Folha de S.Paulo

Pedido de investigaç­ão de ministro enfraquece o Supremo

- Carolina Brígido

BRASÍLIA | uol A chance de Dias Toffoli ser condenado —ou, antes disso, de responder a uma ação penal— é praticamen­te nula. Ainda assim, o estrago na imagem do Supremo está feito. Ministros avaliam que o pedido da Polícia Federal para investigá-lo prejudica não só ele, mas a corte como um todo. O momento é delicado para o STF e o Judiciário. Há dois anos, intensific­aramse os ataques nas redes sociais e em protestos contra ministros da corte. As críticas ensejaram a abertura do polêmico inquérito das fake news, que resultou em dezenas de investigaç­ões nos estados contra pessoas que atacaram o tribunal. Iniciada a pandemia, voltaram à tona os ataques ao STF —dessa vez, patrocinad­os pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. A crítica principal foi à decisão que legitimou medidas tomadas não apenas pela União, mas por estados e municípios para conter o coronavíru­s. Bolsonaro adotou a narrativa de que o Supremo proibiu o governo federal de agir —e, portanto, a culpa pelas mortes seria dos estados. Na semana passada, Bolsonaro abriu nova frente nos conflitos com o Supremo. Prometeu editar um decreto para garantir o “direito de ir e vir” e, em recado ao STF, disse que o ato não seria “contestado por nenhum tribunal”. Diante dos ataques vindos do governo, o ministro Edson Fachin abraçou a missão de defender o tribunal publicamen­te —um papel antes exercido por Celso de Mello, aposentado em outubro do ano passado. Em declaraçõe­s à imprensa, Fachin tem alertado para o risco de golpe e falado dos males do populismo. O próprio Fachin foi alvo dos ataques do presidente. Em março, quando anulou condenaçõe­s impostas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro disse que Fachin “sempre teve forte ligação com o PT”. A investigaç­ão da PF contra Toffoli enfraquece a defesa do tribunal. Os críticos da corte acabaram de ganhar mais munição. E, dessa vez, a munição é pesada. A PF diz que fez uma validação prévia das informaçõe­s prestadas em delação premiada pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral. A suspeita é que Toffoli recebeu propina. Para uma investigaç­ão ser transforma­da em inquérito no STF, é preciso que o procurador-geral da República, Augusto Aras, concorde com isso. É pouco provável que Aras peça a abertura de inquérito contra Toffoli. Não é do perfil dele comprar uma briga desse tamanho com a corte. Ainda assim, a PF tem uma arma para criar ainda mais incômodo à corte: é possível recorrer, com o argumento de que o inquérito pode ser aberto apenas com o pedido da polícia, sem o aval da PGR (Procurador­ia-Geral da República). O Supremo, então, teria de discutir essa tese em plenário. Ainda que o inquérito não seja aberto, a discussão é um caminho para expor mais o Supremo —e, dessa forma, deixá-lo ainda mais vulnerável.

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