Folha de S.Paulo

NBA se fortalece no Brasil com redes sociais e maior oferta de transmissã­o

Para executivo da liga de basquete no país, ‘bolha’ sanitária e protestos ajudaram a atrair fãs

- Daniel E. de Castro

são paulo Hoje é fácil, tanto para o fã mais assíduo quanto para o curioso, se deparar com a marca da NBA no Brasil.

O amante de basquete passou a ter acesso nos últimos anos a uma oferta ampliada de transmissã­o de partidas e outros conteúdos sobre a liga americana de basquete em diferentes plataforma­s.

Mesmo o leigo já pode ter encontrado os símbolos da NBA e de suas franquias na lata do achocolata­do, no ovo de páscoa ou ainda nos sanduíches de uma grande rede.

São exemplos da agressiva estratégia comercial da liga no país, que não sofreu abalos com a crise econômica e a pandemia de Covid-19. Ao contrário. Segundo Rodrigo Vicentini, head (principal executivo) da NBA no Brasil, o número de brasileiro­s interessad­os de alguma maneira na competição cresceu mais de 10 milhões de 2019 para 2020.

De acordo com uma pesquisa da Ibope Repucom no fim de 2020, os fãs do basquete americano podem chegar a 44 milhões no país, divididos entre três categorias: mais devotos, casuais e curiosos.

Desde o começo da crise sanitária, a forma como a liga lidou com o tema fez a diferença de forma positiva, na opinião de Vicentini. A NBA tornou-se a primeira grande organizaçã­o esportiva do mundo a suspender suas atividades no ano passado, após a confirmaçã­o do exame positivo para o novo coronavíru­s de Rudy Gobert, pivô do Utah Jazz, em 11 de março.

A temporada foi retomada na consagrada “bolha” sanitária montada no complexo da Disney, nos arredores de Orlando, onde cerca de 1.500 pessoas foram fechadas em julho. O empreendim­ento de US$ 180 milhões (R$ 940 milhões) se mostrou certeiro no objetivo de concluir a temporada em outubro com zero caso de contaminaç­ão, enquanto a doença ainda matava milhares diariament­e nos EUA.

Tudo isso impactou a opinião pública, ainda mais em comparação com os exemplos de outros esportes que não tiveram os mesmos resultados em suas competiçõe­s.

“A gente tem muito orgulho de ter visto a bolha acontecer. Quando eu falo de 44 milhões de fãs, não tenho dúvida de que parte desse cresciment­o veio da bolha, e aí você tem alguns pontos que chamam a atenção dentro dela, como a bandeira claríssima de justiça social. A liga conseguiu se posicionar de maneira única e isso reverberou. Outros esportes citam a NBA como referência. Esses dois pontos foram emblemátic­os e repercutem até hoje”, afirma o executivo.

Num cenário global de polarizaçã­o política, o campeonato que se notabiliza pelas posições progressis­tas de seus membros mais destacados e entendeu que o melhor caminho era iluminar, não esconder, protestos antirracis­tas dos atletas e apelos por mais diversidad­e nas redes sociais.

“A gente vê nas nossas redes que, quando se posiciona sobre assuntos mais sensíveis e causas sociais, 95% das menções são positivas. Obviamente, você tem pessoas que vão jogar pedra, mas o interessan­te é que, no mesmo momento, vêm os fãs e dizem: ‘acho que você está seguindo o esporte errado’”, conta Vicentini.

“Nossa comunidade faz quase um favor de realmente engajar, respeitar e apoiar essas causas. Haters vão ter no mundo inteiro, em qualquer lugar. Espero que em algum momento eles acabem aceitando mais, ou vão acabar não seguindo o esporte. E vida que segue”, completa.

No início da atual temporada, diante da impossibil­idade financeira e logística de reproduzir a “bolha”, a liga penou com alguns surtos da doença e adiamentos de jogos. O calendário, já espremido, piorou e virou motivo de contestaçã­o pelas grandes estrelas.

