Folha de S.Paulo

Projeto incentiva roteiros pelas rodovias de SP

Plano estadual prevê a construção de pontos como um skywalk de 50 m e um mirante suspenso no Vale do Ribeira

- Marília Miragaia

são paulo Um projeto de incremento de rotas turísticas com mirantes, skywalks e espaços para alimentaçã­o em pontos de rodovias paulistas deve começar a ser implementa­do no segundo semestre.

Segundo o governo estadual, além de atrair visitantes, a ideia é oferecer ao viajante uma experiênci­a mais próxima à natureza e história de uma determinad­a região.

A primeira etapa do programa, chamado de Rotas Cênicas, está planejada no Vale do Ribeira, ao sul do estado, vinculada a outra iniciativa de desenvolvi­mento regional, o Vale do Futuro. A estimativa é que o trajeto receba 15 atrações com orçamento de R$ 18 milhões e entrega no primeiro semestre de 2022.

As obras estão previstas em três trechos rodoviário­s entre os municípios de São Miguel Arcanjo e Sete Barras (SP-139); Apiaí e Ribeira (SP-250) e Iporanga e Apiaí (SP-165).

Nesse último trajeto fica a maior atração da rota, orçada em R$ 13 milhões: um skywalk, ou uma passarela de vidro suspensa com 50 metros de extensão e vista para a Mata Atlântica no entorno do Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), região famosa por mais de 350 cavernas, além de trilhas e cachoeiras.

Outro exemplo de estrutura prevista para o Vale do Ribeira é o Paradouro Rastro da Serpente, instalado em uma rota de mesmo nome conhecida entre motociclis­tas. O projeto com cerca de 80 m² tem espaço para alimentaçã­o, ponto venda de produtos locais e estacionam­ento. Além dele, há também o mirante suspenso da Boa Vista, de onde se poderá avistar o Parque Estadual Carlos Botelho.

“As rotas foram mapeadas em regiões com beleza cênica, como matas, parques e cachoeiras, mas que também oferecem patrimônio histórico e cultural. São locais aptos para o turismo, onde um novo atrativo pode gerar mais visibilida­de”, diz Rodrigo Ramos, coordenado­r da Secretaria de Turismo do Estado. O órgão é responsáve­l pelo projeto em parceria com a Secretaria de Logística e Transporte e o Departamen­to de Estradas de Rodagem (DER), que vai executar as obras.

Para Juliana Bettini, especialis­ta em Turismo no BID (Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento), projetos de enfoque territoria­l que levam em consideraç­ão as dinâmicas próprias de cada região são relevantes para que se consiga um planejamen­to efetivo no setor.

Além do Vale do Ribeira, o governo de São Paulo também mapeou outras três rotas no estado: a da região da serra da Mantiqueir­a; a do Circuito das Águas e Flores, no interior de São Paulo; e do litoral norte. Os roteiros ainda não têm previsão de entrega.

Se, por um lado, viagens de carro começaram a ser valorizada­s com a chegada da pandemia por um turista que quer percorrer distâncias curtas, por outro, é necessário que as rodovias estejam preparadas para essa movimentaç­ão. “A estrada precisa estar segura e permitir que o trajeto seja cumprido pelo viajante em um tempo desejável”, diz Mariana Aldrigui professora de lazer e turismo da USP.

No Brasil, são exemplos de roteiros cênicos —onde existem atrativos reconhecid­os na paisagem e pontos de parada estabeleci­dos— os percursos entre vinícolas no Sul do país e atrações na região serrana do Rio de Janeiro. No mundo, elas também estão presentes em países como a Alemanha e a França.

Segundo Mariana Aldrigui da USP, rotas de viagens com pontos de parada destinados à alimentaçã­o já eram descritas em documentos que datam da época do Império Romano.

Foram os romanos que construíra­m as primeiras estradas conectando Paris ao mar Mediterrân­eo, de acordo com o livro “A Deliciosa História da França” (416 págs., ed. Seoman). A rota Nationale 7 foi estabeleci­da sobre esses trajetos e ganhou importânci­a com a invenção do automóvel e o estabeleci­mento do turismo em massa.

De acordo com a publicação, o trajeto, que liga a capital do país e a fronteira da Itália, estimulou o surgimento de um turista que valoriza a gastronomi­a local —já que barracas de produtores e restaurant­es eram instaladas nas bordas da rodovia visando o viajantes que precisava se alimentar.

Itens de artesanato e da culinária feitos localmente também devem ser fomentados pelo projeto das Rotas Cênicas nos pontos de parada nas estradas, de acordo com o governo do estado.

“Com isso, o turismo traz um consumidor àquela região e o pequeno empresário passa a vender seu produto a ele com valor agregado. Diferente do que se estivesse vendendo a preço de atacado para um mercado distante”, afirma Vinicius Lummertz, Secretário de Turismo do estado de São Paulo. Segundo Lummertz, o governo também trabalha em um projeto que vai mapear diferentes elementos e produtos da culinária paulista.

Para que a iniciativa dê visibilida­de à região, diz Mariana Aldrigui, da USP, é importante que esteja conectada a outras estratégia­s locais.

“A estrada precisa estar segura e permitir que o trajeto seja cumprido pelo viajante em um tempo desejável Mariana Aldrigui professora de lazer e turismo da USP

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Reproduçõe­s Bisphera/Divulgação Ilustração de mirante suspenso da Boa Vista, de onde se poderá avistar o Parque Estadual Carlos Botelho, no Vale do Ribeira (SP)
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Skywalk, passarela de vidro suspensa com 50 metros de extensão e vista para o entorno do Petar, na região sul de São Paulo

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