Republicanos trocam líder que contestou mentiras sobre pleito
Em sinal de lealdade a Trump, Liz Cheney foi afastada da liderança do partido na Câmara dos Representantes
the new york times Os republicanos expulsaram nesta quarta-feira (12) a deputada Liz Cheney, do estado do Wyoming, da liderança do partido na Câmara dos Representantes. O voto pela expulsão da número 3 da legenda se deveu à recusa dela em ficar em silêncio sobre as mentiras de Donald Trump sobre a eleição.
Foi uma humilhação extraordinária de uma correligionária, refletindo tanto a intolerância do Partido Republicano com a dissensão quanto a lealdade absoluta ao expresidente. A decisão foi tomada por meio de voto oral durante uma reunião breve e ruidosa a portas fechadas em um auditório do Capitólio, depois de Cheney ter feito um discurso final em tom de desafio que foi recebido com vaias por seus colegas.
A deputada exortou os republicanos a “não deixar que o ex-presidente nos arraste para trás”, segundo uma pessoa que acompanhou os comentários feitos a portas fechadas e os detalhou sob condição de anonimato. Cheney também avisou que os republicanos estão seguindo um caminho que levará à sua “destruição” e “possivelmente à destruição do país”, disse a fonte, acrescentando que, se a legenda quisesse uma líder que “facilitasse e difundisse as mentiras destrutivas dele”, deveria votar para afastá-la.
Os republicanos fizeram justamente isso e acabaram optando por não deixar o voto dos parlamentares registrado. O líder da bancada republicana, o deputado Kevin McCarthy, da Califórnia, disse que eles deveriam votar oralmente para demonstrar unidade.
Ao sair da reunião, Cheney continuou firme em sua posição. Disse que está engajada em fazer “tudo o que puder para garantir que o ex-presidente nunca mais chegue perto do Salão Oval”. “Precisamos avançar com base na verdade”, ela afirmou a jornalistas. “Não podemos abraçar a grande mentira e abraçar a Constituição ao mesmo tempo.”
A ação ocorreu um dia depois de ela ter feito um discurso incendiário no plenário da Câmara contra Trump e os líderes republicanos que faziam manobras para expulsála, acusando-os de cumplicidade com o enfraquecimento do sistema democrático.
Em uma fala cáustica, Cheney disse que o país enfrenta uma ameaça “nunca antes vista” de um ex-presidente que provocou o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro e que “retomou seu esforço agressivo para convencer os americanos de que sua vitória eleitoral lhe foi roubada”.
“Guardar silêncio e ignorar a mentira fortalece o autor dela”, disse a deputada. “Não participarei disso. Não ficarei assistindo em silêncio, sem nada fazer, enquanto outros conduzem nosso partido por um caminho que abandona o Estado de Direito e se alia à cruzada do ex-presidente para solapar nossa democracia.”
Trump entrou na discussão para dar sua opinião na manhã desta quarta, quando os parlamentares estavam se reunindo para expulsar Cheney. Disse que antevia com satisfação a expulsão de uma mulher que descreveu como “líder que deixa a desejar, alguém que oferece ótimos argumentos aos democratas, uma pessoa que acirra disputas, uma pessoa absolutamente sem personalidade nem coração”.
As declarações de Cheney na noite de terça-feira –e a recepção fria que as falas receberam dos republicanos, que abandonaram o recinto quando ela começou a discursar— mostraram como os líderes do Partido Republicano se atrelaram a Trump como questão de sobrevivência política.
Lideranças republicanas vêm se esforçando ao máximo para evitar falar do ataque ao Capitólio e vêm descrevendo o afastamento de Cheney como uma iniciativa tomada de olho no futuro e que lhes permitirá superar aquele dia.
“Cada dia que passamos revivendo o passado é um dia a menos que temos para assumir o controle do futuro”, escreveu McCarthy, em carta a republicanos na segunda-feira. “Se queremos impedir que a agenda democrata radical destrua o nosso país, esses conflitos internos precisam ser resolvidos, para não enfraquecer os esforços de nossa equipe coletiva”, prosseguiu.
Em vez disso, o episódio inteiro apenas chamou a atenção para a devoção servil do partido a Trump, para sua tolerância do autoritarismo e para as divisões internas entre suas facções mais mainstream e conservadoras em relação a como reconquistar o controle da Câmara em 2022.
Para substituir Cheney, os líderes republicanos se uniram em torno da deputada Elise Stefanik, de Nova York, antiga moderada cuja lealdade a Trump e apoio às alegações infundadas de fraude eleitoral lhe valeram o apoio da base partidária que Cheney, conservadora e filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, deixou de comandar.