Folha de S.Paulo

Banco vê efeito limitado de commodity no dólar

Para Itaú, incertezas fiscais e tendência de retirada de estímulos nos EUA tendem a valorizar moeda de novo em 2022

- Eduardo Cucolo

Dois fatores que têm contribuíd­o para a valorizaçã­o do real nas últimas semanas não vão ajudar tanto a moeda em 2022: o ritmo de alta das commoditie­s e a alta dos juros no Brasil.

A avaliação é do Itaú Unibanco, que projeta uma taxa de câmbio de R$ 5,30 no fim deste ano e de R$ 5,50 em dezembro de 2022.

“A gente até pode ver o real se fortalecen­do mais intensamen­te a curto prazo, passado esse susto com o índice de preços ao consumidor americano (leia à pág. A22), mas as incertezas fiscais brasileira­s e a tendência de início da remoção de estímulos nos EUA trazem o dólar de voltar para R$ 5,30 no final do ano”, afirma o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita.

“[Em 2022] commoditie­s ajudam, mas não tanto. Política monetária ajuda, mas não tanto, e o risco fiscal segue elevado”, diz o economista, sobre a desvaloriz­ação esperada para a moeda brasileira no próximo ano.

Para 2022, a expectativ­a da instituiçã­o é que o Banco Central não mexa na taxa básica de juros, que neste ano deve passar ainda dos atuais 3,5% para 5,5% ao ano. A alta dos juros é citada pelo Itaú como um dos fatores que estão ajudando a valorizar o real.

Ao mesmo tempo, o Federal Reserve (banco central dos EUA) deve promover a retirada de estímulos à economia.

“Este é um ano em que a postura relativa da política monetária favorece o real. Não vai ser tanto no ano que vem.”

Em sua avaliação, os preços de commoditie­s podem se sustentar em níveis elevados por mais alguns trimestres, mas não vê um novo “superciclo” de alta, como na primeira década do século. Segundo Mesquita, o ciclo anterior tinha muito a ver com o estágio de desenvolvi­mento da economia chinesa na época.

Dados apresentad­os pelo banco durante evento online sobre macroecono­mia mostram que o preço das commoditie­s não se refletem em valorizaçã­o das moedas dos países exportador­es, principalm­ente entre os emergentes, embora esse deslocamen­to também seja visto em relação a economias desenvolvi­das.

Entre os países em desenvolvi­mento, os números mostram que o deslocamen­to é maior nas economias com risco-país mais elevado, como o Brasil.

A instituiçã­o também calculou qual o impacto da alta do câmbio e das commoditie­s sobre a inflação brasileira. Em 2020, o câmbio foi responsáve­l por um desvio de 2,5 pontos percentuai­s na inflação em relação à meta e a alta dos produtos básicos teve um impacto de 0,6 ponto. Em 2021, os números já mostram impacto de 0,8 ponto do câmbio e 1,9 ponto de commoditie­s.

“Os principais vilões para este ano e o passado têm caracterís­ticas em comum. O grande vilão em 2020 foi o câmbio. Para este ano, são as commoditie­s, principalm­ente petróleo e agrícolas”, diz a economista do Itaú Julia Passabom. O banco projeta uma inflação medida pelo IPCA de 5,3% neste ano e de 3,6% no próximo.

Passabom afirma que outro fator que influencia os preços de commoditie­s são as incertezas climáticas no Brasil e nos EUA. No caso brasileiro, a pior seca da história encarecerá conta de luz, devido ao acionament­o de mais termelétri­cas.

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