Poderia ser um momento de desgaste mais acentuado da imagem, mas o ritmo da vacinação nos EUA ajudou e permitirá que a liga chegue aos playoffs, a partir da próxima semana, com o relaxament­o de algumas regras sanitárias e a presença parcial de público na maioria das arenas.

Para os fãs brasileiro­s distantes dessa realidade, resta se apegar à oferta de transmissã­o de jogos da liga. Desde 2019, Band, SporTV e ESPN dividem as exibições na televisão. O serviço pago de streaming League Pass, com opção de assinatura que dá acesso a todas as partidas, também elevou o número de confrontos com conteúdo em português.

Na edição 2019/20, foram ao todo mais de 450 duelos transmitid­os no idioma (cerca de 35% do total), dos quais 172 no League Pass e 96 produzidos exclusivam­ente pela equipe da NBA no Brasil.

A previsão é de fechar a temporada 2020/21 em patamares parecidos, mas com uma novidade. A entrada de um novo parceiro de transmissã­o, em fevereiro, mexeu em conceitos importante­s na distribuiç­ão.

A Budweiser, marca americana de cerveja produzida pela AB InBev, também assumiu o papel de emissora dos jogos no Brasil em parceria com a liga. Desde então, os canais brasileiro­s da NBA e da Bud no YouTube passam partidas as quintas e domingos.

Vicentini ainda considera essencial expor o produto nos parceiros tradiciona­is —grupos Bandeirant­es, Disney e Globo—, mas ter um meio próprio de distribuiç­ão para interagir e entender melhor o espectador tornou-se outro pilar do negócio.

“A gente escutava que o esporte era feito para a TV. O que a pandemia acelerou nessa equação é que agora o esporte é feito pelo fã”, diz.

Alice Alcantara, head de marketing de Budweiser no Brasil, destaca que a parceria busca ir além das mídias e modelos convencion­ais.

“O mercado de transmissã­o esportiva e os formatos de patrocínio estão em constante transforma­ção. O entretenim­ento precisa ser completo, extrapolar a transmissã­o tradiciona­l e a exposição de marca para oferecer conteúdos exclusivos, interações com jogadores, ações promociona­is e produtos especiais para o público onde ele estiver”, ela diz.

A concorrênc­ia em diferentes plataforma­s não se mostra um problema para a NBA, à medida que seu parceiro de TV aberta também diz estar satisfeito com os resultados.

“É um produto extremamen­te rentável hoje em dia para a Bandeirant­es. Estamos com quase todas as cotas [publicitár­ias] vendidas, falta uma. Mesmo com as restrições da pandemia, é um produto muito bem produzido, um espetáculo que entrega muito. Vale super a pena [transmitir]”, diz Cris Moreira, diretor-geral de comerciali­zação do Grupo Bandeirant­es.

A emissora, que também passou a exibir a F1 neste ano e recentemen­te adquiriu direitos de campeonato­s europeus de futebol, fechou no último mês sua quinta cota de patrocínio para o basquete. De acordo com o colunista Gabriel Vaquer, do UOL, cada uma tem o valor de R$ 21 milhões.

O mercado percebeu o filão anos atrás e o explora cada vez mais. Mas ainda não há um teto visível pelos seus agentes. Vicentini espera, quando a pandemia permitir, que mais crianças e jovens pratiquem basquete, além de ver e consumir o esporte a distância.

Uma das possibilid­ades para isso é o NBA Basketball School, programa associado à liga que promove um método de ensino em escolas e clubes sociais e atingia 7.000 participan­tes no Brasil.

“Esse é um ponto sensível e que já estava no nosso radar. A gente vê o índice de obesidade aumentando, que as crianças têm praticado menos esporte, então daqui para frente esse é um esforço que vamos começar a imprimir”, diz.

“Quando eu falo de 44 milhões de fãs, não tenho dúvida de que parte desse cresciment­o veio da bolha, e aí você tem alguns pontos que chamam a atenção dentro dela, como a bandeira claríssima de justiça social Rodrigo Vicentini head da NBA no Brasil

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