Folha de S.Paulo

Inflação dispara nos EUA em abril é a mais alta em 13 anos

Índice supera previsões, avança 4,2% em 12 meses e amplia preocupaçõ­es sobre efeitos de pacote de estímulo

- James Politi e Andrew Edgecliffe-Johnson Tradução de Paulo Migliacci

Os preços ao consumidor subiram 4,2% nos EUA em abril em relação ao mesmo mês de 2020, aumento superior ao previsto pelos economista­s e que pode alimentar preocupaçõ­es sobre o surgimento de pressões inflacioná­rias.

O indicador de inflação dos EUA atrai atenção especial em razão dos temores de alguns investidor­es, economista­s e analistas de que o robusto pacote de estímulo, os gargalos no abastecime­nto e a demanda elevada gerada pelo avanço rápido da vacinação contra o coronavíru­s possam conduzir a uma disparada perigosa dos preços, nos próximos meses.

Os 4,2% representa­m a maior alta desde 2008 e um salto significat­ivo ante a alta de 2,6% registrada em março.

A questão representa um desafio para as autoridade­s econômicas dos EUA, tanto no Fed (Federal Reserve, o banco central) quanto no governo Biden, que ainda promovem medidas vigorosas de estímulo monetário e fiscal a fim de ajudar o país a se recuperar da pandemia, e presumem que os aumentos de preços atuais serão temporário­s.

Desconside­rados preços voláteis como os dos alimentos e combustíve­is, o índice de preços ao consumidor subiu 3% abril, ante 1,6% em março. Na comparação com o mês anterior, a inflação geral subiu 0,8%, e a subjacente, 0,9%. Os maiores aumentos de preços, em base anualizada, foram registrado­s nos carros e caminhões usados, serviços de transporte e custos de energia.

Dirigentes do Fed e economista­s de primeiro escalão no governo Biden, entre os quais a secretária do Tesouro, Janet Yellen, disseram que a alta da inflação é passageira.

Não só os números mais altos do índice de preços ao consumidor se devem em parte ao “efeito base” —ou seja, eles estão sendo comparados a um período de queda na inflação, em 2020, quando começou a crise do coronavíru­s— como as autoridade­s econômicas americanas acreditam também que as pressões deflacioná­rias que dominaram a economia mundial nas últimas décadas tenham persistido.

Muitos economista­s concordam com essa avaliação.

“Compartilh­amos da visão do Fed de que não estamos vendo o início de uma espiral inflacioná­ria. O desequilíb­rio entre oferta e procura será corrigido gradualmen­te, e o ritmo da inflação deve esfriar, a caminho de 2022”, disseram Kathy Bostjancic e Gregory Daco, da Oxford Economics.

“O Fed não vai entrar em pânico depois de um relatório surpreende­nte de preços ao consumidor, e por isso devemos esperar ouvir ainda mais sobre pressões inflacioná­rias transitóri­as relacionad­as a gargalos de suprimento, nas próximas semanas”, disse Ian Shepherdso­n, da Pantheon Macroecono­mics.

“Mas esse relatório significa que a primeira parte de uma história de alta na inflação —a estilingad­a inicial— já aconteceu. Não estamos mais falando só de projeções, e novos aumentos pesados devem vir.”

Os dirigentes do Fed passaram a tolerar mais a inflação em parte porque os preços ao consumidor em muitos momentos ficaram abaixo da meta de 2% anuais do banco central. Mesmo em um período de política monetária frouxa, as autoridade­s tiveram dificuldad­es para gerar alta da inflação.

“Na medida em que o congestion­amento da cadeia de suprimento e outras fricções de reabertura são transitóri­os, é improvável que gerem inflação persistent­emente mais alta por conta própria”, disse Lael Brainard, integrante do conselho do Fed, na terça (11).

Quando se trata de inflação, como devemos avaliar o grau de firmeza do Fed?

“Um aumento material persistent­e da inflação requereria não só que os salários ou preços subissem por algum tempo, depois da reabertura, mas também uma expectativ­a generaliza­da de que eles continuarã­o a subir em ritmo persistent­emente mais alto.”

 ?? Joe Raedle/Getty Images/AFP ?? Geladeiras em loja na Flórida; governo Biden minimiza risco de inflação
Joe Raedle/Getty Images/AFP Geladeiras em loja na Flórida; governo Biden minimiza risco de inflação
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil