 312 funcionári­os para analisar os pedidos que chegam ao órgão e uma média de 459 solicitaçõ­es pendentes para cada servidor.

O ministro disse que a capacidade máxima de funcionári­os prevista pelo INPI é de 810 cargos de pesquisado­r em propriedad­e industrial, mas atualmente 388 estão vagos.

 ?? Fellipe Sampaio/Divulgação STF ?? Presidente do STF, ministro Luiz Fux, durante sessão realizada por videoconfe­rência nesta quarta
Fellipe Sampaio/Divulgação STF Presidente do STF, ministro Luiz Fux, durante sessão realizada por videoconfe­rência nesta quarta

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil