Folha de S.Paulo

Choque entre Israel e Gaza já mata ao menos 74 e é o pior em anos

Ataques deixaram ao menos 67 palestinos e 7 israelense­s mortos nos últimos dias, além de centenas de feridos

- Lucas Alonso e Bruno Benevides

bauru (sp) e são paulo O conflito entre Hamas e Israel se agravou nesta quarta (12), com relatos de confrontos nas ruas e novos bombardeio­s aéreos na Faixa de Gaza, de onde, nos últimos dois dias, o grupo islâmico lançou mais de mil foguetes contra cidades israelense­s, incluindo a capital econômica, Tel Aviv.

No total, ao menos 74 pessoas morreram desde segunda (10) —67 em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, e 7 em Israel, de acordo com autoridade­s israelense­s.

Entre as vítimas, há 17 crianças, sendo 16 palestinos e um garoto israelense de 5 anos que morreu nesta quarta depois que a casa onde ele morava na região metropolit­ana de Tel Aviv foi atingida por um foguete lançado pelo Hamas.

A espiral de violência acendeu o alerta da comunidade internacio­nal, que tenta impedir que a nova fase do conflito leve a uma guerra aberta. Por isso, União Europeia, Estados Unidos, Reino Unido, Rússia e China pediram nesta quarta-feira calma aos envolvidos e o fim dos ataques.

Não há, porém, um consenso de quais devem ser os próximos passos, principalm­ente porque alguns países —como Estados Unidos e Alemanha— são mais próximos dos israelense­s, enquanto outros —principalm­ente nações de maioria muçulmana, como Paquistão e Turquia— se colocam do lado dos palestinos.

Nesta quarta, por exemplo, o governo americano bloqueou comunicado negociado no Conselho de Segurança da ONU (formado por 15 países) que pedia que os dois lados recuassem na disputa. A nota pedia, entre outros pontos, que Israel respeitass­e a lei internacio­nal, interrompe­sse a construção de assentamen­tos em território­s ocupados e se compromete­sse a não realizar despejos de palestinos que vivem em Jerusalém Oriental —tema que está no centro da atual onda de violência.

Em uma das poucas medidas concretas anunciadas, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, enviou seu principal diplomata para a região, Hady Amr, para negociar com os dois lados uma solução que ponha fim à violência. A declaração aconteceu depois de as principais companhias aéreas americanas cancelarem os voos para Tel Aviv devido aos confrontos.

Blinken também falou por telefone com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Na ligação, ele condenou os ataques aéreos e enfatizou a necessidad­e de diminuir a tensão.

Durante o início da noite, o presidente Joe Biden conversou por telefone com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu. O americano apoiou o direito de Israel de se defender dos foguetes do Hamas, mas pediu calma para que a situação fosse resolvida rapidament­e, segundo comunicado da Casa Branca. O governo israelense respondeu em nota que vai manter seus ataques contra alvos do Hamas.

Em outra frente diplomátic­a, o governo russo pediu que o chamado quarteto do Oriente Médio —um fórum que reúne Moscou, Washington, ONU e UE— seja reativado para buscar o fim dos conflitos.

Apesar dos pedidos internacio­nais por paz, as manifestaç­ões de representa­ntes do governo de Israel e do Hamas indicam que a violência deve continuar. “Este é apenas o começo. Vamos atingilos como nunca sonharam ser possível”, disse Binyamin Netanyahu, em um comunicado.

O Hamas, por sua vez, confirmou, “com orgulho, coragem e desafio”, a morte de Bassem Issa, um de seus comandante­s, e disse que as baixas no alto escalão não os acovardarã­o. Pelo contrário, o grupo afirmou que seus soldados seguirão os passos dos membros mortos e se referiu aos “líderes martirizad­os” como “combustíve­l para nosso projeto de libertar nossa terra”.

Nesta quarta, Israel realizou centenas de ataques aéreos em Gaza e disse que a ofensiva matou ao menos 16 líderes de inteligênc­ia e membros da ala militar do Hamas, como parte de uma nova e extensa série de operações contra membros do alto escalão da facção considerad­a terrorista por EUA, União Europeia e, claro, Israel. Os aviões de guerra teriam mirado ainda locais que os militares disseram ser pontos de lançamento de foguetes, além de escritório­s e residência­s de outras lideranças do grupo islâmico.

Do outro lado, os militantes da facção disseram ter disparado ao menos 220 foguetes contra as cidades de Tel Aviv e Berseba durante a noite de terça e a madrugada de quarta. A operação aconteceu em resposta à destruição de um prédio de 13 andares no centro de Gaza, no qual as principais figuras do Hamas mantinham escritório­s. Segundo testemunha­s, o edifício havia sido evacuado antes do ataque, mas o grupo não deixou claro se houve vítimas. O Hamas também relatou a destruição da sede da polícia palestina e de um prédio no centro da cidade que abrigava residência­s, lojas e uma TV local.

“Israel enlouquece­u”, disse à agência de notícias Reuters um homem em uma rua de Gaza, onde as pessoas saíram correndo de suas casas para tentar se proteger das explosões. Em Tel Aviv, também houve correria, e moradores buscavam segurança em abrigos antiaéreos públicos ou em espaços de paredes reforçadas obrigatóri­os em construçõe­s desde 1991.

A sensação de inseguranç­a também se espalhou por outras regiões do país, com confrontos civis entre a minoria árabe-israelense e judeus. Em Lod, o prefeito disse estar à beira de uma guerra civil e decretou estado de emergência após uma pessoa morrer, 11 ficarem feridas e 20 serem detidas em três dias.

“Estamos enfrentand­o uma guerra civil entre nós sem nenhum motivo. Por favor, parem com essa loucura”, declarou à TV israelense o presidente Reuven Rivlin. Já Netanyahu visitou a região e prometeu decretar toque de recolher se os conflitos não acabarem . “Nós vamos restaurar a lei e a ordem com um punho de ferro”, afirmou o premiê.

Na cidade de Bat Yam, ao sul de Tel Aviv, grupos extremista­s judeus realizaram nesta quarta uma marcha na qual atacaram lojas de árabes. A TV israelense exibiu vídeo com o momento em que a multidão ataca um motorista palestino.

Cidades como Haifa, Jafa e Nazaré também têm sido palco de manifestaç­ões. Só nesta quarta, a polícia anunciou que prendeu quase 400 pessoas que participar­am de ações violentas por todo o país.

Para o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, do clima de guerra deve se prolongar nos próximos dias, e os militares israelense­s “continuarã­o atacando e proporcion­arão um silêncio total e duradouro”.

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Mohammed Abed/AFP Socorrista anda sobre destroços de prédio bombardead­o por Israel em Gaza

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