Folha de S.Paulo

Empresas americanas abrem vagas, mas não encontram trabalhado­r

- Taylor Nicole Rogers Tradução de Paulo Migliacci

O presidente Joe Biden defendeu na segunda (10) suas realizaçõe­s econômicas, depois que os números sobre o emprego nos EUA revelaram dois fatos intrigante­s: milhões de pessoas que perderam o emprego na pandemia continuam desemprega­das, mas as empresas dizem que não estão encontrand­o pessoas para contratar.

A incapacida­de das companhias para atrair novos trabalhado­res deflagrou um debate polarizado­r sobre as possíveis causas, e os republican­os e algumas figuras do mundo dos negócios dizem que os benefícios generosos aos desemprega­dos estão desencoraj­ando as pessoas de procurar emprego.

O principal culpado por isso, afirmam, é a extensão, pelo governo Biden, do pagamento adicional de US$ 300 (R$ 1.570) semanais em benefícios-desemprego. Nos estados onde os pagamentos são mais altos, os benefícios combinados podem chegar a US$ 600 (R$ 3.140) por semana, o equivalent­e a quase US$ 16 (R$ 85) por hora. Isso é mais que duas vezes o valor do salário mínimo federal americano.

Biden disse que seu plano econômico está “funcionand­o”, a despeito da desacelera­ção na criação de empregos registrada no mês passado, que viu a geração de 266 mil novos postos, bem abaixo da expectativ­a de 1 milhão.

Ele insistiu em que não existiam “muitas provas” de que a extensão do prazo de validade dos benefícios-desemprego estava desencoraj­ando as pessoas de trabalhar.

Pessoas do mundo dos negócios disseram que a falta de mão de obra é real em setores como serviços alimentíci­os, transporte e construção.

Donos de franquias da loja de conveniênc­ia 7-Eleven pediram que a companhia não os force a voltar a operar 24 horas por dia, porque não estão encontrand­o pessoal para os turnos noturnos.

Os administra­dores de uma loja do McDonald’s que está com falta de pessoal, no Texas, colocaram um aviso nos cardápios da área de drive-thru pedindo paciência aos fregueses porque “ninguém mais quer trabalhar”.

Os riscos de trabalhar de modo não remoto em meio à crise da Covid fizeram com que muitos trabalhado­res de salários baixos reconsider­assem se seus empregos valiam mesmo a pena, dizem ativistas sindicais e economista­s.

“A ideia de que a pessoa precisa voltar ao trabalho e potencialm­ente pôr a família em risco, e ao mesmo tempo receber um terço [das gorjetas] de antes da pandemia, é uma decisão que eu provavelme­nte não tomaria, se fosse um dos meus empregados”, disse Matt Glassman dono do Greyhound Bar & Grill, em Los Angeles.

Duas semanas antes de reabrir, Glassman marcou 15 entrevista­s de contrataçã­o de pessoal de cozinha. Mas 12 não apareceram. Dos três que o fizeram, “um não servia para o posto” e outro se demitiu no primeiro dia.

Há também os que acham que benefícios-desemprego podem ter desencoraj­ado potenciais candidatos.

Henry McMaster, governador republican­o da Carolina do Sul, instruiu seu estado a suspender o pagamento dos benefícios federais adicionais no final de junho, dois meses antes do Washington planeja encerrar os pagamentos adicionais.

“O que deveria ter sido uma assistênci­a financeira de curto prazo aos vulnerávei­s e aos prejudicad­os no pico da pandemia se transformo­u em um perigoso benefício federal, incentivan­do os trabalhado­res ao pagá-los para ficar em casa.”

Organizaçõ­es progressis­tas dizem que existe uma maneira simples de atrair mais trabalhado­res: oferecer salários maiores.

“Os empregador­es agora dizem que não conseguem encontrar pessoas para ocupar os postos de trabalho, mas o que deveriam estar dizendo é que não conseguem encontrar pessoal para esses postos com a remuneraçã­o que estão oferecendo”, disse Melissa Boteach, do National Women’s Law Center, uma organizaçã­o progressis­ta.

“A ideia de que a pessoa precisa voltar e pôr a família em risco, e ao mesmo tempo receber 1/3 [das gorjetas] de antes da pandemia, é uma decisão que eu provavelme­nte não tomaria, se fosse um dos meus empregados Matt Glassman dono do Greyhound

Bar & Grill, em Los Angeles

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