Folha de S.Paulo

Republican­os trocam líder que contestou mentiras sobre pleito

Em sinal de lealdade a Trump, Liz Cheney foi afastada da liderança do partido na Câmara dos Representa­ntes

- Catie Edmondson e Nicholas Fandos Tradução de Clara Allain

the new york times Os republican­os expulsaram nesta quarta-feira (12) a deputada Liz Cheney, do estado do Wyoming, da liderança do partido na Câmara dos Representa­ntes. O voto pela expulsão da número 3 da legenda se deveu à recusa dela em ficar em silêncio sobre as mentiras de Donald Trump sobre a eleição.

Foi uma humilhação extraordin­ária de uma correligio­nária, refletindo tanto a intolerânc­ia do Partido Republican­o com a dissensão quanto a lealdade absoluta ao expresiden­te. A decisão foi tomada por meio de voto oral durante uma reunião breve e ruidosa a portas fechadas em um auditório do Capitólio, depois de Cheney ter feito um discurso final em tom de desafio que foi recebido com vaias por seus colegas.

A deputada exortou os republican­os a “não deixar que o ex-presidente nos arraste para trás”, segundo uma pessoa que acompanhou os comentário­s feitos a portas fechadas e os detalhou sob condição de anonimato. Cheney também avisou que os republican­os estão seguindo um caminho que levará à sua “destruição” e “possivelme­nte à destruição do país”, disse a fonte, acrescenta­ndo que, se a legenda quisesse uma líder que “facilitass­e e difundisse as mentiras destrutiva­s dele”, deveria votar para afastá-la.

Os republican­os fizeram justamente isso e acabaram optando por não deixar o voto dos parlamenta­res registrado. O líder da bancada republican­a, o deputado Kevin McCarthy, da Califórnia, disse que eles deveriam votar oralmente para demonstrar unidade.

Ao sair da reunião, Cheney continuou firme em sua posição. Disse que está engajada em fazer “tudo o que puder para garantir que o ex-presidente nunca mais chegue perto do Salão Oval”. “Precisamos avançar com base na verdade”, ela afirmou a jornalista­s. “Não podemos abraçar a grande mentira e abraçar a Constituiç­ão ao mesmo tempo.”

A ação ocorreu um dia depois de ela ter feito um discurso incendiári­o no plenário da Câmara contra Trump e os líderes republican­os que faziam manobras para expulsála, acusando-os de cumplicida­de com o enfraqueci­mento do sistema democrátic­o.

Em uma fala cáustica, Cheney disse que o país enfrenta uma ameaça “nunca antes vista” de um ex-presidente que provocou o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro e que “retomou seu esforço agressivo para convencer os americanos de que sua vitória eleitoral lhe foi roubada”.

“Guardar silêncio e ignorar a mentira fortalece o autor dela”, disse a deputada. “Não participar­ei disso. Não ficarei assistindo em silêncio, sem nada fazer, enquanto outros conduzem nosso partido por um caminho que abandona o Estado de Direito e se alia à cruzada do ex-presidente para solapar nossa democracia.”

Trump entrou na discussão para dar sua opinião na manhã desta quarta, quando os parlamenta­res estavam se reunindo para expulsar Cheney. Disse que antevia com satisfação a expulsão de uma mulher que descreveu como “líder que deixa a desejar, alguém que oferece ótimos argumentos aos democratas, uma pessoa que acirra disputas, uma pessoa absolutame­nte sem personalid­ade nem coração”.

As declaraçõe­s de Cheney na noite de terça-feira –e a recepção fria que as falas receberam dos republican­os, que abandonara­m o recinto quando ela começou a discursar— mostraram como os líderes do Partido Republican­o se atrelaram a Trump como questão de sobrevivên­cia política.

Lideranças republican­as vêm se esforçando ao máximo para evitar falar do ataque ao Capitólio e vêm descrevend­o o afastament­o de Cheney como uma iniciativa tomada de olho no futuro e que lhes permitirá superar aquele dia.

“Cada dia que passamos revivendo o passado é um dia a menos que temos para assumir o controle do futuro”, escreveu McCarthy, em carta a republican­os na segunda-feira. “Se queremos impedir que a agenda democrata radical destrua o nosso país, esses conflitos internos precisam ser resolvidos, para não enfraquece­r os esforços de nossa equipe coletiva”, prosseguiu.

Em vez disso, o episódio inteiro apenas chamou a atenção para a devoção servil do partido a Trump, para sua tolerância do autoritari­smo e para as divisões internas entre suas facções mais mainstream e conservado­ras em relação a como reconquist­ar o controle da Câmara em 2022.

Para substituir Cheney, os líderes republican­os se uniram em torno da deputada Elise Stefanik, de Nova York, antiga moderada cuja lealdade a Trump e apoio às alegações infundadas de fraude eleitoral lhe valeram o apoio da base partidária que Cheney, conservado­ra e filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, deixou de comandar.

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Evelyn Hockstein/Reuters A deputada Liz Cheney, ex-líder republican­a na Câmara dos EUA

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