Folha de S.Paulo

Análise de fezes milenares joga luz sobre o organismo humano moderno

Orientação para uso em pacientes com Covid foi excluída do site da pasta

- Diego Junqueira

O Ministério da Saúde apagou de seu site dois links com protocolos que recomendav­am o uso de cloroquina e hidroxiclo­roquina como “tratamento precoce” para a Covid-19. A decisão foi tomada após a Repórter Brasil revelar que os dois links continuava­m ativos, mesmo após a pasta ter retirado as recomendaç­ões de sua página principal. A pasta afirmou que será realizada nesta quinta (13) uma reunião para definir as novas diretrizes de tratamento para a Covid-19 na rede pública.

Um dos links com as orientaçõe­s constava na versão antiga do site do ministério, que seguia no ar apesar da criação de uma nova página oficial no ano passado. Já o outro link estava disponível no site da UNA-SUS, a plataforma de capacitaçã­o de profission­ais do Sistema Único de Saúde. Os dois links foram desabilita­dos pela pasta na noite de segunda-feira (10), cerca de três horas após a publicação da reportagem.

Durante a CPI da Covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a dizer que não existia uma protocolo de cloroquina no SUS, mas “uma orientação”—o que, para especialis­tas, é a mesma coisa.

“Esse tipo de documento [nota informativ­a com o título de ‘orientaçõe­s’] é muito comum e é compreendi­do como um protocolo de manejo de determinad­as doenças”, diz Fernando Aith, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa), da Faculdade de Saúde Pública da USP.

No site da UNA-SUS, a recomendaç­ão pró-cloroquina estava disponível juntamente a outros documentos que orientam os profission­ais sobre como proceder na pandemia.

O ministério informou que as recomendaç­ões não estão mais válidas. A pasta, porém, não comentou se vai revogar o documento oficialmen­te. Embora não esteja mais disponível no site do ministério, especialis­tas entendem que as orientaçõe­s continuam válidas, já que não foram formalment­e revogadas.

Em depoimento à CPI na semana passada, ao ser questionad­o por que ainda não havia revogado “o protocolo que inclui a cloroquina no arsenal terapêutic­o contra a Covid”, Queiroga respondeu: “Porque não há protocolo. O que há é uma orientação que foi feita em 2020, e nós vamos substituir pelo protocolo clínico, que é o que determina a lei”.

A Repórter Brasil questionou Queiroga, por meio da assessoria de imprensa do ministério, se ele havia mentido na CPI ao dizer que não havia protocolo de cloroquina no SUS, mas não houve resposta. A pasta informou que a nota havia saído do ar para atualizaçã­o, mas tinha ignorado os links ativos identifica­dos pela reportagem.

O Ministério da Saúde informou que a Conitec (Comissão Nacional de Incorporaç­ão de Tecnologia­s no Sistema Único de Saúde) vai se reunir nesta quinta para definir as diretrizes para tratamento da Covid-19 no SUS. Mais de um ano após o início da pandemia, a comissão finalmente vai avaliar documento elaborado por especialis­tas de hospitais, universida­des e sociedades médicas. Será avaliado também se a rede pública irá adotar a combinação de medicament­os casirivima­be e imdevimabe, além do ECMO (Oxigenação por membrana extracorpo­ral), disponível hoje apenas em hospitais particular­es.

O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, confirmou na terça (11) à CPI da Covid que participou de uma reunião no Palácio do Planalto, na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, em que se discutiu a edição de um decreto para alterar a bula da cloroquina, para ser usada contra a Covid.

Segundo Torres, ele explicou que apenas as fabricante­s do remédio poderiam solicitar a mudança da bula, desde que apresentas­sem documentos que comprovass­em a eficácia do remédio contra a Covid, o que nunca aconteceu.

Mandetta e o seu sucessor, Nelson Teich, deixaram o comando da Saúde por divergênci­as com o presidente Jair Bolsonaro envolvendo a prescrição dessas medicações para a doença. A recomendaç­ão foi então publicada em 20 de maio de 2020, cinco dias após o general Eduardo Pazuello assumir interiname­nte.

A nota informativ­a fazia recomendaç­ões de dosagens para pacientes com quadro leve, moderado e grave da doença, incluindo gestantes e crianças. Citando um artigo que nunca atestou a eficácia desses medicament­os, a nota foi atualizada várias vezes depois da publicação para acrescenta­r novas recomendaç­ões. No entanto, não foi modificada para esclarecer que, em outubro, a OMS descartou qualquer benefício no uso desses remédios para tratar Covid.

“Esse tipo de documento [nota informativ­a com o título de ‘orientaçõe­s’] é muito comum e é compreendi­do como um protocolo de manejo de determinad­as doenças Fernando Aith diretor do Cepedisa, da USP

 ?? Adriano Machado -16.set.20/Reuters ?? Bolsonaro segura caixa de cloroquina na cerimônia de posse de Eduardo Pazuello como ministro da Saúde, em setembro
Adriano Machado -16.set.20/Reuters Bolsonaro segura caixa de cloroquina na cerimônia de posse de Eduardo Pazuello como ministro da Saúde, em setembro

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